Petróleo em máxima de 7 anos tende a dar suporte para alta da gasolina e, consequentemente, margem para as usinas elevarem os preços do etanol no Brasil
A última terça-feira (18) foi de ganhos expressivos para os preços do petróleo, que atingem o maior patamar desde 2014 por conta de tensões geopolíticas em um contexto de perspectiva de oferta já apertada. O petróleo Brent subiu 1,2%, para fechar em US$ 87,51 o barril e o dólar operava quase estável, mas acima de R$ 5,50 na venda. As oscilações expressivas do petróleo e do câmbio influenciam na decisão das usinas de etanol sobre o mix da nova safra 2022/23 (abril-março) de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, que ainda está aberta.
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As preocupações no mercado global por temores de uma possível interrupção no fornecimento de petróleo aumentaram esta semana depois que o grupo houthi do Iêmen atacou os Emirados Árabes Unidos. Ataques no Golfo do Oriente Médio aumentou as hostilidades entre o grupo alinhado ao Irã e uma coalizão liderada pela Arábia Saudita.
Para Louise Dickson, analista sênior de mercados de petróleo da Rystad Energy, “Os danos às instalações petrolíferas dos Emirados Árabes Unidos em Abu Dhabi não são significativos em si, mas levantam a questão de ainda mais interrupções no fornecimento na região em 2022”, disse.
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A petroleira dos Emirados Árabes Unidos disse que ativou planos de continuidade de negócios para garantir o fornecimento ininterrupto de produtos a seus clientes locais e internacionais após um incidente em seu depósito de combustível em Mussafah.
Preço do petróleo nesse nível, coloca em risco o processo de desinflação global prevista para este ano
As crescentes tensões geopolíticas entre Ucrânia e Rússia (membro da Opep+) também foram ‘causadores’ no aumentando do preço do Brent.
Além disso, alguns produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão lutando para bombear em suas capacidades permitidas sob um acordo com a Rússia e aliados para adicionar 400 mil barris por dia a cada mês.
“O preço do petróleo nesse nível, coloca em risco o processo de desinflação global prevista para este ano. A tendência é impulsionada pela forte demanda nas maiores regiões consumidoras do mundo, como EUA e Europa, e está acontecendo apesar da sinalização do Fed de uma política monetária mais apertada à frente. A tensão renovada no Golfo Pérsico, responsável por cerca de 40% do petróleo transoceânico no mundo, também contribui para pressionar os preços”, avalia a equipe de análise da XP.
Petróleo em máxima de 7 anos, tende a dar suporte para os preços da gasolina e, consequentemente, margem para as usinas elevarem o biocombustível no Brasil
Para Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado, “O petróleo tende a se manter elevado. As usinas vão ter um motivo a mais para concentrar o mix no etanol”, afirma.
A equipe do banco Goldman Sachs, inclusive, já projeta que os preços do petróleo Brent podem superar os R$ 100 o barril ainda neste ano, considerando um “déficit surpreendentemente grande”, já que há um cenário de demanda com a ômicron menos fragilizado do que se pensava inicialmente.
O petróleo mais alto no cenário internacional tende a dar suporte para os preços da gasolina e, consequentemente, margem para as usinas elevarem os preços do etanol no Brasil, já que é o substitutivo direto. Mas, apesar de um possível aumento da demanda nesse cenário, o consumidor também olha a paridade entre os combustíveis.
Na média do Brasil, etanol está há meses com o nível acima de 70% de com a gasolina
Ainda nesse contexto, em meio queda nos preços internacionais do açúcar nos últimos meses, saindo de US$ 20 para US$ 18 c/lb na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), as usinas podem rever o mix da nova safra. A Safras & Mercado, por exemplo, já projeta um direcionamento da produção para o açúcar de 46% e de 54% para o etanol no Centro-Sul.
A estimativa é de que o Centro-Sul produza 35 milhões de toneladas de açúcar e exporte 33 milhões de toneladas. Ainda na nova safra, devem sem produzidos 19 bilhões de litros de etanol hidratado e 12 bilhões de litros de anidro.
A produção do anidro de milho deve ficar em 1,8 bilhão de litros e de hidratado saltar para 2,7 bilhões de litros.
O consumo de combustíveis, porém, ainda preocupa muito as usinas desde o início da pandemia da Covid-19. O etanol, por exemplo, está há meses com o nível de paridade acima de 70% frente a gasolina, na média do Brasil, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“A demanda está no mínimo do mínimo. A gente regrediu pelo menos uns 10 anos em padrão de demanda… Então as usinas devem estar um pouquinho mais focadas para o açúcar, mas é claro que elas não vão chegar e virar toda a chave para o açúcar até porque eles não querem aquela pressão por parte do governo de queda na mistura”, pontua Muruci.