Alguns setores que criticam o novo modelo de negócios da Petrobras são ideológicos estatizantes e não condiz com o interesse da estatal e do Brasil, diz Prof. Cleveland M. Jones
Com relação ao recente artigo na Click Petróleo e Gás (Click Petróleo e Gás, 2020) que apresenta críticas à política de desinvestimentos da Petrobras, inclusive alegando que ela poderia transformar o Brasil numa “Nigéria”, é importante separar o posicionamento ideológico estatizante de alguns setores, contrários a qualquer desinvestimento da Petrobras, de uma avaliação das estratégias e táticas empresariais que promovem os interesses da Petrobras e da nação.
De fato, apesar dos interesses do Brasil e da Petrobras não serem idênticos e não coincidirem em todos os aspectos, já que a Petrobras não é uma empresa 100% estatal, há muitos pontos de convergência.
Entre eles, o mais importante é que o sucesso da Petrobras beneficiará o Brasil e os brasileiros, já que a União é a maior acionista da empresa. Os comentários citados no artigo ignoram a realidade do mercado, que reconhece o acerto da política e das ações de desinvestimento da Petrobras, produzindo enorme valorização recente de suas ações, inclusive em relação às outras majors da indústria de O&G.
- EUA derruba Petróleo abaixo de US$ 80 com opções sombrias para 2025, em queda de 5% hoje
- Petrobras acabou de confirmar! A gigante brasileira do petróleo vai abrir um escritório na China ainda este ano, marcando um retorno estratégico ao país asiático
- O preço do petróleo vai disparar: Estados Unidos compra 6 milhões de barris para se proteger da crise!
- Empresa de petróleo e gás retoma exploração de área no Brasil com 200 MILHÕES e 500 vagas de empregos após 20 anos! Estudos da Petrobras e de universidades mostram que área pode ser fértil para explorações bem sucedidas
Leia mais sobre a Petrobras
- Petrobras traça plano de revitalização da Bacia de Campos e garante a sobrevida das operações offshore em Macaé
- Petrobras terá que fazer modificações estruturais no FPSO P-71
- Privatização Petrobras: Raízen e a dona dos postos Ipiranga – Ultra, disputam por refinarias no Paraná e Rio Grande do Sul
- Empresa do ES é escolhida pela Petrobras para receber investimento milionário de solução tecnológica
- Em Sergipe, Petrobras avança com a venda de 3 mil poços de petróleo, 17 estações de tratamento de óleo, estação de gás, Terminal Aquaviário, gasodutos e oleodutos
Outra realidade no Brasil é que não há como substituir a experiência e o conhecimento da Petrobras com uma empresa estatal, administrada e dirigida por burocratas em Brasília. O que se pode esperar é que o governo permita que a Petrobras desempenhe seu papel como empresa petrolífera, e que a União, em prol dos interesses da nação, estabeleça políticas na área da energia e do petróleo, que direcionem as ações de todos os players no Brasil para os objetivos desejados.
Por outro lado, seria absurdo imaginar que a Petrobras busca objetivos que prejudicarão o desenvolvimento dos recursos petrolíferos que controla. Certamente, a Petrobras busca otimizar seu desempenho no desenvolvimento desses recursos. Entretanto, tapar o sol com uma peneira, e negar as pressões a que es empresas globais estão sujeitas, não ajuda em nada a enfrentarmos o novo cenário global da indústria de O&G.
Devemos, sim, prezar pela eficiência operacional da Petrobras e pelo seu sucesso e bom desempenho como empresa. O bom posicionamento estratégico do Brasil, em relação às demais regiões petrolíferas do mundo foi objeto de artigo recente (Jones, 2020), em é destacada a enorme vantagem do Brasil. Essa vantagem não deve ser desperdiçada ou desfeita por políticas populistas que prejudiquem a possibilidade de o Brasil aproveitar os bons ventos que sopram em nossa direção, no cenário global de O&G.
Um dos maiores riscos a que o Brasil está sujeito, e que os entrevistados citados no artigo não parecem compreender, é justamente desacelerar o ritmo do desenvolvimento dos imensos recursos petrolíferos brasileiros, obrigando a maior empresa do setor a operar de forma a prejudicar seu desempenho ótimo. Os recursos petrolíferos apenas do pré-sal, onde a Petrobras está acertadamente focando seus esforços, foram calculados em 176 a 273 bilhões de barris de óleo equivalente recuperáveis (Jones & Chaves, 2015). Caso o Brasil não consiga aumentar rapidamente sua produção de petróleo, há grandes chances de boa parte desses recursos permanecerem onde estão, sem serem produzidos e sem gerar riqueza e benefícios para os brasileiros.
Seria necessário que a produção brasileira aumentasse para algo como 10 milhões de bopd, e se mantivesse nesse nível até o final do século, somente para produzir essa riqueza do pré-sal, sem considerar as demais áreas petrolíferas brasileiras. Entretanto, o fim da era do petróleo ameaça as chances de a demanda por petróleo perdurar até então, e de qualquer forma, estamos muito longe de atingir esses níveis de produção.
O Brasil precisa, portanto, estimular sua produção de petróleo. A melhor forma de alcançar esse objetivo é deixar que a Petrobras otimize seu desempenho, focando nas áreas de maior potencial, como águas profundas e o pré-sal, em que tem demonstrada expertise. Nem que quisesse atuar em mais frentes, a Petrobras não dispõe do capital necessário para trabalhar sequer em todas as áreas que detém. A política nacional na área do petróleo deve ser orientada para criar condições que atraiam empresas de O&G nacionais e estrangeiras, e seu capital, para investirem no desenvolvimento das áreas petrolíferas do Brasil, inclusive aquelas em que a Petrobras decidiu não investir. E deixar que cada uma busque o melhor desempenho possível.
Sobre o Prof. Cleveland M. Jones
Prof. Cleveland M. Jones, DSc. possui graduação em Física e Economia (Cornell University, Ithaca, NY, EUA, 1974), pós-graduação em Engenharia de Petróleo e Gás Natural (UERJ – 2007), e mestrado (2009 – análise de bacias e faixas móveis) e doutorado (2014 – MEOR – Microbial Enhanced Oil Recovery) em Geologia pela UERJ. Atualmente é pesquisador do INOG (Instituto Nacional de Óleo e Gás – INCT/CNPq). É consultor internacional autônomo, prestando serviços no Brasil e no exterior para Ministérios Públicos e empresas multinacionais e de petróleo. É membro da Geosciences Advisory Board da NXT Energy Solutions Inc., do Canadá. Tem experiência na área de Energia, Saneamento, Desenvolvimento Sustentável, e Auditoria e Avaliação Ambiental. Foi fundador e diretor de diversas empresas ambientais e de biotecnologia, e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Gestão Ambiental (FUNCEFET-RJ). Atua principalmente nos seguintes temas: geopolítica do petróleo e energia, avaliação de recursos energéticos (yet-to-find-oil), biotecnologia aplicada (bioaumentação, biorremediação e MEOR), diagnósticos socioambientais, tratamento de efluentes e resíduos sólidos, e carcinicultura. Palestrante frequente e autor de diversos artigos sobre recursos energéticos, meio ambiente e biotecnologia aplicada. Fluente em português, inglês e espanhol. Membro de várias entidades profissionais no Brasil e no exterior, e membro da Mensa Brasil. Atualmente envolvido na avaliação do potencial de novas descobertas no pré-sal brasileiro e com estudos da geopolítica do petróleo.
Currículo completo: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4744604Y6
*Nota: Opiniões postadas aqui não refletem necessariamente a visão do Portal CPG. Os artigos publicados são de responsabilidade exclusiva de cada autor.