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Por que Trump quer comprar a Groenlândia?

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 18/01/2025 às 23:35
Groenlândia, Trump
Foto: Reprodução

A intenção de Trump em adquirir a Groenlândia gerou debates e intrigas globais. Mas quais são as razões estratégicas e políticas por trás dessa ideia inusitada?

Recentemente, o presidente Donald Trump voltou a surpreender o mundo ao reafirmar sua intenção de adquirir a Groenlândia. O presidente eleito dos EUA declarou que esse movimento seria “essencial para a segurança nacional e para a liberdade global“.

Embora o interesse pela ilha não seja novo, remonta ao seu primeiro mandato, a reação internacional renova a tensão em torno da ideia.

Naquela época, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen considerou o plano “absurdo”, encerrando rapidamente o debate.

Agora, porém, antes mesmo de assumir novamente o cargo, Trump dá sinais de que usaria influência econômica ou até militar para trazer a Groenlândia ao controle dos EUA.

A ilha, geograficamente localizada na América do Norte, mas politicamente ligada à Dinamarca, reacende debates sobre soberania e interesses estratégicos globais.

Líderes europeus reagiram com preocupação, apontando possíveis paralelos com ações recentes da Rússia. O chanceler alemão Olaf Scholz, sem citar Trump diretamente, enfatizou: “O princípio da inviolabilidade das fronteiras vale para todos os países, do leste ao oeste.”

Moscou e o reflexo da ameaça americana

Enquanto a proposta de Trump gerava indignação na Europa, Moscou aproveitou a oportunidade para justificar seus próprios atos na Ucrânia.

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, sugeriu que a população da Groenlândia fosse consultada, mencionando os referendos realizados em regiões ucranianas anexadas pela Rússia — amplamente condenados como fraudulentos pela comunidade internacional.

A reação de Frederiksen desta vez foi mais contida. “Precisamos de uma cooperação muito próxima com os americanos. Os EUA são nosso aliado mais próximo“, afirmou a primeira-ministra, após um telefonema com Trump.

A postura conciliatória reflete a complexa posição da Dinamarca, dividida entre preservar sua soberania e manter relações estratégicas com os EUA.

Um povo dividido: Identidade Groenlandesa em Jogo

Na Groenlândia, o sentimento de independência é forte. Ulrik Pram Gad, especialista do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, aponta que os movimentos de Trump estão alinhados à Doutrina Monroe, que busca afastar influências externas da América. “Eles querem garantir que nenhum chinês ou russo estabeleça uma presença na Groenlândia“, explicou Gad.

Os laços históricos entre Dinamarca e Groenlândia são antigos. Colônia dinamarquesa até 1953, a ilha é hoje um território autônomo com direito à independência via referendo desde 2009.

No entanto, a dependência de fundos dinamarqueses e a população reduzida — cerca de 57 mil habitantes — tornam a independência um desafio logístico e econômico.

O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, defende a independência, mas rejeita ser subordinado a qualquer nação. “Não queremos ser dinamarqueses. Não queremos ser americanos. Queremos ser groenlandeses“, declarou, reiterando a necessidade de um futuro autossuficiente.

A joia do ártico

O interesse pela Groenlândia não se limita a sua posição estratégica. A ilha é rica em recursos naturais, como petróleo, gás e terras raras — essenciais para tecnologias como carros elétricos e turbinas eólicas.

Atualmente, a China domina a produção global desses minerais, o que aumenta a atratividade da Groenlândia como alternativa.

O derretimento das calotas de gelo, causado pelas mudanças climáticas, torna esses depósitos mais acessíveis. Entretanto, questões ambientais têm dificultado a exploração. Até o momento, o governo local tem bloqueado projetos de mineração para preservar o meio ambiente.

Além disso, o recuo do gelo abriu novas rotas marítimas, facilitando a navegação entre Europa e Ásia. Essas mudanças tornam a Groenlândia ainda mais cobiçada, tanto por potências econômicas quanto por forças militares. A Rússia e a China, por exemplo, buscam expandir sua influência no Ártico, levantando preocupações entre os membros da OTAN.

Presença militar americana

Os EUA mantêm uma presença militar significativa na Groenlândia desde a Segunda Guerra Mundial. Quando a Alemanha nazista ocupou a Dinamarca em 1940, os americanos rapidamente enviaram tropas para evitar uma invasão alemã à ilha. Em 1946, Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro pela Groenlândia, mas a Dinamarca recusou.

Apesar disso, a base militar americana permaneceu. Hoje conhecida como Base Espacial Pituffik, ela abriga sistemas avançados de alerta contra mísseis, dada a proximidade estratégica entre Europa e América do Norte.

Trump e a tradição de aquisições territoriais

A proposta de Trump para adquirir a Groenlândia pode parecer excêntrica, mas tem precedentes históricos. Ao longo do século XIX, os EUA compraram territórios como a Louisiana (da França), o Alasca (da Rússia) e a Flórida (da Espanha).

Até mesmo a Dinamarca já vendeu terras aos americanos, como as Ilhas Virgens, adquiridas em 1917 por US$ 25 milhões.

Contudo, a Groenlândia não está à venda. Mute Egede rejeitou categoricamente a ideia, afirmando: “A Groenlândia é nossa.

Não estamos à venda e nunca estaremos.” Mesmo assim, a dependência financeira da Dinamarca coloca em dúvida a capacidade da ilha de decidir plenamente seu futuro.

Ulrik Pram Gad sugere que os EUA poderiam oferecer subsídios mais altos à Groenlândia, em troca de acordos de segurança mais vantajosos. No entanto, ele acredita que Trump dificilmente investiria em algo que já está, de certa forma, sob controle americano, devido aos acordos militares existentes.

Dinamarca e a segurança no Ártico

Se a intenção de Trump era pressionar a Dinamarca a fortalecer sua presença no Ártico, ele já obteve resultados.

O governo dinamarquês anunciou um aumento de € 1,5 bilhão nos gastos militares para a região. Embora o plano estivesse em discussão há algum tempo, o anúncio coincidiu com as declarações de Trump, o que foi considerado por muitos como um “golpe de sorte”.

Além disso, Frederiksen tem demonstrado uma abordagem diplomática para evitar conflitos com o principal membro da OTAN. Para a Dinamarca, a manutenção da aliança é crucial, especialmente diante das crescentes tensões globais.

O que está por vir?

Embora a Groenlândia não esteja à venda, Trump pode buscar outras formas de influência. Analistas acreditam que ele tentará garantir que, mesmo em caso de independência, a Groenlândia permaneça firmemente alinhada à OTAN e aos interesses americanos. Isso incluiria o compromisso de manter bases militares dos EUA na ilha.

Ulrik Pram Gad alerta que as ações de Trump refletem um padrão de comportamento imprevisível. “O problema que enfrentaremos nos próximos anos é que toda vez que ele disser algo, todos correremos tentando entender o que está por trás disso. Talvez nem ele saiba“, concluiu.

Enquanto isso, a Groenlândia permanece como peça central no xadrez geopolítico. Suas riquezas naturais e localização estratégica continuam a atrair o interesse de grandes potências. Para os groenlandeses, no entanto, a luta por autonomia segue como prioridade, mesmo diante das disputas globais.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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