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Pesquisa revela que 90% dos clientes negros enfrentam racismo em lojas de luxo no Brasil, destacando exclusão, vigilância excessiva e prejuízos econômicos às marcas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 27/11/2024 às 12:57
Luxo - negros - racismo
Pesquisa revela que 90% dos clientes negros enfrentam racismo em lojas de luxo no Brasil, destacando exclusão, vigilância excessiva e prejuízos econômicos às marcas

Racismo em lojas de luxo: estudo mostra que 18% dos consumidores negros já foram revistados ou seguidos, e 52% abandonaram compras devido a situações de discriminação

Uma investigação conduzida pela L’Oréal em parceria com o Estúdio Nina revelou dados alarmantes sobre o racismo enfrentado por clientes negros das classes A e B em estabelecimentos de luxo no Brasil. O estudo destacou que 90% desses consumidores já vivenciaram situações de discriminação nesses espaços, expondo as barreiras enfrentadas mesmo por aqueles com alto poder aquisitivo.

Racismo em números: da exclusão ao constrangimento

A pesquisa ouviu 350 consumidores negros em todo o território nacional, revelando que sete em cada dez entrevistados sentem desconforto constante em pontos de venda de luxo. Além disso, 18% relataram terem sido seguidos ou submetidos à revista de bolsas. Esses dados refletem um padrão de racismo que vai desde atitudes sutis, como olhares desconfiados, até práticas abertamente discriminatórias, como o lacre de pertences pessoais.

Ana Carla Carneiro, cofundadora do Estúdio Nina, explicou que o objetivo central do levantamento foi entender como o racismo se manifesta no mercado de beleza de luxo. Segundo ela, as marcas precisam ir além da criação de produtos específicos para consumidores negros, buscando implementar mudanças profundas em suas estratégias de comunicação e atendimento.

“Os códigos negros e brancos”: um público bilíngue ignorado

De acordo com o estudo, consumidores negros representam 37% das classes A e B no Brasil. Apesar disso, muitos relataram desistir de compras devido a experiências negativas em lojas. Entre os participantes, 52% abandonaram aquisições após situações de racismo, enquanto 54% evitaram retornar aos estabelecimentos. Outros 29% optaram por comprar online para fugir de constrangimentos.

Ana Carla enfatizou o potencial econômico desse público, que ela descreveu como “bilíngue culturalmente”. Consumidores negros têm fluência nos códigos culturais brancos predominantes em ambientes de luxo, além de dominarem os códigos negros que os conectam às suas raízes. Contudo, as marcas não estão preparadas para atender a esse público de forma inclusiva. “E se as lojas também aprendessem a transitar entre esses universos?”, questionou a especialista, destacando que isso poderia ampliar o alcance e a relevância das empresas.

Dispositivos de discriminação: quando o luxo exclui

O levantamento identificou 21 dispositivos de racismo presentes no mercado de luxo, revelando um padrão de exclusão que impacta diretamente a experiência dos consumidores negros. Entre os entrevistados, 56% afirmaram sentir que não pertenciam ao ambiente, enquanto 58% relataram que os preços dos produtos eram informados antes mesmo de perguntarem. Além disso, 57% perceberam que sua capacidade de pagamento era colocada em dúvida pelos atendentes.

Outro dado preocupante é a vigilância excessiva: 74% dos participantes relataram sentir-se monitorados de maneira invasiva. Também foi registrado o sentimento de inferiorização, com 47% dos entrevistados relatando terem sido tratados como funcionários em vez de clientes.

Um dos consumidores resumiu sua experiência dizendo: “Mesmo cumprindo todos os requisitos de um cliente padrão, como vestir roupas caras, usar perfumes de luxo e ter um smartphone de última geração, sempre há olhares que questionam minha presença.”

O futuro do luxo: exclusividade sem exclusão

Eduardo Paiva, diretor de Diversidade, Equidade e Inclusão da L’Oréal Brasil, destacou a importância de reconhecer o impacto do racismo no setor e promover mudanças efetivas. Segundo ele, o caminho para um mercado mais inclusivo passa pela educação e pelo entendimento das dinâmicas de exclusão.

“O luxo do futuro precisa ser exclusivo, mas jamais excludente”, afirmou Paiva, reforçando que apenas esforços conjuntos entre marcas, vendedores e consumidores poderão transformar o ambiente de compras em espaços verdadeiramente acolhedores.

Um mercado que precisa evoluir

Os resultados da pesquisa “Racismo no Varejo de Beleza de Luxo” revelam que a exclusão de consumidores negros nas lojas de alto padrão não é apenas uma questão de preconceito, mas também um erro estratégico. Ao negligenciar um público com alto poder aquisitivo e riqueza cultural, essas marcas deixam de explorar um mercado que poderia ampliar significativamente suas vendas e reforçar sua reputação.

A transformação do setor exige mais do que campanhas publicitárias: requer um compromisso genuíno com a inclusão. Reconhecer e valorizar os consumidores negros não é apenas uma questão ética, mas também uma oportunidade de negócio que pode redefinir os padrões de exclusividade no mercado de luxo.

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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