Estudo do Ibre-FGV indica que o aumento do valor do Bolsa Família impactou a oferta de trabalhadores menos qualificados. Empresários relatam dificuldade para preencher vagas e defendem ajustes no programa para estimular a formalização.
A combinação de taxa de desocupação baixa, expansão recente do Bolsa Família e mudança de perfil da força de trabalho reacendeu o debate sobre a falta de mão de obra no comércio e nos serviços.
Segundo reportagem publicada pelo jornal Diário do Comércio, assinada pela jornalista Karina Lignelli, levantamento do Ibre-FGV indica que o benefício, hoje com valor médio de R$ 671,54, teria reduzido a oferta de trabalhadores menos qualificados e estimulado a permanência na informalidade, sobretudo entre jovens.
Para empresários e economistas ouvidos pela publicação, o cenário de mercado apertado seria propício a ajustes no desenho dos programas assistenciais.
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Pleno emprego pressiona contratações
Com a desocupação em 5,6% em agosto, o mercado opera próximo ao que economistas chamam de pleno emprego.
Nesse contexto, empresas relatam dificuldade crescente para preencher vagas operacionais em supermercados, padarias, agricultura e outras atividades intensivas em mão de obra.
De acordo com apuração do Diário do Comércio, parte dos candidatos recusa vínculos formais para não perder o auxílio.
Em regiões com alta concentração de beneficiários, há relatos de situações em que “há mais pessoas recebendo Bolsa Família que empregados com carteira assinada”, segundo o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

O que diz o estudo do Ibre-FGV
A pesquisa conduzida por Daniel Duque, do Ibre-FGV, relaciona a ampliação do benefício ao comportamento de participação no mercado de trabalho.
O valor do programa, que era de R$ 190 em 2019, subiu para cerca de R$ 400 após a pandemia, alcançou R$ 600 em 2022 e passou a representar 35% da renda mediana do trabalho, ante 15% anteriormente.
O número de famílias atendidas teria saltado de 14 milhões para 21 milhões, enquanto o orçamento anual aproximou-se de R$ 170 bilhões.
Segundo o jornal, a taxa de participação não retornou ao padrão pré-pandemia e a expansão do benefício ajudou a explicar o descompasso.
Entre homens de 17 a 30 anos, a oferta de trabalho teria caído com mais intensidade, assim como a busca por postos formais.
Duque resume a dinâmica ao afirmar que “quem mais reage ao aumento de renda do Bolsa Família são os homens, que têm maior probabilidade de estar em ocupações formais e menos restrições de tempo impostas pela família”.
Ele também observa um efeito limiar: grupos recém-elegíveis teriam reduzido a participação laboral em 11% frente famílias quase idênticas que ficaram de fora por pequena diferença de renda — o que se traduz, no cálculo do pesquisador, na ideia de que “a cada duas famílias que recebem Bolsa Família, uma sai da força de trabalho”.
Incentivos e a “regra de proteção”
A partir de junho, passou a vigorar a regra de proteção: famílias que ultrapassam a renda per capita de R$ 218 podem permanecer por até 12 meses no programa, recebendo 50% do valor.
A intenção do governo foi suavizar a transição para o emprego formal e reduzir o receio de perder o benefício de forma abrupta.
Na prática, porém, empresários relatam que o incentivo ainda é insuficiente para reter candidatos, especialmente em vagas de salários baixos e jornadas extensas.
Para Solimeo, o ideal é manter uma “porta de saída” efetiva, com avaliações periódicas, capacitação e assistência à recolocação: “o cidadão deslanche na vida profissional”, afirmou ao Diário do Comércio.
Falta de mão de obra no comércio e serviços
No comércio e nos serviços, a queixa é recorrente. Há dificuldade para preencher posições básicas, rotatividade em alta e maior concorrência com ocupações por conta própria.
A avaliação de parte do empresariado, relatada pela reportagem, é que o custo do emprego formal — impulsionado por encargos da CLT — torna menos atraente a contratação, enquanto a renda garantida do programa, somada a bicos e aplicativos, sustenta escolhas mais flexíveis.
O jornal também apontou que há preocupação com o quadro fiscal: gastos elevados empurrariam os juros para cima e encareceriam o crédito, afetando investimento e produtividade.

Vozes da academia e do setor empresarial
Para Antonio Lanzana, economista e professor da FEA-USP, empresas de menor porte são as mais afetadas, pois dependem de trabalhadores com baixa qualificação.
Ele reconhece que muitos potenciais empregados evitam vínculos formais para não perder o benefício ou preferem atividades informais, o que cria desalinhamento no mercado formal. Ainda assim, pondera que as transferências não explicam tudo.
Há demografia desfavorável, com perda do contingente jovem; crescimento acima do potencial em parte do período pós-pandemia, exaurindo a ociosidade; e atração por apps e trabalho flexível, que competem com o emprego tradicional.
“Não vejo movimentos na área empresarial para revisão desse tipo de benefício, mas as críticas existem no sentido de que há excesso de gastos públicos — o que obriga o Banco Central a manter taxas de juros elevadas que prejudicam a gestão empresarial”, disse Lanzana em entrevista ao Diário do Comércio.
Produtividade, qualificação e renda
Outro ponto recorrente no debate é a baixa produtividade. Empresários e economistas defendem que ganhos sustentáveis viriam de investimentos em educação e saúde, além de qualificação profissional.
Houve aumento real da remuneração média nos últimos trimestres e expansão da massa de rendimentos, impulsionada tanto pelo trabalho quanto pelas transferências.
O efeito colateral seria a maior dificuldade das empresas em recrutar, especialmente para funções de entrada, pressionadas por salários pouco competitivos diante do pacote de renda familiar.
O papel do congelamento e o risco político
Duque ressalta que, após a forte expansão até 2023, o programa não avançou entre 2024 e 2025, o que relativiza sua explicação para a escassez mais recente de mão de obra.
Ele observa que o governo evitou reajustar o valor do benefício pela inflação para conter distorções, decisão que, com o tempo, reduz o poder de compra do auxílio e pode tornar o emprego formal mais atrativo.
O pesquisador também aponta o custo político de reformas: o valor fixo e padronizado do benefício ganhou popularidade e se tornou sensível a mudanças, diferentemente do antigo modelo per capita, que variava conforme a composição familiar e tinha melhores resultados no combate à pobreza, mas era de comunicação difícil, conforme destacou o Diário do Comércio.
Propostas na mesa: redesenho e condicionantes
Entre sugestões ventiladas no meio empresarial estão ajustes no valor de referência e reforço de condicionantes ligadas à educação e à produtividade.
Há quem defenda transferências direcionadas a mães com filhos pequenos e a jovens que saíram da escola para complementar renda, como forma de mitigar efeitos negativos sobre o mercado de trabalho sem enfraquecer a proteção social.
Outra proposta recorrente é ampliar treinamento e intermediação de mão de obra, com metas mensuráveis, de modo a garantir que a “porta de saída” seja concreta e não apenas retórica.
Fatores estruturais seguem pesando
Mesmo críticos do desenho atual reconhecem que o Bolsa Família é apenas uma peça do quebra-cabeça. A queda na natalidade e o envelhecimento populacional comprimem a base jovem, essencial para setores intensivos em trabalho.
A preferência por ocupações flexíveis cresceu, e o custo do emprego formal segue elevado.
Sem avanços em educação básica, formação técnica e ambiente de negócios, especialistas avaliam que as empresas continuarão disputando um contingente limitado de trabalhadores, com ou sem auxílio.
Na sua visão, o que deve pesar mais no curto prazo: ajustes no benefício para calibrar incentivos ou medidas para baratear o emprego formal e acelerar a qualificação, sem perder de vista a proteção aos mais vulneráveis?
Estamos produzindo uma geração, que hoje vee seus antecedentes viverem sem trabalhar e que amanhã seguirão seus exemplos, querendo também adotar o mesmo critério, ou seja: Estamos acabando com a mão de obra e a dignidade do ser humano em viver e produzir seu próprio sustento. É coisa de sindicalistas.
zconcordo, depois do bolsa fa.ilia procura ums pessoa pra fazer uma faxina e nao encontra, sou totalmente contra bolsa família, minha mãe Separou do meu pai, ficou com 8 filhos pra criar, e não teve ajuda de governo nenhum, ela foi a luta criou todos nós, nunca passamos fome,hj todos são homens e mulheres de bem
Porque empregadores. Ao registram essas pessoas ? Empregador não quer vínculo empregatício porque?erro está no empregador q não quer vínculo e não registra ..então não fiquem reclamando
Antes da financeirização, economia improdutiva, tínhamos forte educação pública básica e saúde públicas para o mercado de trabalho porque era importante para empresários da economia produtiva terem trabalhadores qualificados e saudáveis e governos mantinham na mão do Estado porque eram estratégicos para a economia produtiva,
…A formação técnica também era exigência da economia produtiva, das indústrias, até aqueles treinos de curta duração no SENAI eram disputadíssimas e as máquinas dessas escolas eram de ponta, hoje mal se consegue preencher turmas para compensar os custos, não há mais interesse de profissionais ou empresas.
…Os empresários estão reclamando que ninguém quer trabalhar? Mas há muitos empresários que desistiram de trabalhar e venderam seus negócios e aplicaram nos bancos e vivem de juros/dividendos como rentistas.
…E o trabalhador a mesma coisa porque enxerga que não compensa mais trabalhar pela CLT porque a cada novo governo vem reformas só retirando mais direitos trabalhistas e previdenciários e assim logo logo será indiferente trabalhar em plataformas sem seguros, férias, 13°, aposentadoria, etc.
…Nos anos 80 teve fim a era da economia produtiva, fordista, que se tornou secundária ou acessória da economia improdutiva financeira Assim o TRABALHO, faz parte da economia produtiva, deixou de participar da acumulação do capital. Hoje o grande capital se acumula sendo aplicado em bancos que retorna juros/dividendos para acumular o capital.
…Na economia produtiva o trabalhador vendia sua mão de obra e o capitalista ficava com a Mais Valia gerada pelo TRABALHO para acumulação do capital. A economia improdutiva financeira tornou o TRABALHO secundário perdendo protagonismo na economia para acumulação do grande capital, por isso que os salários das atividades produtivas também estagnaram há quatro décadas em valores reais.