Brasil pode sofrer perdas mensais bilionárias com a suspensão de exportações de frango. China, UE, Chile e outros países cancelaram compras após caso confirmado no Rio Grande do Sul
A descoberta de um foco de gripe aviária altamente patogênica em uma granja comercial localizada em Montenegro, no Rio Grande do Sul, acendeu um alerta vermelho entre os exportadores brasileiros de proteína animal. O caso levou países importantes, como China, União Europeia, Argentina, Uruguai e Chile, a suspender temporariamente as importações de carne de frango e seus derivados provenientes do Brasil. O impacto econômico pode chegar a US$ 200 milhões em apenas um mês, segundo estimativas divulgadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
O cálculo considera um volume entre 50 mil e 100 mil toneladas de carne de frango que podem deixar de ser embarcadas ao longo de 30 dias, com base no preço médio internacional de US$ 2 mil por tonelada. Isso representa uma redução potencial de até 20% nas exportações mensais, que atualmente giram em torno de 465 mil toneladas, conforme dados de 2025.
Para Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do MAPA, o cenário ainda é incerto. “É provável que tenhamos uma redução significativa nas exportações, mas o real impacto vai depender de dois fatores: quais países irão manter ou ampliar os embargos, e por quanto tempo essas restrições durarão”, afirmou em entrevista ao Broadcast Agro.
-
O fim da estabilidade! Eletrobras promove demissão em massa de concursados após sua privatização
-
Motoristas da Uber foram pagos para forjar acidentes e fraudar seguros
-
Impostos sobre investimentos vão mudar drasticamente em 2026 e podem afetar milhões de brasileiros: veja o que vai acontecer e como se preparar agora
-
Rombo do INSS entre 2020 e 2025 deixa milhões no prejuízo e governo pede ao STF que União não reembolse vítimas: veja como garantir sua aposentadoria sozinho em apenas 10 anos com investimentos mensais
Impacto imediato nos principais mercados
A China, que é atualmente o maior comprador de carne de frango do Brasil, suspendeu completamente os embarques do produto. A União Europeia seguiu o mesmo caminho. Como o Brasil responde por 35% do comércio mundial de carne de frango, a repercussão internacional foi imediata. Países como México, Coreia do Sul, África do Sul e Rússia também indicaram que poderão adotar suspensões semelhantes nos próximos dias.
A situação é preocupante porque, embora o vírus da influenza aviária não seja transmitido por meio do consumo de carne de aves ou ovos, a simples detecção em uma granja comercial já é suficiente para acionar os protocolos sanitários internacionais. Os contratos de exportação firmados pelo Brasil com parceiros como a China e a UE preveem suspensão total das compras diante de surtos detectados em granjas produtivas.
Redirecionamento de parte da produção
Apesar das perdas esperadas, o governo aposta em ações de contenção, comunicação rápida com os parceiros internacionais e redirecionamento logístico para mitigar os efeitos econômicos. Parte da carne de frango que não será enviada aos países que impuseram embargos poderá ser exportada a destinos alternativos ou destinada ao mercado doméstico.
“O fato de um país suspender as compras não significa que a carne será desperdiçada. Uma parcela poderá ser redirecionada para mercados que continuam permitindo importações do Brasil, como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Filipinas e outros que adotam a regionalização das restrições sanitárias”, explicou o secretário.
Esses países permitem que as suspensões sejam restritas à região afetada, como o município de Montenegro ou um raio de 10 km ao redor da granja onde o caso foi detectado, conforme orientações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
Governo brasileiro aposta na regionalização de embargos
Segundo Rua, há otimismo quanto à possibilidade de que os embargos amplos sejam revertidos para restrições localizadas nos próximos dias. “Nos primeiros dias, muitos países suspendem totalmente as compras como medida preventiva. Mas, à medida que recebem dados técnicos e comprovações de que o foco foi contido, a tendência é migrarem para um modelo de restrição regionalizada”, explicou.
O governo brasileiro está fornecendo às autoridades sanitárias internacionais todas as informações solicitadas, incluindo a localização exata do foco, medidas de contenção aplicadas e resultados de testes adicionais. A expectativa é que, com isso, os parceiros comerciais restabeleçam as importações de forma segmentada, um processo que pode levar cerca de 28 dias, segundo o próprio MAPA.
Demanda mundial aquecida pode minimizar prejuízos
Mesmo com a crise, o cenário global da avicultura pode acabar jogando a favor do Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a demanda por frango brasileiro aumentou 9% em 2025 em comparação com o ano anterior, com preços superiores aos de 2024. Isso se deve, em grande parte, à presença da gripe aviária em plantéis de outros grandes exportadores, como os Estados Unidos.
“O mundo está aprendendo a conviver com a doença. Os EUA, mesmo com surtos no próprio território, exportaram 3,3 milhões de toneladas de carne de frango no ano passado”, destacou Rua. Isso reforça o papel do Brasil como um fornecedor confiável, ainda que sujeito a oscilações sanitárias pontuais.
Segundo dados da ABPA, o Brasil exportou em 2024 5,157 milhões de toneladas de carne de frango, com faturamento total de US$ 9,742 bilhões. Os maiores destinos foram China (13%), Emirados Árabes Unidos (9,7%), Japão (8,8%) e Arábia Saudita (8,4%), todos com grande peso estratégico nas receitas do setor.
Consumo seguro e vigilância intensificada
O Ministério da Agricultura reforça que não há risco de transmissão da gripe aviária por meio do consumo de carne de aves ou ovos devidamente processados. A doença é transmitida por contato direto com aves contaminadas, principalmente entre espécies migratórias e criações em ambiente aberto.
Como medida de segurança, a vigilância sanitária foi intensificada em todo o território nacional, com reforço na testagem de plantéis e controle de movimentação de animais em áreas de risco. A rápida atuação do governo brasileiro é vista como fundamental para evitar que o impacto se prolongue por mais de um ciclo mensal de exportações.