O preço da gasolina subiu mais de 50% entre 2020 e 2022. Veja por que ele continua alto e o que realmente pesa no valor que chega ao seu bolso
Para quem dirige com frequência — ou mesmo para quem apenas consome produtos transportados — o preço da gasolina no Brasil é um fardo constante. A alta no valor do combustível impacta toda a cadeia econômica: eleva o custo do transporte de mercadorias e, consequentemente, encarece quase tudo no mercado. Mas afinal, por que a gasolina brasileira é tão cara, mesmo sendo um país com abundantes reservas de petróleo?
O que é o petróleo e por que ele é tão difícil (e caro) de explorar?
O petróleo é uma mistura natural de hidrocarbonetos originada da decomposição de algas e pequenos organismos marinhos ao longo de milhões de anos. Diferente do que muita gente acredita, dinossauros não têm nada a ver com isso.
Extraí-lo, no entanto, é uma façanha tecnológica. Os reservatórios estão frequentemente a quilômetros de profundidade. No Brasil, a Petrobras domina esse processo. Fundada nos anos 1950, a estatal é hoje uma das maiores petrolíferas do mundo, responsável por mais de 3 milhões de barris diários. No entanto, isso não significa que estamos livres da influência internacional — longe disso.
Do poço ao posto: para onde vai o seu dinheiro?
Você sabia que, ao abastecer R$ 100 de gasolina, menos da metade vai realmente para a Petrobras? De acordo com dados atualizados da própria empresa, a divisão é aproximadamente a seguinte:
- Petrobras: R$ 36
- Distribuição e revenda: R$ 17
- Etanol anidro: R$ 13
- Impostos federais: R$ 22
- Impostos estaduais: R$ 11
Isso mostra que quase metade do preço vem de políticas internas, especialmente tributos. O restante depende de variáveis globais.
O impacto do dólar e do barril no seu bolso
Apesar da produção interna robusta, o Brasil ainda importa derivados de petróleo. Isso se deve à nossa baixa capacidade de refino — as refinarias são poucas, antigas e adaptadas para petróleo pesado, enquanto o pré-sal brasileiro oferece petróleo leve, mais nobre, mas pouco aproveitado aqui.
Consequência? Vendemos parte do nosso petróleo bruto ao exterior, compramos de volta já refinado… e pagamos em dólar. Com isso, qualquer instabilidade global pode fazer o preço disparar por aqui.
Foi o que aconteceu na guerra da Ucrânia, quando o barril atingiu quase US$ 140. Ou durante a pandemia, que primeiro derrubou a demanda, e depois causou um efeito rebote com aumentos de até 50% entre 2020 e 2022.
O problema da política de preços
Até recentemente, a Petrobras utilizava a chamada Política de Paridade de Importação (PPI), que atrelava o preço interno dos combustíveis diretamente ao mercado internacional. Em 2023, a estatal abandonou a PPI, adotando uma nova política de preços que leva em conta fatores internos e regionais.
Apesar disso, a redução no preço médio da gasolina foi de apenas 5%, segundo análises do próprio setor.
As possíveis soluções (e seus desafios)
1. Mais refinarias?
Uma resposta óbvia seria construir novas refinarias modernas, capazes de processar o petróleo leve do pré-sal. Mas isso demandaria bilhões em investimento e décadas para se concretizar.
2. Investimento em energia limpa
Outra solução está na substituição gradual dos combustíveis fósseis por fontes renováveis. Energia solar, eólica e o uso de carros elétricos são promessas reais. No entanto, esses também têm desafios — como o impacto ambiental das baterias — e demandam infraestrutura.
3. Transporte público de qualidade
Reduzir o número de carros nas ruas é uma das maneiras mais eficazes de cortar o consumo de gasolina. Cidades com transporte público eficiente consomem menos combustível e oferecem melhor qualidade de vida.
Uma transição inevitável
O petróleo é o ouro negro do século XX, mas pode não ser o combustível do futuro. Ainda hoje, sua influência é tamanha que conflitos em países distantes interferem diretamente no orçamento do brasileiro em qualquer canto do país. Mas à medida que energias renováveis se tornam mais viáveis, tanto ecologicamente quanto economicamente, a tendência é que a dependência do petróleo — e os preços voláteis da gasolina — diminuam.
Como em toda transição, haverá custos e resistência. Mas o cenário atual não é sustentável, e o futuro exige mudanças ousadas.
Quanto custa o litro da gasolina na sua cidade hoje? Deixe nos comentários e acompanhe com a gente a evolução desses preços.