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É deste pequeno e pobre país africano que a China extrairá até 1 milhão de toneladas de lítio — uma quantidade suficiente para fabricar milhões de baterias

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 27/12/2024 às 17:52
China, lítio
Foto: Reprodução

A China planeja extrair até 1 milhão de toneladas de lítio de um pequeno país africano, suficiente para fabricar milhões de baterias para veículos elétricos.

A maior produtora de lítio da China, a Ganfeng Lithium, lançou a primeira fase do projeto de mineração de lítio Goulamina no Mali. Localizado na região de Bougouni, ao sul do país, o projeto foi inaugurado oficialmente em meados de dezembro, de acordo com fontes da mídia chinesa.

Com uma meta inicial de produção de 506 mil toneladas anuais, o empreendimento prevê dobrar sua capacidade para 1 milhão de toneladas na segunda fase.

Um carro elétrico, na verdade, exige apenas uma pequena quantidade de lítio para funcionar. Uma bateria de 300 kg, com capacidade de 50 kWh, típica de um modelo médio, contém aproximadamente 8 kg desse metal leve.

Essa mina é considerada uma das maiores reservas inexploradas de lítio em rocha dura do mundo, segundo a Leo Lithium, empresa australiana que inicialmente detinha o projeto.

Projeto Goulamina no Mali. (Imagem: Leo Lithium)

Superando desafios no mercado e na segurança

O avanço do projeto ocorre em um contexto de desafios importantes. O Mali enfrenta sérios problemas de segurança devido a conflitos internos e regionais, além de lidar com um novo código de mineração rigoroso implementado recentemente.

Apesar disso, a aposta da Ganfeng no local reflete sua estratégia para fortalecer a cadeia de suprimentos em meio à crescente demanda global por baterias de veículos elétricos (EVs).

No mercado internacional, o setor também enfrenta uma queda nos preços do lítio devido a um excesso de oferta.

Para contornar o cenário, a Ganfeng firmou um acordo de US$ 342,7 milhões em maio, aumentando sua participação no projeto Goulamina e consolidando sua posição estratégica no mercado.

Expansão global e a posição dominante da China

A China lidera o mercado global de veículos elétricos, responsável por cerca de 60% das entregas mundiais de carros movidos a bateria.

Além disso, o país é o maior produtor de baterias para EVs, representando 77% da produção mundial, com exportações que ultrapassaram US$ 139 bilhões em 2023.

A Ganfeng Lithium, sediada em Xinyu, província de Jiangxi, já havia adquirido anteriormente uma participação de 40% na Mali Lithium, empresa australiana responsável pelo projeto, com a possibilidade de compra total.

Agora, o governo do Mali também planeja garantir 35% do projeto, sendo 10% adquiridos gratuitamente e 25% comprados. Assim, a Ganfeng deterá 65%, enquanto o Mali ficará com o restante.

Detalhes técnicos e perspectivas econômicas

O projeto está localizado a aproximadamente 150 quilômetros ao sul de Bamako, capital do Mali. Estima-se que a mina funcione por mais de 23 anos, produzindo cerca de 15,6 milhões de toneladas de concentrado de espodumênio no período.

O novo licenciamento abrange uma área de 100 km², equivalente a um décimo do tamanho de Hong Kong.

Especialistas apontam que a ampliação do projeto é crucial para aumentar a autossuficiência da Ganfeng em materiais de entrada, que deve passar de 40% para 70%.

Isso pode ajudar a reverter margens de lucro reduzidas e fortalecer a cadeia de fornecimento, garantindo maior estabilidade financeira para a empresa no futuro.

O futuro da sustentabilidade no lítio

Embora o projeto represente um avanço significativo, estudos alertam para a possível escassez de lítio em um futuro próximo.

Um relatório da Universidade de Nanjing, na China, prevê que a oferta atual pode se esgotar até 2029, pressionada pela alta demanda por EVs e tecnologias de energia renovável.

Os métodos tradicionais de extração, como mineração de rochas duras e salmouras, são intensivos em energia, causam emissões de gases de efeito estufa e geram impactos ambientais severos. Como alternativa, pesquisadores estão desenvolvendo tecnologias para explorar fontes menos convencionais, como lagos salgados, água do mar e depósitos sedimentares.

Entre as opções promissoras estão as salmouras de baixa qualidade, comuns em lagos salgados e fluidos geotérmicos. No entanto, a extração dessas fontes é desafiadora devido às altas proporções de magnésio em relação ao lítio, além do baixo teor do mineral.

A corrida por soluções sustentáveis é vital não apenas para atender à crescente demanda, mas também para mitigar os impactos ambientais da exploração de lítio.

O avanço da Ganfeng no Mali ilustra como grandes empresas estão se posicionando para equilibrar os desafios econômicos, técnicos e ambientais do setor.

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Victoriano Rui
Victoriano Rui
29/12/2024 03:49

O maior problema é que esses negócios não se reflecte no seio económico e social da população maliana.

Golane
Golane
Em resposta a  Victoriano Rui
29/12/2024 13:10

Jura?? Pensei que fosse um problema do ocidente mauzinho e maltratador dos desfavorecidos. Os chineses é que são justos e não exploram ninguém.

Paulo
Paulo
Em resposta a  Golane
29/12/2024 19:44

Distribuir essa riqueza é uma tarefa do povo do Mali e e seu governo, a China não governa o Mali.

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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