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China investe US$ 3 bilhões e inaugura porto na América Latina, gerando 8 mil empregos e US$ 4,5 bilhões em movimentação anual

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 14/11/2024 às 15:10
China, América Latina, Porto
(Xinhua/Mariana Bazo) (mb) (jg) (da) (vf)

Porto chinês na América Latina promete gerar 8 mil empregos e movimentar até US$ 4,5 bilhões por ano, após investimento de US$ 3 bi

A relação entre a China e a América Latina ganhou um novo capítulo com a inauguração de um imponente porto no Peru, uma infraestrutura estratégica com investimentos que ultrapassam US$ 3 bilhões. O novo porto de Chancay, a cerca de 80 km de Lima, surge como uma poderosa conexão entre o Pacífico e os mercados globais, reforçando o papel da China como parceira econômica crucial para a região.

Uma porta de entrada para investimentos na América Latina

A inauguração do porto acontece em um momento significativo, precedendo o fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) e um importante encontro entre o líder chinês Xi Jinping e o presidente dos EUA, Joe Biden.

Esse evento ilustra a crescente influência de Pequim na América Latina, que há anos foi um reduto de influência norte-americana. Agora, o investimento no porto de Chancay sinaliza que o jogo de forças está mudando e que a China veio para ficar.

Com empresas chinesas profundamente envolvidas em quase todos os aspectos da construção e operação do porto, Chancay se tornou um projeto símbolo dessa influência. Em 2019, a gigante de transporte marítimo Cosco comprou 60% de participação no projeto por US$ 1,3 bilhão, passando a operar um centro logístico de alta tecnologia.

De guindastes automatizados fornecidos pela Shanghai Zhenhua Heavy Industries a caminhões elétricos e autônomos fabricados por empresas chinesas, a operação se destaca como um marco de inovação no setor portuário da América do Sul.

. Foto: Xinhua

Por que o porto de Chancay é tão estratégico?

O porto de Chancay não se resume apenas a uma rota de exportação de produtos peruanos. Ele representa um ponto de conexão entre o comércio da Ásia e da América do Sul, funcionando como um hub que pode atender a navios de grande porte que não cabem no Canal do Panamá.

Essa infraestrutura, portanto, representa uma alternativa competitiva aos portos tradicionais da região, capaz de reduzir o tempo e o custo das operações comerciais.

O impacto econômico é tão relevante que a presidente peruana Dina Boluarte descreveu o porto como um potencial “centro nervoso” para unir o continente com a Ásia.

Boluarte destaca que o projeto deve gerar cerca de 8.000 empregos e movimentar até US$ 4,5 bilhões em atividade econômica anualmente. Para o Peru, o porto abre possibilidades de exportação e até a chance de se tornar uma base para montadoras, como a fabricante chinesa de carros elétricos BYD.

Uma preocupação de segurança para os Estados Unidos

Se, por um lado, o projeto é celebrado pela China e pelo Peru, por outro, acende alertas entre os Estados Unidos. O nível de investimento e interesse chinês em Chancay levantou preocupações de que o porto possa servir de base para operações militares chinesas na América Latina.

Autoridades americanas, como a ex-líder do Comando Sul dos EUA, Gen. Laura Richardson, demonstraram receio de que o porto sirva como uma “brecha” para a presença militar chinesa, ainda que a China negue quaisquer intenções militares no projeto.

Esse tipo de preocupação, no entanto, não encontra eco no Peru, onde a perspectiva de um hub tecnológico de ponta e de uma nova fonte de investimentos é amplamente bem-vinda.

Como explica o pesquisador Leolino Dourado, do Centro de Estudos da China e Ásia-Pacífico na Universidad del Pacífico, os países da América Latina estão focados em vender seus produtos e atrair investimentos, o que enfraquece qualquer retórica de medo vinda do exterior.

A Belt and Road Initiative e sua expansão na América Latina

O porto de Chancay é mais uma peça na ambiciosa Belt and Road Initiative (BRI), um plano estratégico que Xi Jinping lançou em 2013 para desenvolver infraestrutura e conectividade global. Até agora, a BRI compreende uma rede de mais de 40 portos espalhados pelo mundo, reforçando a presença chinesa em regiões chave para o comércio e a diplomacia.

Embora Pequim insista que o projeto é puramente comercial, analistas chineses já sugeriram que o porto representa uma vitória geopolítica que requer proteção contra interferências dos EUA. Essa visão reforça a noção de que a China vê Chancay não só como uma rota comercial, mas como um ponto estratégico em seu plano de influência global.

Um futuro para o comércio sino-peruano

A inauguração do porto de Chancay deve acelerar o comércio entre o Peru e a China, que já é o maior parceiro comercial do país sul-americano há uma década. Em 2023, o comércio entre as duas nações chegou a US$ 36 bilhões, quase o dobro dos US$ 21 bilhões que o Peru comercializou com os Estados Unidos no mesmo período.

Além de facilitar o comércio, Chancay poderá ajudar a China a expandir suas operações de mineração no Peru. Atualmente, o Peru é o segundo maior produtor de cobre bruto da América do Sul, e a China está interessada em garantir o fornecimento de cobre para suas indústrias de tecnologia e energia limpa, setores que dependem desse metal estratégico.

Controvérsias locais sobre a operação do porto

Embora o porto seja amplamente celebrado, nem todos no Peru estão plenamente satisfeitos com o projeto. O processo de concessão gerou debates, e a autoridade portuária do país tentou alterar os termos do acordo com a Cosco, alegando um erro administrativo na concessão dos direitos exclusivos de operação por 30 anos. A ação foi retirada em junho, poucos dias antes de Boluarte viajar para a China para um encontro com Xi.

Para muitos peruanos, a presença chinesa não é mais vista com o mesmo estranhamento de anos atrás. O avanço da Belt and Road Initiative na América Latina mostra que as economias locais estão dispostas a abraçar novos aliados, especialmente aqueles que trazem oportunidades tangíveis de crescimento e inovação.

O papel do porto no cenário geopolítico

A inauguração do porto de Chancay simboliza um divisor de águas para o Peru e toda a América Latina. Com potencial para transformar o país em um centro de exportação para o resto do continente e conectá-lo ao mercado asiático, Chancay reforça o papel da China na redefinição das rotas comerciais globais.

Além disso, o porto oferece uma oportunidade única para o Peru diversificar sua economia, atrair novos investimentos e abrir portas para o desenvolvimento tecnológico.

Em resumo, o projeto de Chancay ilustra como a Belt and Road Initiative está remodelando o cenário econômico e geopolítico da América Latina. Enquanto a China vê a América Latina como uma extensão estratégica de seu poderio comercial, países como o Peru aproveitam a oportunidade para ampliar suas próprias ambições econômicas e conectar-se a uma rede global de investimentos e inovação.

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José Carlos Sá
José Carlos Sá
15/11/2024 00:21

A china com grandes obras e comércio bilateral vai ocupando o lugar que antes era só quintal dos EUA

Francisco Fortes Filho
Francisco Fortes Filho
15/11/2024 09:11

Os EUA nunca colocaram a Am Latina com prioridade e como vizinhos. Uma prova é os países latinos têm os piores índices de desenvolvimento, tanto humano como socioeconômico e educacional.

Os EUA ajudaram a reconstruir a Europa pós-guerra, investe pesado nos países do Oriente Médio, Ásia, etc, financiando guerras que cusraram trilhões de Dólares, como as guerras do Vietnã, Coreias,Irã-Uraque, Iraque-Kuait, Afeganistão, Financiou e criou monstregos como Bin Laden, Putin na Rússia, etc, até mesmo a China foi beneficiada pelos EUA com transf de capital e tecnologia para o gigante asiático que vai passar até msm a economia americana. Agora, estão criando conflitos internáveis no mundo cada vez + envolvido em guerras e disputas por hegemonia política.

Só para citar um exemplo, temos o caso do Haiti, q é o país + pobre das Américas, que fica no quintal dos EUA, nunca olharam para a situação crítica do pais. Se tivesse Petróleo e estratégias geopolíticas, já teriam intervindo no país sob pretexto diversos, assim como fizeram com o Iraque e o Afeganistão e depois abandonam os países em crises políticas, econômicas e humanitárias.

José
José
Em resposta a  Francisco Fortes Filho
15/11/2024 16:34

Concordo plenamente

Gilvan
Gilvan
15/11/2024 18:04

Países não têm amigos, tem interesses. Assim fazem todos os países de sucesso econômico no mundo. Os que alinham a uma potência internacional ou escolhe um lado ficam em desvantagem com relação aos que negociam com todos!

Jorge Xavier
Jorge Xavier
Em resposta a  Gilvan
21/11/2024 06:51

Sim, mas uma política de relacionamento amistoso solidifica a parceria para o futuro. Uma postura exploratória afasta os parceiros.

José Luiz de Oliveira
José Luiz de Oliveira
15/11/2024 18:21

Temos que tirar a hegemonia dos EUA.
Querem dominar o mundo.. espero que os países da Ásia façam de tudo, para impedir…kkk

José Roberto
José Roberto
Em resposta a  José Luiz de Oliveira
15/11/2024 18:46

Sou a favor que esqueçam os ****, que morram com as suas máquinas de guerras, a única coisa que sabem fazer. Lixos. Avisar aos **** que a fila andou. Tchau!!!!!

Mariana Tratoria Spectaculare
Mariana Tratoria Spectaculare
15/11/2024 20:17

Grande notícia para a América! Se os EUA não gostaram, **** no rab…deles. Que fiquem fazendo o muro na divisa com o México.

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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