Proposta de salário único da BYD para todos os cargos na linha de produção gera protestos entre metalúrgicos de Camaçari, que cobram valorização das funções especializadas
A instalação da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia, tem gerado grande expectativa por conta da promessa de geração de empregos. No entanto, a proposta salarial da empresa chinesa para os trabalhadores da linha de produção causou descontentamento entre os metalúrgicos da região.
Salário único gera tensão com trabalhadores
A BYD, maior fabricante mundial de carros elétricos e híbridos, propôs um piso salarial único de R$ 1.950 para todos os postos da linha de produção.
A medida desagradou o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Camaçari, que afirma que as funções exercidas pelos trabalhadores exigem diferentes níveis de especialização.
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Segundo Júlio Bonfim, presidente do sindicato, não é razoável pagar o mesmo valor a profissionais com responsabilidades tão distintas. Ele citou como exemplo operadores de ponte rolante, empilhadeira, mecânicos e eletricistas. “Eles [BYD] estão achando que é tudo igual”, reclamou.
A assessoria da BYD informou que a empresa não se pronunciaria sobre as negociações em andamento.
Benefícios fiscais e contrapartidas
A montadora assumiu, em outubro de 2023, o complexo fabril que era da Ford. Para manter os mesmos benefícios fiscais concedidos à montadora anterior, a BYD precisou firmar compromissos, como a contratação de mão de obra local. A planta conta com isenção de tributos federais, como IPI, PIS e Cofins, até 2032.
Previsão de empregos e cronograma da fábrica de Camaçari.
Em dezembro, a empresa anunciou que pretende gerar 20 mil empregos diretos na nova unidade. A previsão é de que a fábrica entre em operação ainda neste ano, mas o funcionamento pleno só deve ocorrer no segundo semestre de 2026.
Stella Li, vice-presidente executiva global da BYD, afirmou na época que a empresa estava “transformando Camaçari no Vale do Silício da América Latina”.
Ex-funcionários da Ford esperam definição
Cerca de 9 mil ex-trabalhadores da Ford aguardam uma posição definitiva sobre os salários oferecidos pela nova montadora. No início das negociações, a proposta da BYD era de R$ 1.812. Depois, subiu para R$ 1.950. Mesmo assim, ainda não há diferenciação por função.
Segundo Bonfim, 80% da força de trabalho da fábrica será composta por operários da linha de produção. A definição do salário desse grupo é vista como o ponto mais sensível do processo.
Diferenças em relação ao modelo da Ford
Na época da Ford, o sindicato havia negociado um plano de carreira com piso progressivo ao longo de seis anos. Os salários começavam em R$ 1.800 e podiam chegar a R$ 3.400.
Segundo o sindicato, a BYD já teria fechado acordos para cargos de coordenadoria e controle de qualidade. Os salários seriam de R$ 4.500 e R$ 3.500, respectivamente.
Falta de experiência em negociação preocupa sindicalistas
Bonfim aponta que a montadora enfrenta dificuldades para negociar por causa da ausência de tradição sindical na China. Segundo ele, a cultura corporativa chinesa ainda não está acostumada a dialogar com entidades de representação dos trabalhadores.
Legislação permite, mas exige critérios
Washington Barbosa, mestre em Direito e CEO da WB Cursos, explica que a legislação trabalhista brasileira permite salários iguais para funções diferentes dentro da mesma categoria. Porém, isso deve respeitar o valor mínimo legal e o piso estabelecido em convenções coletivas.
“Se você faz uma determinada coisa por R$ 2 mil, e tem outra pessoa do seu lado que faz exatamente a mesma coisa por R$ 3 mil, então você tem direito a ganhar igual”, afirma.
Ele acrescenta que a empresa pode, futuramente, ajustar salários por meio de um plano de carreira, desde que respeite o princípio da isonomia salarial.
Ministério Público do Trabalho monitora a situação
Em nota à Repórter Brasil, o Ministério Público do Trabalho na Bahia informou que não há necessidade de intervenção no momento. Segundo o órgão, ele só atua em caso de denúncias ou quando há solicitação de mediação.
Caso de trabalho análogo à escravidão em 2024
No final de 2024, a BYD foi responsabilizada por manter trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão durante as obras da fábrica. Os contratos analisados previam jornadas de até 70 horas semanais, muito acima do permitido por lei.
Quatro acidentes de trabalho foram registrados, com casos graves como amputações e perda de movimentos. A prestadora de serviços Jinjiang e a BYD foram notificadas em dezembro.
Após a fiscalização, a montadora rompeu o contrato com a Jinjiang e regularizou as condições dos trabalhadores. Também providenciou o retorno de operários chineses ao país de origem.
Em nota, Alexandre Baldy, vice-presidente da BYD Brasil, disse que a empresa colabora com os órgãos públicos desde o início. “Decidimos romper o contrato com a construtora Jinjiang”, afirmou.
Produção atrasada pode impactar presença da BYD no país
A indefinição salarial pode afetar o cronograma da montadora. Até agora, apenas mil dos dez mil trabalhadores previstos para este ano foram contratados. Isso pode comprometer o início da produção e dificultar a capacitação de pessoal.
A demora também pode enfraquecer a posição da empresa na disputa contra as tarifas de importação. Com fabricação local, a BYD evitaria os 35% de imposto que podem ser aplicados aos carros elétricos importados até julho.
Expectativa na região é grande
A população de Camaçari aguarda com esperança a reativação do polo industrial. Desde o fechamento da Ford, em 2021, cerca de 12 mil trabalhadores foram demitidos, entre diretos e terceirizados.
A prefeitura estima que R$ 20 milhões deixaram de circular por mês na economia local após a saída da Ford.
O presidente do sindicato resume a situação: “A gente quer que a empresa dê certo, que a empresa comece a produzir logo, que a empresa dê emprego, mas a gente quer também que seja uma condição justa para com os trabalhadores, que a gente possa tratar de forma igualitária.”
Com informações de Repórter Brasil.
Misericórdia! Os veículos tão caros e um salário miserável desse, O meu primeiro emprego em 1982 numa indústria textil em Salvador, já era um salário mínimo e meio, que seria hoje, 2.250,00! Que salário de fome é esse que querem pagar para esses trabalhadores? Nem a 2.000,00 não chega a ser o piso salarial!