Com a pandemia e a guerra da Rússia, países poderão mudar suas matrizes de energia, a chamada transição energética
A junção dos efeitos da pandemia e da guerra da Rússia com a Ucrânia vai modificar a forma de como os países direcionam a chamada transição energética, mudança de energia, para combater as mudanças climáticas, de acordo com dados expostos por especialistas ao CNN Brasil Business.
O termo “transição energética” se refere ao processo de modificação na matriz energética de algum país, mais recentemente especificando a substituição de fontes poluentes por fontes de energia limpa, como as energias eólica, solar e hidrelétrica.
Esse processo de transição energética, que ainda é novo, poderá obter novas concepções após os acontecimentos dos últimos anos, como a guerra e a pandemia, incorporando um termo que voltou a ser utilizado: segurança energética.
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A AIE (Agência Internacional de Energia) expôs um relatório nesta primeira semana de agosto onde ele afirma que a demanda pela energia vinda do carvão em 2022 pode chegar ao maior nível já registrado em 2002.
O recorde dessa utilização de energia ocorre enquanto muitos países procuram administrar as emissões de gases poluentes, com o carvão sendo uma das fontes mais prejudiciais ao meio ambiente.
No mesmo documento, a AIE comenta que a transição energética está ligada à mudança de postura dos países após as consequências da pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Para os especialistas, a transição energética não acabou e é necessária para evitar as mudanças ainda mais extremas no clima global, porém ainda não há como saber qual velocidade ela poderá ter após as crises ocasionadas pela guerra e pela pandemia.
Transição energética após consequências da guerra e da pandemia poderá vir com mais segurança
A grande modificação de padrão para a transição energética, de acordo com o diretor do Centro Brasileiro de energia (Cbie) Adriano Pires, veio com a guerra entre Ucrânia e Rússia, uma vez que começou a ser essencial conciliar a preocupação climática com a de fornecimento de energia.
O diretor afirma ainda que a tendência agora é de uma transição energética com mais segurança. “Os combustíveis fósseis voltaram a ter um certo protagonismo e o cenário atual mostra que eles foram demonizados rápido demais”.
Adriano espera ainda que os países procurem construir matrizes energéticas cada vez mais diversificadas, incluindo as de combustíveis fósseis, de maneira a compensar a vulnerabilidade de cada tipo de fonte energética.
As energias renováveis, por exemplo, possuem como principal problema a intermitência, com uma capacidade de geração de energia que depende de fatores como intensidade de chuvas, vento e sol, ao passo que os combustíveis fósseis possuem fatores de risco que envolvem preço, fornecimento e poluição.
Por isso, o diretor considera que enquanto as fontes renováveis não passarem uma segurança de fornecimento para os países que querem introduzir a transição energética, o uso de combustíveis fósseis vai continuar.
Para especialista, países deverão investir na transição energética devido ao preço dos combustíveis fósseis
Para Edmilson Moutinho, professor do IEE-USP, as sinalizações na economia têm sido graduais, porém com o objetivo de estimular investimentos em outros tipos de energia em virtude do salto dos preços do petróleo com a guerra e a pandemia.
Essa reação, contudo, é a longo prazo e diverge dos esforços de curto prazo dos países. A China, por exemplo, voltou a utilizar o carvão quando não conseguiu atender à procura do país por energias renováveis e gás natural.
Países europeus, especialmente a Alemanha, reativaram suas usinas termelétricas movidas a petróleo e carvão, ao passo que a Rússia excedeu o fornecimento de gás, prometendo que a ação é temporária.
Na opinião de Moutinho, o gás natural é a fonte de energia não renovável mais beneficiada pelo novo cenário pelo fato de ser menos poluente que o petróleo e o carvão, sendo que ele passou a ser taxado como seguro e importante na transição energética pós guerra e pandemia.