De um traço na areia a bilhões de escaneamentos por dia: a criação que passou despercebida, mas mudou tudo que você compra
Você já deve ter passado um produto no caixa do supermercado sem pensar muito naqueles riscos pretos sobre fundo branco.
Mas por trás do código de barras – aquele conjunto aparentemente simples de linhas verticais – há uma história surpreendente de genialidade, resistência e transformação econômica.
Hoje, o sistema é responsável por identificar trilhões de produtos no mundo todo, sendo escaneado mais de 6 bilhões de vezes por dia. Mas nem sempre foi assim.
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A origem: um pedido desesperado de um comerciante americano
A história do código de barras começa com um pedido bem específico feito em 1948 por um gerente de supermercado da Filadélfia a uma universidade local.
Ele queria um sistema automático para registrar os preços dos produtos na hora da venda, o que eliminaria as filas e o trabalho manual dos caixas.
O pedido chegou até Norman Joseph Woodland, então um jovem engenheiro e inventor, e a seu colega Bernard Silver, que se debruçaram sobre a ideia.
Inspirado pelo código Morse, Woodland teve um “estalo” enquanto passava férias na casa de seu avô na Flórida.
Ele desenhou uma sequência de linhas na areia da praia, baseando-se nos pontos e traços do código Morse, mas transformando-os em linhas verticais com diferentes espessuras.
Era o embrião do que mais tarde viraria o código de barras.
A primeira patente: bem antes de sua aplicação
Em 1952, Woodland e Silver patentearam o sistema com o nome de “Classifying Apparatus and Method” – algo como “Aparelho e Método de Classificação”.
Mas, na época, a tecnologia para leitura dos códigos ainda não existia. Foram precisos mais de 20 anos para que os leitores de código de barras se tornassem viáveis e eficientes o bastante para uso comercial.
Bernard Silver não viveu para ver sua invenção ganhar o mundo: ele morreu em um acidente de carro em 1963.
Woodland, por sua vez, chegou a trabalhar na IBM, onde tentou convencer a empresa a desenvolver um scanner compatível com sua invenção.
Mas os obstáculos técnicos e a falta de interesse fizeram com que o projeto ficasse engavetado por anos.
A virada dos supermercados e o nascimento do UPC
A grande virada aconteceu nos anos 1970, quando as principais redes de supermercados dos Estados Unidos se uniram para criar um sistema de codificação universal.
A ideia era padronizar a identificação de produtos para agilizar as vendas e os estoques. Foi então criado o UPC – Universal Product Code, uma versão simplificada e padronizada do código idealizado por Woodland e Silver.
O primeiro produto do mundo escaneado com código de barras foi um pacote de chicletes Wrigley’s Juicy Fruit, no dia 26 de junho de 1974, em um supermercado da rede Marsh, em Ohio.
O item está até hoje em exibição no Smithsonian, museu nacional dos EUA, como um marco da automação comercial.
Do supermercado para o mundo: a expansão global
Com a adoção massiva do UPC nos EUA, o sistema se espalhou rapidamente por outros países.
O Brasil começou a usar códigos de barras em 1984, com padronização coordenada pela GS1 Brasil, organização responsável até hoje pela atribuição dos códigos no país.
Hoje, o código de barras é usado em mais de 190 países, e em setores que vão muito além do varejo: saúde, logística, indústria, serviços, eventos e até documentos governamentais.
Tudo que precisa ser identificado de forma rápida e precisa, passa por algum tipo de codificação automática.
Mais do que linhas: os tipos e evoluções do código de barras
Você já deve ter notado que nem todos os códigos de barras são iguais. Existem diversos padrões, como:
- EAN-13: usado no varejo em geral, com 13 dígitos.
- UPC-A: comum nos EUA, com 12 dígitos.
- DataMatrix e QR Code: versões bidimensionais que armazenam muito mais informação.
A revolução dos QR Codes, aliás, tem raízes no mesmo princípio criado por Woodland: simplificar a leitura de dados com eficiência.
A diferença é que os códigos 2D permitem guardar links, textos, geolocalização e muito mais – o que os torna populares em pagamentos via celular, marketing e rastreamento de produtos.
Impactos que ninguém previa
Poucas invenções impactaram tanto a logística global quanto o código de barras.
Com ele, o controle de estoques se tornou automatizado, as perdas foram reduzidas, a análise de vendas ficou mais precisa e o atendimento ao consumidor se tornou mais rápido.
Hoje, é difícil imaginar um mundo sem esse sistema.
Desde identificar medicamentos e garantir a procedência de alimentos, até controlar bagagens em aeroportos e até organizar competições esportivas, o código de barras está em toda parte – e quase sempre passa despercebido.
Reconhecimento tardio, mas merecido
Joseph Woodland recebeu a Medalha Nacional de Tecnologia dos Estados Unidos em 1992, das mãos do então presidente George H. W. Bush, quase 40 anos após a invenção original.
O reconhecimento veio tarde, mas consagrou seu legado como um dos responsáveis pela revolução silenciosa que impulsiona o comércio moderno.
Curiosamente, ele nunca ficou rico com a ideia. A patente foi vendida por menos de US$ 15 mil em 1952, valor irrisório frente ao impacto que teria décadas depois.