Relações familiares em foco! Deputados brasileiros transferem milhões em emendas Pix para prefeituras lideradas por pais, irmãos e cônjuges. Com mais de R$ 171 milhões distribuídos em 2024, a prática expõe um jogo de interesses que desafia a ética e a transparência no uso do orçamento público. A crise entre os Poderes intensifica o debate sobre o tema.
No cenário político brasileiro, onde as relações de poder são frequentemente contestadas, uma prática vem chamando atenção pela sua peculiaridade e potencial polêmica.
Em pleno 2024, deputados federais destinam verbas públicas diretamente para prefeituras chefiadas por parentes próximos, um movimento que levanta questionamentos sobre transparência, ética e a verdadeira natureza do uso do dinheiro público.
De acordo com dados do portal Siga Brasil analisados pelo jornal Metrópoles, mais de R$ 171 milhões em emendas de transferência especial – conhecidas como emendas Pix – foram enviados em 2024 para prefeituras lideradas por pais, filhos, irmãos, cônjuges e outros parentes de deputados federais.
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Essa modalidade permite a transferência direta de recursos da União aos municípios, sem necessidade de convênios ou aprovação técnica prévia, e registrou um recorde de uso no último ano, especialmente devido às eleições municipais.
O destaque de Coari e outros casos emblemáticos
Entre os 20 municípios beneficiados, Coari, no Amazonas, lidera em valores recebidos.
O deputado federal Adail Filho (Republicanos), que também é primo do prefeito Keitton Pinheiro (PP), destinou impressionantes R$ 18,4 milhões à cidade.
Essa relação familiar traz à tona uma história política marcada por controvérsias: o pai de Adail Filho, Adail Pinheiro, foi impedido pela Justiça de assumir a prefeitura, mas reconquistou o cargo em 2024 após uma nova eleição.
Outro caso notável ocorre em Tucuruí, no Pará, onde a deputada Andreia Siqueira (MDB) encaminhou R$ 16,8 milhões ao município comandado pelo esposo, o prefeito Alexandre Siqueira (MDB).
Esse padrão se repete em diversas regiões do país, revelando um mapa de relações entre deputados e prefeitos que merece escrutínio público.
A tabela dos recursos distribuídos pelos deputados
Abaixo, veja a lista detalhada dos deputados, suas relações com os prefeitos beneficiados e os valores enviados:
Deputado (autor da emenda) | Cidade | Prefeito | Relação (deputado → prefeito) | Valor |
---|---|---|---|---|
Adail Filho | Coari (AM) | Keitton Pinheiro | Primo → Primo | R$ 18.434.456 |
Amanda Gentil | Caxias (MA) | Fabio Gentil | Filha → Pai | R$ 8.185.790 |
Andreia Siqueira | Tucuruí (PA) | Alexandre Siqueira | Esposa → Esposo | R$ 16.771.585 |
Daniel Barbosa | Arapiraca (AL) | Luciano Barbosa | Filho → Pai | R$ 13.000.000 |
Daniela do Waguinho | Belford Roxo (RJ) | Waguinho | Esposa → Esposo | R$ 10.000.000 |
Domingos Neto | Tauá (CE) | Patricia Aguiar | Filho → Mãe | R$ 10.085.792 |
Eduardo Bismarck | Aracati (CE) | Bismarck Maia | Filho → Pai | R$ 6.000.000 |
Elmar Nascimento | Campo Formoso (BA) | Elmo Nascimento | Irmão → Irmão | R$ 10.000.000 |
Eriberto Medeiros | Cumaru (PE) | Mariana Medeiros | Esposo → Esposa | R$ 4.000.000 |
Fernando Coelho Filho | Petrolina (PE) | Miguel Coelho | Irmão → Irmão | R$ 4.700.000 |
Gustinho Ribeiro | Lagarto (SE) | Hilda Ribeiro | Esposo → Esposa | R$ 7.285.792 |
Iza Arruda | Vitória de Santo Antão (PE) | Paulo Roberto | Filha → Pai | R$ 5.000.000 |
Júnior Mano | Nova Russas (CE) | Giordanna Mano | Esposo → Esposa | R$ 3.050.000 |
Meire Serafim | Sena Madureira (AC) | Mazinho Serafim | Esposa → Esposo | R$ 12.185.792 |
Ricardo Maia | Tucano (BA) | Ricardo Maia | Pai → Filho | R$ 11.728.311 |
Robério Monteiro | Acaraú (CE) | Ana Flavia Monteiro | Esposo → Esposa | R$ 8.135.792 |
Robério Monteiro | Itarema (CE) | Elizeu Monteiro | Irmão → Irmão | R$ 2.600.000 |
Rodrigo Gambale | Ferraz de Vasconcelos (SP) | Priscila Gambale | Irmão → Irmã | R$ 6.804.824 |
Thiago de Joaldo | Itabaianinha (SE) | Danilo de Joaldo | Irmão → Irmão | R$ 9.485.000 |
Yandra Moura | Japaratuba (SE) | Lara Moura | Filha → Mãe | R$ 4.385.000 |
Crise e negociações entre os poderes
O uso de emendas Pix provocou uma crise entre os Poderes em 2024.
Em agosto, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu os repasses, condicionando a retomada à adoção de medidas de transparência.
Após negociações e a aprovação de um projeto de lei complementar, Dino autorizou a liberação em dezembro, mas a crise permanece.
O conflito não se restringiu à esfera jurídica. Parlamentares manifestaram insatisfação com as novas regras impostas pelo STF, alegando que elas dificultam o exercício do mandato.
A Advocacia-Geral da União (AGU) tentou flexibilizar essas diretrizes, mas não obteve sucesso.
Em resposta, o governo federal articulou a criação de uma portaria interministerial para dar maior segurança jurídica aos repasses.
A “novela” jurídica deve se prolongar em 2025, especialmente com o início de uma nova legislatura.
A pressão por maior fiscalização nas transferências contrasta com a resistência de deputados, que defendem sua autonomia no uso de recursos.
Argumentos dos envolvidos
Os deputados mencionados no levantamento afirmam que suas ações estão alinhadas com os interesses de suas bases eleitorais.
Thiago Joaldo (PP-SE) justificou que o envio de recursos ao município de Itabaianinha segue critérios constitucionais e reflete o apoio da população local.
Já a deputada Meire Serafim (União-AC) ressaltou que Sena Madureira é uma prioridade em seu mandato, devido à sua expressiva votação na região.
A questão central, entretanto, não é a legalidade das transferências, mas a falta de transparência e de critérios objetivos na distribuição dessas verbas.
Para especialistas, essa prática pode enfraquecer a confiança da população nas instituições e reforçar a percepção de que os recursos públicos são usados como moeda de troca política.
E você, o que acha da destinação de recursos públicos a municípios geridos por parentes? Deixe sua opinião nos comentários!