Construção civil no Brasil enfrenta uma crise de escassez de mão de obra qualificada, mas está adotando medidas inovadoras para reverter essa situação.
A construção civil brasileira, um setor que tem se mostrado vital para a economia nacional, enfrenta um dilema crucial.
Embora seja responsável por 2,9 milhões de empregos formais no país, com uma presença forte nas estatísticas de contratação, o segmento vive um momento de transformação.
A escassez de mão de obra qualificada, combinada com uma força de trabalho envelhecida, exige adaptações rápidas e incisivas por parte das empresas do setor.
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Essas construtoras, em busca de inovação e competitividade, estão apostando em novas estratégias para atrair um público mais jovem e qualificado.
A difícil missão de atrair a nova geração
A construção civil no Brasil está em um momento de alta demanda.
Com o desemprego alcançando um dos índices mais baixos da história (6,6% em 2024), os desafios para encontrar e manter trabalhadores qualificados nunca foram tão evidentes.
Com uma idade média de 41 anos entre os profissionais do setor, as construtoras estão investindo cada vez mais em alternativas para rejuvenescê-lo.
De acordo com o jornal Estadão em matéria publicada neste domingo (02), isso inclui não apenas aumentos salariais, mas também a incorporação de novas tecnologias nos canteiros de obras e programas de capacitação, além de incentivos para atrair mais mulheres para o setor.
Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre, “com a economia aquecida e o desemprego no menor patamar histórico, o desafio da construção civil é atrair, treinar e reter mão de obra”.
No entanto, uma estratégia inovadora tem ganhado espaço no mercado: a digitalização dos processos e a industrialização das construções.
Esses avanços não só visam otimizar os serviços, como também fazem com que a construção civil se torne mais atraente para os jovens, nativos digitais, que estão cada vez mais exigentes com as condições de trabalho.
Novas formas de capacitação e retenção
Uma das iniciativas mais notáveis nesse cenário é o conceito da “fábrica-escola”.
A construtora Tenda, por exemplo, criou esse modelo em 2023 para formar profissionais nas funções mais técnicas, como acabamento, pintura e instalação de cerâmica.
Lucas Moura, gerente de Gente e Gestão da Tenda, afirma que “um dos principais resultados foi a reposição rápida de colaboradores, com impacto mínimo na linha de produção, pois o turnover ocorre dentro da escola, e não diretamente nas obras”.
Até dezembro de 2024, 151 jovens foram capacitados por meio dessa iniciativa, e muitos deles seguiram para cargos efetivos dentro da empresa.
Além disso, programas de inclusão social têm sido criados, como a contratação de refugiados venezuelanos que foram acolhidos em abrigos no estado de Roraima.
De acordo com Moura, o programa tem sido tão bem-sucedido que, além dos venezuelanos, “atraímos pessoas de outros países, como Angola e Haiti”.
Matuvanga Mputu, de 41 anos, natural de Angola, é um exemplo claro dessa nova realidade.
Ele foi treinado na escola-fábrica e se tornou efetivado, com planos de crescer no setor, inclusive trazendo sua família para o Brasil.
A revolução digital nos canteiros de obra
Enquanto as “fábricas-escola” representam uma forma eficaz de qualificar a mão de obra, a digitalização também se apresenta como uma força disruptiva no setor.
Segundo o Estaão, empresas como a Vinx estão investindo pesadamente em tecnologia para tornar os canteiros de obras mais eficientes.
Fábio Gato, gestor de Qualidade e Segurança do Trabalho na Vinx, detalha como a digitalização tem transformado a gestão das obras: “As conferências de serviços executados nas obras e até mesmo da chegada de material nos canteiros, por exemplo, já são feitas com tablets e aplicativos no celular”.
Essa mudança proporciona uma redução significativa de erros e economiza até 80% do tempo que antes era gasto com papel.
Ao adotar tecnologias, as construtoras conseguem otimizar os cronogramas e evitar atrasos, o que é crucial em um momento de alta demanda como o atual.
A digitalização não apenas melhora os processos, mas também atrai os jovens, que estão mais familiarizados com esses recursos tecnológicos e exigem um ambiente de trabalho mais moderno.
Gato também observa que estagiários já questionam sobre a utilização de digitalização antes de aceitar uma vaga, evidenciando a crescente importância da tecnologia no setor.
Salários mais altos para atrair e reter talentos
Para combater a escassez de mão de obra, as construtoras também estão adotando uma medida eficaz: a elevação dos salários.
Dados do Sinduscon-SP, Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo, mostram que o setor cresceu 4,4% em 2024, e uma das formas de atrair mais profissionais é justamente através de remunerações mais altas.
A média salarial no setor de construção civil é de R$ 3.661 mensais, já superior ao de outros segmentos da indústria.
Além disso, algumas construtoras estão adotando um modelo de remuneração por produtividade, o que pode fazer com que o salário de um trabalhador chegue a até R$ 7,5 mil.
Ana Maria Castelo, do FGV/Ibre, observa que a capacitação é fundamental para aumentar a produtividade.
“É preciso capacitar pessoas, usar inteligência artificial para ganhar produtividade e atrair mais mulheres para o setor, que atualmente representam apenas 12% da mão de obra em São Paulo e 6% na média nacional”.
O futuro da construção civil no Brasil
A construção civil no Brasil tem um potencial de crescimento significativo.
O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, foi ampliado pelo governo federal, criando mais de 200 mil vagas formais no setor em 2024.
Porém, mesmo com esse aumento de vagas, ainda há uma grande escassez de trabalhadores.
Como consequência, a necessidade de inovação no setor nunca foi tão urgente.
A escassez de mão de obra também implica em aumento de custos, refletindo diretamente no preço dos imóveis.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 6,34% entre janeiro e dezembro de 2024.
Assim, é cada vez mais claro que as empresas precisam investir não apenas em salário, mas também em tecnologias e formas inovadoras de gestão de processos para garantir sua sustentabilidade no mercado.
A construção civil em plena transformação: a digitalização, os novos métodos de trabalho e a aposta no jovem são as chaves para o futuro do setor. Você acredita que a escassez de mão de obra continuará a ser um desafio, ou o mercado se adaptará a essas inovações?