Com 13 mil km de extensão, o trem de carga entre China e Europa cruza sete países, enfrentando mudanças de trilho, climas extremos e ajudando a manter cadeias globais de abastecimento ativas.
Um trem de carga que percorre 13 mil km partindo de Yiwu, cidade comercial no leste da China, até Madrid, na Espanha, continua sendo uma das maiores façanhas logísticas em operação no mundo. A rota é a mais longa do planeta feita por trem de carga sem interrupções diretas, e liga dois polos econômicos por meio de trilhos que atravessam desertos, planícies, florestas e centros urbanos da Ásia Central até a Europa Ocidental.
A jornada leva cerca de 16 dias, conectando dois continentes em uma única viagem ferroviária, com paradas técnicas e logísticas pelo caminho, mas mantendo um fluxo constante e regular de mercadorias. Este trem que percorre 13 mil km é peça-chave na integração comercial da Iniciativa Cinturão e Rota, proposta pela China para fortalecer o comércio intercontinental.
Um trajeto por sete países, entre fusos, climas e idiomas
Durante o percurso, o trem de carga cruza sete países: China, Cazaquistão, Rússia, Belarus, Polônia, Alemanha e Espanha. Em cada fronteira, são enfrentadas condições diferentes — do rigoroso inverno siberiano ao clima mais temperado do interior europeu — passando por altitudes elevadas, áreas semiáridas e trechos urbanos densos.
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O itinerário é operado com precisão para evitar interrupções, respeitando regulamentações alfandegárias, logísticas e ferroviárias específicas de cada nação. A complexidade aumenta por conta das diferenças de bitola (a largura dos trilhos), idiomas, horários e protocolos operacionais entre os países.
O que transporta o trem de carga que percorre 13 mil km?
A carga mais comum transportada pelo trem de carga que percorre 13 mil km varia conforme o sentido da viagem. Quando sai da China rumo à Europa, o trem costuma levar produtos eletrônicos, eletrodomésticos, peças automotivas, brinquedos e têxteis — itens de alto valor agregado e sensíveis a atrasos.
Na viagem de volta, da Europa para a China, o vagão retorna geralmente carregado com alimentos, vinhos, cosméticos, equipamentos industriais e produtos farmacêuticos. Como o trajeto é mais rápido que o transporte marítimo e mais barato que o aéreo, ele se torna uma alternativa eficiente para empresas que precisam cumprir prazos rígidos de entrega.
Segundo dados da Xinhua, mais de 11 milhões de contêineres já foram transportados por essa rota desde a sua inauguração em 2014, movimentando mais de US$ 420 bilhões em produtos.
Desafios logísticos em uma rota intercontinental
Operar um trem que atravessa quase um terço da superfície terrestre apresenta desafios logísticos únicos. A diversidade de regras ferroviárias, fusos horários e normas alfandegárias exige planejamento e coordenação entre autoridades internacionais.
Além disso, a geopolítica também influencia o trajeto. Tensões comerciais, mudanças nas tarifas, sanções internacionais e até conflitos regionais podem alterar itinerários ou provocar atrasos. No entanto, mesmo durante crises logísticas globais — como a pandemia ou os bloqueios marítimos no Mar Vermelho — o trem continuou operando, ajudando a manter cadeias de suprimentos ativas.
Como funciona a troca de trilhos e locomotivas
Um dos principais obstáculos do trem de carga que percorre 13 mil km é a diferença entre os sistemas ferroviários dos países atravessados. A China, Rússia e países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) utilizam bitola larga, enquanto Polônia, Alemanha e Espanha operam com bitola padrão europeia.
Para resolver isso, são realizadas trocas de vagões ou ajuste dos eixos das composições em pontos estratégicos da rota, especialmente nas fronteiras entre Belarus e Polônia. Nessas áreas, instalações especializadas permitem levantar os vagões e ajustar o material rodante ao novo padrão de trilho.
Também são feitas trocas de locomotivas ao longo do caminho, respeitando o sistema de tração, idioma dos condutores e regulamentações locais. A operação, embora complexa, é realizada com fluidez graças a um modelo coordenado de logística internacional.
Efeitos sobre o comércio internacional
O surgimento e consolidação dessa rota ferroviária ampliou significativamente as possibilidades de comércio entre China e Europa. Antes do trem, a maioria dos produtos dependia do transporte marítimo, que leva entre 30 e 45 dias para completar o mesmo trajeto.
Com o trem de carga, os produtos chegam à Europa em até 16 dias, reduzindo pela metade o tempo de entrega. Essa agilidade favorece setores que precisam de resposta rápida do mercado, como moda, eletrônicos, saúde e peças automotivas.
Outro impacto positivo está na redução da pegada de carbono. Embora ainda seja menos sustentável do que rotas marítimas em volume absoluto, o trem polui menos que o transporte aéreo e ajuda a descongestionar os principais portos europeus, que frequentemente enfrentam sobrecarga.
O trem segue rodando — e em expansão
Em 2025, o trem continua operando com centenas de viagens semanais, com algumas extensões chegando à França e até ao Reino Unido, por meio de conexões rodoferroviárias. A China também estuda ampliar a rede para incluir ramificações com destinos no Oriente Médio e Ásia Central, fortalecendo ainda mais os fluxos logísticos da Iniciativa Cinturão e Rota.
A longevidade e eficiência do trem que percorre 13 mil km demonstram como infraestruturas ferroviárias internacionais podem transformar o comércio global, conectando economias de forma mais ágil, segura e coordenada.