Existe alguma cidade brasileira onde “esquecer de morrer” é quase uma realidade? Exploramos Veranópolis (RS), os centenários da Bahia e os fatores que podem contribuir para uma vida excepcionalmente longa e saudável em nosso país.
A busca por uma vida longa e saudável é um desejo universal, e o conceito de “Áreas Azuis” – regiões do planeta onde a longevidade excepcional é uma marca registrada – fascina o mundo. Mas será que o Brasil esconde sua própria cidade brasileira com essas características, um lugar onde as pessoas não apenas vivem mais de 100 anos, mas o fazem com vitalidade?
Com foco em locais como Veranópolis, no Rio Grande do Sul, e nos notáveis centenários da Bahia, buscamos entender os “segredos” por trás de uma vida centenária em alguma cidade brasileira.
“Áreas Azuis”: o fenômeno global da longevidade extrema e seus “Power 9®” os pilares de uma vida longa
O termo “Áreas Azuis” identifica regiões onde as pessoas vivem vidas mais longas e saudáveis, com muitos ultrapassando os 100 anos. Exemplos famosos incluem Icária (Grécia), Okinawa (Japão) e Sardenha (Itália). Pesquisas nessas áreas revelaram nove características de estilo de vida compartilhadas, conhecidas como “Power 9®”.
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Esses pilares incluem mover-se naturalmente, ter um propósito (ikigai), desacelerar para reduzir o estresse, seguir a regra dos 80% (comer até estar 80% satisfeito), adotar uma dieta predominantemente vegetal, consumir vinho com moderação (opcional), pertencer a uma comunidade de fé, priorizar os entes queridos e cultivar uma “tribo certa” de amigos com hábitos saudáveis. Compreender esses princípios é crucial ao investigar a longevidade em qualquer cidade brasileira.
Veranópolis (RS): a “Terra da Longevidade” e uma potencial cidade brasileira com segredos de vida longa
Veranópolis, na Serra Gaúcha, é conhecida como a “Terra da Longevidade” desde a década de 1990, quando apresentou a maior expectativa de vida média no Brasil (77,7 anos). Há mais de 28 anos, o Instituto Moriguchi conduz pesquisas sobre o envelhecimento na cidade. Especialistas reconhecem em Veranópolis fatores similares aos das Áreas Azuis, como dieta não industrializada e vida comunitária.
Contudo, o número absoluto de centenários em Veranópolis é pequeno (duas mulheres em agosto de 2024). Sua fama parece derivar mais da qualidade do envelhecimento e da pesquisa intensiva do que de uma alta densidade de pessoas com mais de 100 anos. Os “segredos” desta cidade brasileira incluem uma dieta equilibrada (rica em vegetais, frutas e consumo moderado de vinho tinto), forte senso de comunidade, vida social ativa e ênfase na manutenção da atividade física e mental. O estudo de longo prazo do Instituto Moriguchi, possivelmente gerando um “Efeito Moriguchi”, também pode ter fomentado hábitos saudáveis.
Bahia: o estado brasileiro que se destaca com o maior número de centenários no país
A Bahia surpreende nos dados de longevidade, ostentando o maior número absoluto (5.336) e proporcional de centenários no Brasil, segundo dados recentes. Cidades como Salvador (516 centenários), Feira de Santana (157) e Alagoinhas (113) são destaques. O Dr. Leonardo Oliva, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, sugere que o estilo de vida culturalmente “mais alegre, feliz e cordial” e o valor dado às relações interpessoais podem ser contribuintes.
Outros fatores incluem tendências demográficas históricas e melhorias em políticas públicas de saneamento e saúde desde 2003. A notável longevidade em mais de uma cidade brasileira na Bahia, apesar de desafios socioeconômicos, sugere a importância de fatores culturais e de resiliência.
Em busca dos “segredos” brasileiros para a longevidade: pesquisas genéticas e iniciativas locais inspiradoras
A busca pelos segredos da longevidade no Brasil também passa pela genética. O “Projeto Sabe”, uma colaboração entre USP e UFMG, estuda centenários em todo o país, com foco em fatores genéticos na nossa população miscigenada, priorizando indivíduos de origens mais pobres. Achados preliminares já identificaram milhões de variantes genéticas únicas no Brasil.
Paralelamente, iniciativas como os projetos “Cidade Para Todas As Idades” em Jaguariúna (SP) e Atibaia (SP) mostram uma abordagem proativa para criar ambientes que apoiam o envelhecimento saudável. Enquanto isso, o número de brasileiros com 100 anos ou mais cresceu significativamente, aumentando 66,9% entre 2010 e 2022, chegando a 37.814 pessoas.
O que faz uma cidade brasileira ter pessoas que “esquecem de morrer”?
Os “segredos” da longevidade em qualquer cidade brasileira parecem ser uma combinação de fatores. Dietas baseadas em alimentos frescos e vegetais, atividade física regular, fortes laços sociais e familiares, um senso de propósito e uma perspectiva positiva de vida emergem como temas consistentes, tanto em Veranópolis quanto na Bahia. A crescente pesquisa genética também aponta para uma contribuição única da nossa diversificada herança.
Muitos desses elementos espelham os princípios das Áreas Azuis globais, mas com um “tempero” distintamente brasileiro. O Brasil, embora sem “Áreas Azuis” oficialmente designadas, revela seus próprios padrões de longevidade, e o estudo contínuo desses fatores é essencial para promover um envelhecimento mais saudável para toda a população.