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A reformulação da construção civil: 65% das maiores construtoras do Brasil não estavam entre as principais do setor há dois anos

Escrito por Corporativo
Publicado em 18/04/2023 às 16:17
Atualizado em 19/04/2023 às 07:59
Construção Civil
Queda de investimento público, consequências da Operação Lava Jato e crise econômica diminuem a participação do setor no PIB pela metade em dez anos

Queda de investimento público, consequências da Operação Lava Jato e crise econômica diminuem a participação do setor no PIB pela metade em dez anos

Segundo estudo da Prospect Analytica, a construção civil deve crescer 4,5% em 2023. A projeção animadora para empresas e profissionais de um setor que passou por grandes mudanças na última década 一 inclusive na lista de maiores empreiteiras do Brasil.

O levantamento, realizado pela revista O Empreiteiro, aponta que 65% das vinte principais empresas do setor não integravam a lista antes de 2021. Empresas de pequeno e médio porte cresceram e ganharam referência no mercado. É o caso da U&M Mineração e Construção, com 3 mil funcionários e a terceira maior receita do segmento: R$ 1,3 bilhões anuais.

Quem se mantém na liderança é a OEC, hoje com 9,3 mil empregados e receita de R$ 3 bilhões. Após mudar de nome em 2019, a Odebrecht teve redução de 70% da receita 一 em 2013, a construtora tinha faturamento de R$ 10 bilhões. Não à toa, ela é central para explicar as mudanças do setor na última década.

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A década de mudanças na construção civil

Nos últimos dez anos, o Brasil passou por mudanças drásticas no âmbito econômico 一 e isso teve grande impacto na construção civil. Não à toa, a participação do setor no PIB (Produto Interno Bruto) caiu de 6,5% para 3,3% no período. A taxa considerada ideal é de 7%, como visto em economias desenvolvidas como Estados Unidos e Reino Unido.

Com a necessidade de realizar obras de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o setor teve um período de crescimento. Foram investidos R$ 130 bilhões em obras de urbanização, infraestrutura e construção de estádios para sediar os dois maiores eventos esportivos do mundo.

Não à toa, a construção civil bateu o recorde de faturamento em 2013: R$ 179,6 bilhões de reais. A partir de 2014, no entanto, o Brasil passou por dificuldades econômicas e passou por quatro anos complicados.

“A questão fiscal somada à queda do investimento público refletiu nesta queda de participação do setor na economia”, explicou Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos de Construção Civil da FGV-Ibre ao Panorama da Construção Civil 2023, realizado pela Obramax.

Houve uma queda anual de investimentos públicos na construção civil de R$ 101 bilhões. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, ela era de R$ 179,8 bilhões, enquanto no governo de Jair Bolsonaro o setor recebeu R$ 78,4 bilhões anualmente.

Aprovado em dezembro de 2016, a Lei do Teto de Gastos Públicos limitou o crescimento das despesas do setor público ao valor da inflação. Além disso, os ministérios do Desenvolvimento Regional e Infraestrutura diminuíram os contratos de projetos acima de R$ 500 milhões.

A partir de 2017, a receita das construtoras voltou a crescer. Naquele ano, elas giravam em torno dos R$ 49,6 bilhões e fecharam 2021 na casa dos R$ 68,3 bilhões.

O impacto da Lava Jato na construção civil

Outro fator crucial para esta reconfiguração da construção civil foi a Operação Lava Jato, iniciada em 2014. Com mais de 80 fases e mais de 100 pessoas presas, a investigação apurou denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro bilionárias 

Sindicato das Indústrias da Construção pesada 一 prendendo políticos como o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e o ex-Ministro da Casa Civil José Dirceu.

No setor da construção, executivos de empreiteiras como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa foram presos e fizeram acordos de delação premiada. Entre eles estava Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht.

Em 2016, a construtora assinou acordo de leniência com Brasil, Suíça e Estados Unidos e para colaborar com as investigações 一 com 78 funcionários participando.

Para se desvincular dos desdobramentos da Lava Jato, a empresa mudou de nome para OEC em 2019. Ela se mantém como líder do setor no país até hoje, apesar da queda de receita.

Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa também continuam entre as principais empresas do segmento. Também impactadas pelas investigações, ambas possuem faturamento de R$ 1 bilhão atualmente.

Segundo levantamento do Poder de 360, houve uma queda de 90% no tamanho das empreiteiras investigadas. Além disso, cada uma das cinco maiores empresas do segmento tinham receita anual de R$ 4 bilhões 一 com a líder OEC sendo a única que chega perto com seus R$ 3 bilhões anuais.

Já um estudo do Sindicato das Indústrias da Construção Pesada aponta para uma queda de 60% nos gastos públicos 一 de R$ 114 bilhões em 2012 para R$ 43 bilhões em 2022. Além disso, houve o fechamento de 1,3 milhões de vagas de trabalho e a falência de 20% das empresas, com R$ 105 bilhões em impostos deixando de ser arrecadados entre 2015 e 2019.

Qual o panorama da construção civil em 2023?

Uma pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostra que o setor da construção civil registrou cerca de 430 mil vagas de emprego com carteira assinada entre março de 2020 e maio de 2022.

“Olhando a atividade, o setor está bastante aquecido. Olhando o mercado, há um ciclo produtivo que sempre tem uma defasagem em relação ao de negócios. A tendência é de uma demanda aquecida”, explica Castelo

Porém, ela alerta para as demandas familiares. “Houve uma queda no ano passado devido ao endividamento e crédito mais caro, o que deve se manter em 2023”. Mesmo assim, isso não é visto como uma pressão muito significativa sobre os preços.

Para mensurar os custos da construção civil, são usados o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M), mensurado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e o Sinapi, utilizado pelo IBGE.

Fundamentado nessas métricas, o Panorama da Construção Civil 2023 mostra que o cenário favorável de 2023 já poderia ser visto na comparação entre os dois anos anteriores. Enquanto os custos de materiais de construção em 2021 eram de 21,45%, os de 2022 caíram para 7,23%. A mão de obra foi de 11,76% em 2021 para 6,95% no período seguinte.

Sendo assim, a tendência é que a estabilidade no preço dos materiais estimule a confiança do consumidor em fazer reformas e obras, mesmo que ainda existam limitações monetárias. Consequentemente, isso acaba impactando na venda de imóveis e novos financiamentos.

A expectativa para a recuperação econômica do Brasil e o fôlego pós-pandêmico do mercado também mostram aspectos decisivos para bons resultados em 2023.

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