Imagens de uma aparente chuva de aranhas no interior de São Paulo e Minas Gerais viralizam e causam espanto. Entenda a ciência por trás deste fenômeno natural impressionante e saiba se há motivos para temer.
Vídeos e notícias mostrando o que parece ser uma chuva de aranhas têm circulado, especialmente de regiões do interior de São Paulo e Minas Gerais, gerando uma mistura de fascínio e alarme. Mas será que as aranhas estão realmente caindo do céu como gotas de chuva? A resposta curta é não.
Este fenômeno espetacular, popularmente conhecido como chuva de aranhas, é na verdade uma ilusão visual cativante, criada pelo comportamento social de certas espécies de aranhas, principalmente a Parawixia bistriata no Brasil. Vamos desmistificar este evento e entender sua real natureza.
Desvendando a “chuva de aranhas”
O efeito de “aranhas chovendo” é uma ilusão ótica. Ele é causado por teias comunais vastas e expansivas, tecidas por um grande número de aranhas. Essas teias podem ser incrivelmente finas e se estender por distâncias consideráveis, frequentemente suspensas no alto de árvores ou entre postes. Devido à sua finura, os fios de sustentação podem se tornar quase invisíveis a olho nu.
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Quando vistas de certos ângulos, as aranhas que se movem nessas tapeçarias de seda quase invisíveis parecem estar suspensas no ar ou “caindo”, criando a impressão de uma chuva de aranhas. É importante distinguir este fenômeno do “balonismo”, um método de dispersão onde aranhas jovens ou pequenas usam fios de seda para flutuar com o vento.
Parawixia bistriata
A principal espécie responsável pelos eventos mais dramáticos de chuva de aranhas no Sudeste do Brasil é a Parawixia bistriata. Esta aranha é relativamente pequena, com cerca de 2 centímetros de comprimento corporal, e possui ampla distribuição pela América do Sul, habitando diversos biomas brasileiros como Cerrado e Amazônia.
Diferente da maioria das aranhas solitárias, a Parawixia bistriata apresenta um comportamento semi-social ou colonial, formando colônias que podem ter até 500 indivíduos. Essas colônias geralmente se formam anualmente, sendo este estilo de vida fundamental para a construção das imensas teias.
Por que e como ocorre a “chuva de aranhas”?
A construção de teias comunais tão grandes pela Parawixia bistriata visa principalmente aumentar a eficiência na captura de alimento, como insetos voadores. A imensa área de superfície permite interceptar um volume maior de presas. Estas aranhas são noturnas; a edificação da teia ocorre geralmente após o pôr do sol, um esforço coletivo que pode ser concluído em cerca de uma hora.
Este comportamento está intrinsecamente ligado ao período reprodutivo das aranhas, que ocorre tipicamente de setembro a março no Sudeste do Brasil. O fenômeno da chuva de aranhas é, portanto, sazonal, mais comum durante os meses quentes e úmidos, quando há abundância de insetos. Durante o dia, as aranhas frequentemente se retiram para locais abrigados, muitas vezes agregadas em uma “bola de aranhas”.
Avaliando o risco da Parawixia bistriata para os humanos
Como a maioria das aranhas, a Parawixia bistriata possui veneno para subjugar suas presas. No entanto, múltiplos especialistas afirmam que seu veneno não é considerado medicamente significativo ou prejudicial para humanos. As picadas, caso ocorram, são raras e resultariam tipicamente em reações locais menores, pois são aranhas geralmente não agressivas.
Pesquisas laboratoriais que identificaram componentes pró-convulsivantes e anticonvulsivantes no veneno da P. bistriata (injetado em ratos) não indicam perigo em encontros cotidianos com humanos, pois as condições experimentais são muito diferentes de uma picada natural.
Visão dos especialistas sobre o fenômeno
Eventos de chuva de aranhas envolvendo a Parawixia bistriata foram notadamente registrados em Minas Gerais, como em São Thomé das Letras e Espírito Santo do Dourado, especialmente no verão. Dada a distribuição da aranha, é plausível que fenômenos similares ocorram no interior de São Paulo.
Especialistas como Cláudio Maurício Vieira (Instituto Vital Brazil) e o Professor Rodrigo Lopes Ferreira (UFLA) confirmam que este é um comportamento natural, ligado à alimentação e reprodução. Eles ressaltam o papel benéfico dessas aranhas no controle de populações de insetos. A ampla divulgação de informações corretas é crucial para transformar o alarme da chuva de aranhas em fascínio por este espetáculo da natureza.