Ele é maior que quatro campos de futebol e carrega mercadorias suficientes para abastecer um país inteiro. O Ever Ace é um dos maiores navios porta-contêineres do planeta — e transforma o comércio global a cada travessia.
Imagine um navio capaz de transportar, de uma só vez, o equivalente a 20 mil contêineres. Cada um com cerca de 6 metros de comprimento. Se esses contêineres fossem colocados em linha reta, formariam uma fila de mais de 120 quilômetros de extensão — uma distância capaz de cruzar cidades ou sumir no horizonte.
Esse é o Ever Ace, o colosso verde da Evergreen Marine, lançado em 2021 para revolucionar o transporte marítimo. Com seus impressionantes 400 metros de comprimento, 61,5 metros de largura e capacidade de carga de 23.992 TEUs (unidades de 20 pés), ele detém o título de um dos maiores navios porta-contêineres em operação no mundo. – Conheça o navio que consome por dia o equivalente a mil tanques cheios de caminhão — e cruza oceanos sem parar
Projetado na Coreia do Sul e construído no estaleiro Hudong-Zhonghua, na China, o Ever Ace faz parte da nova geração de embarcações ULCV (Ultra Large Container Vessel), criadas para aumentar a eficiência logística, reduzir custos e atender à demanda crescente do comércio internacional.
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Desde sua primeira viagem, o Ever Ace já cruzou o planeta várias vezes, conectando portos na Ásia, Europa e América, praticamente sem paradas longas entre os carregamentos. O navio opera em rotas otimizadas, com apoio de tecnologias de navegação de última geração e logística automatizada, o que permite que sua jornada ao redor do mundo seja feita com mínimas interrupções e máxima eficiência energética.
Com um consumo diário de milhares de litros de combustível, ele ainda assim consegue ser mais eficiente do que dezenas de cargueiros menores fazendo o mesmo trajeto. Isso porque seu tamanho permite economias de escala — reduzindo o custo por tonelada transportada, um fator decisivo no mundo globalizado.
Na proa, a imponente inscrição “EVER ACE” se impõe sobre o casco verde-claro, um símbolo visível de poder marítimo. Na popa, o motor principal — um dos maiores do mundo — movimenta com suavidade suas quase 240 mil toneladas de deslocamento, mesmo em alto-mar. E mesmo sendo um gigante, o Ever Ace é ágil o suficiente para cumprir prazos rigorosos em escalas apertadas, graças a rebocadores, manobristas portuários e softwares de rota assistida por inteligência artificial.
O que são os meganavios porta-contêineres?
Os ULCVs (Ultra Large Container Vessels) são os maiores navios cargueiros do mundo. Criados para atender à demanda crescente do comércio global, eles são projetados para maximizar o espaço de carga, reduzir custos logísticos por tonelada e aumentar a eficiência nas rotas marítimas internacionais.
Esses navios têm geralmente entre 400 e 430 metros de comprimento (maiores que a Torre Eiffel deitada) e capacidade para transportar mais de 20 mil TEUs (contêineres de 20 pés). Para comparação, um navio comum de carga leva cerca de 2.000 a 3.000 contêineres.
Modelos famosos: do Ever Given ao Ever Ace – ambos conhecidos como navios que levam 20 mil contêineres
O mundo conheceu o poder — e o risco — desses gigantes em março de 2021, quando o Ever Given, da empresa Evergreen Marine, ficou preso no Canal de Suez, bloqueando uma das principais rotas comerciais do planeta por quase uma semana. Com seus 400 metros de comprimento e mais de 200 mil toneladas, o navio ficou encalhado durante uma manobra, gerando um prejuízo estimado em US$ 9 bilhões por dia ao comércio mundial.
Outro modelo impressionante da mesma empresa é o Ever Ace, lançado em 2021. Com capacidade para 23.992 contêineres, ele é um dos maiores navios já construídos. O Ever Ace mede 400 metros de comprimento e 61,5 metros de largura, com altura equivalente a um prédio de 20 andares.
Outros navios desta classe incluem:
- MSC Gülsün (Mediterranean Shipping Company)
- HMM Algeciras (Hyundai Merchant Marine)
- CMA CGM Jacques Saadé (movido a GNL – gás natural liquefeito)
Essas embarcações são verdadeiras revoluções logísticas em alto-mar.
Como é feita a logística de embarque e descarregamento? O navio que leva 20 mil contêineres
A operação de carga e descarga de um meganavio é uma coreografia milimetricamente planejada. Cada contêiner precisa estar na posição exata para garantir o equilíbrio da embarcação, a rapidez do descarregamento e o cumprimento dos prazos logísticos.
Nos portos, guindastes gigantescos operam 24 horas por dia. Um terminal moderno como o do Porto de Roterdã (Holanda) ou de Xangai (China) pode movimentar mais de 100 contêineres por hora com equipamentos automatizados e operadores treinados. Todo o processo depende de softwares avançados, logística intermodal e integração com ferrovias e caminhões.
Além disso, há o desafio da identificação de cada unidade, pois as cargas variam de eletrônicos a alimentos, produtos químicos e veículos.
Quais são as rotas principais dos meganavios?
Os meganavios porta-contêineres seguem rotas comerciais fixas, determinadas por hubs logísticos e portos com estrutura adequada. As principais rotas são:
- Ásia – Europa: via Canal de Suez
- Ásia – América do Norte: cruzando o Pacífico até a costa oeste dos EUA (Los Angeles, Long Beach, Seattle)
- Ásia – América do Sul: passando por portos como Santos (Brasil) e Buenos Aires (Argentina)
- Rotas transatlânticas: entre Europa e América do Norte
As viagens podem durar de 15 a 45 dias, dependendo da distância e das escalas. O trajeto entre Xangai e Roterdã, por exemplo, leva cerca de 30 dias.
Como esses gigantes manobram e evitam acidentes?
Manobrar um navio com centenas de metros e milhares de toneladas exige tecnologia e experiência. Nos portos, o processo é auxiliado por rebocadores e práticos — profissionais que conhecem detalhadamente cada curva e profundidade local.
A bordo, o navio é equipado com:
- Sistemas de navegação por satélite (GPS e AIS)
- Sensores de profundidade
- Radar marítimo de longo alcance
- Propulsão assistida e lemes especiais
Mesmo assim, a margem de erro é pequena. No Canal de Suez, por exemplo, o canal tem cerca de 200 metros de largura em certos trechos, o que torna o cruzamento de navios quase impossível.
Além disso, mudanças climáticas, ventos laterais e falhas humanas continuam sendo desafios. Por isso, planos de contingência, treinamentos constantes e inteligência artificial estão cada vez mais presentes na navegação.
Curiosidades sobre os meganavios porta-contêineres
- O navio mais longo já construído foi o Seawise Giant, com 458 metros — mas era um petroleiro.
- Os navios porta-contêineres modernos são capazes de carregar cargas refrigeradas em contêineres chamados “reefers”.
- Mais de 90% de todo o comércio mundial passa por navios — e grande parte por porta-contêineres.
- Em média, um único navio pode carregar 200 milhões de itens, desde iPhones até brinquedos e peças automotivas.
- O custo para operar um desses gigantes gira em torno de US$ 40 mil a 100 mil por dia, incluindo combustível, tripulação e manutenção.
Incidentes históricos que marcaram o setor
Além do famoso encalhe do Ever Given, outros incidentes chamaram a atenção da indústria marítima:
- Maersk Honam (2018): Um incêndio destruiu parte da carga e causou mortes a bordo. Isso levou a discussões sobre cargas perigosas mal declaradas.
- MSC Zoe (2019): Durante uma tempestade no Mar do Norte, o navio perdeu 342 contêineres no mar, alguns com materiais tóxicos.
- Yantian Express (2019): Também atingido por incêndio, levando a um processo de salvamento e descarregamento parcial no Canadá.
Maersk Honam (2018): o incêndio que expôs os riscos invisíveis nos megacargueiros
Em 6 de março de 2018, o meganavio Maersk Honam, operado pela gigante dinamarquesa Maersk Line, foi atingido por um incêndio catastrófico no meio do Oceano Índico, a cerca de 900 milhas náuticas da costa da Índia. A embarcação, com capacidade para mais de 15 mil contêineres (TEUs), navegava da China para o Egito quando o fogo começou em um dos porões frontais, se alastrando rapidamente.
O incidente resultou na morte de cinco tripulantes e danos severos à estrutura do navio. As operações de resgate foram dificultadas pela intensidade das chamas e pela localização remota. Apenas dias depois, rebocadores especializados conseguiram conter o incêndio.
A tragédia gerou grande repercussão no setor marítimo e levantou um alerta crítico sobre as cargas perigosas mal declaradas. A investigação revelou que produtos químicos inflamáveis — mal identificados na documentação de embarque — podem ter sido o gatilho do incêndio.
A Maersk intensificou seus protocolos após o ocorrido, incluindo inspeções manuais em cargas suspeitas e punições para embarcadores que omitissem substâncias perigosas. Além disso, o caso pressionou a Organização Marítima Internacional (IMO) a revisar suas diretrizes de segurança sobre contêineres químicos e normas de combate a incêndios.
O Maersk Honam foi parcialmente reconstruído e renomeado como Maersk Halifax. Até hoje, o caso é citado como um dos incidentes mais graves com megacargueiros na era moderna, destacando os desafios ocultos da logística marítima global.
MSC Zoe (2019): quando o mar levou centenas de contêineres — e a segurança ambiental ao debate
Na noite de 1º para 2 de janeiro de 2019, o navio MSC Zoe, da Mediterranean Shipping Company, enfrentou uma intensa tempestade ao navegar pelo Mar do Norte. Durante a travessia entre Portugal e a Alemanha, o meganavio — com 396 metros de comprimento e capacidade para mais de 19 mil contêineres — foi violentamente sacudido pelas ondas e ventos superiores a 10 Beaufort.
Como resultado, 342 contêineres foram jogados ao mar, espalhando toneladas de produtos — incluindo peças automotivas, brinquedos, móveis, baterias de lítio e até materiais perigosos, como peróxidos orgânicos, altamente inflamáveis.
O acidente teve impacto direto na costa da Frísia, entre os Países Baixos e a Alemanha, onde dezenas de toneladas de cargas chegaram às praias. Populações locais se mobilizaram para limpar os resíduos, mas a dispersão de materiais tóxicos preocupou autoridades ambientais, levando a investigações sobre o potencial risco ecológico em áreas protegidas.
As autoridades marítimas da Holanda e Alemanha exigiram respostas da MSC e solicitaram melhorias nas práticas de amarração e verificação da carga. A IMO (Organização Marítima Internacional) também passou a discutir novos protocolos para evitar perdas de contêineres em mar aberto, especialmente em navios de grande porte.
O incidente do MSC Zoe reforçou o alerta sobre a fragilidade das amarrações em tempestades severas e a importância de rastrear e recuperar cargas caídas no mar, tanto por segurança quanto por proteção ambiental.
Yantian Express (2019): incêndio de grandes proporções em meio ao inverno do Atlântico Norte
Em janeiro de 2019, o Yantian Express, navio de bandeira alemã operado pela Hapag-Lloyd, sofreu um incêndio devastador a bordo enquanto cruzava o Atlântico Norte, em rota dos Estados Unidos para a Europa. O incêndio começou em um dos contêineres posicionados na proa e se espalhou rapidamente para outros compartimentos.
O navio, que transportava cerca de 7.500 TEUs, teve parte de sua carga comprometida antes que os esforços de resgate fossem organizados. A tripulação de 23 pessoas precisou ser evacuada em meio ao frio extremo e condições marítimas adversas. Rebocadores especializados demoraram dias para controlar as chamas e conduzir o navio até o porto de Halifax, no Canadá.
As causas do incêndio apontaram para combustão espontânea ou falha em cargas químicas, novamente levantando a questão sobre a declaração correta de materiais perigosos. Embora nenhuma morte tenha sido registrada, o prejuízo logístico e financeiro foi significativo, com a perda de centenas de contêineres e atraso de semanas na cadeia de suprimentos.
A Hapag-Lloyd declarou averbação geral (general average), um mecanismo legal que exige que todos os donos de carga a bordo compartilhem os custos do resgate — o que gerou protestos entre clientes.
O caso Yantian Express evidenciou a vulnerabilidade dos megacargueiros ao risco de incêndio químico mal contido, mesmo em embarcações modernas, e ampliou os debates sobre automação, sensores térmicos e normas globais de inspeção em navios de carga.
Por que esses navios são tão importantes para o mundo?
Os meganavios porta-contêineres são os motores invisíveis da globalização. Eles permitem que um produto fabricado na China chegue ao Brasil em poucas semanas, com custos logísticos diluídos pela alta capacidade de carga.
Sem eles, o preço de tudo — roupas, eletrônicos, alimentos importados — seria consideravelmente mais alto. Eles também viabilizam o modelo de “estoques enxutos” usado por grandes redes varejistas.
Com o crescimento do comércio online e das cadeias de suprimento globais, o papel desses navios tende a crescer ainda mais.
Os meganavios porta-contêineres, como o Ever Ace e o Ever Given, são ícones da era moderna. Gigantes de aço que cruzam os oceanos com cargas que sustentam economias inteiras. Eles não apenas conectam continentes — mas também nos lembram do alcance, da complexidade e da dependência que o mundo tem do transporte marítimo.
Da próxima vez que você olhar um produto importado em uma prateleira, lembre-se: ele pode ter cruzado o planeta dentro de um desses colossos dos mares.