Redução de biodiesel no combustível pode resultar em tiro pela culatra e desencadear falência de indústrias, desemprego, danificar motores e aumentar o preço dos combustíveis
Foi emitido, na última na última quinta-feira, 13 de maio, por montadoras e representantes dos setores de transporte, produção e distribuição de combustíveis, um posicionamento contra o aumento da mistura de biodiesel no combustível. De acordo com as entidades, o aumento do porcentual da mistura de biodiesel pode acarretar maiores custos ao transporte de cargas e, por conseguinte, influenciar no aumento dos preços dos produtos.
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Com a pressão para abaixar as emissões de carbono, a indústria automotiva já vem se preparando para atender limites mais rígidos nos próximos anos. Porém, segundo eles, a adoção das novas tecnologias não tem experiência com teores elevados de biodiesel na composição do combustível.
O movimento foi assinado e defendido pela Anfavea, Fenabrave e Sindipeças – entidades que, respectivamente, representam montadoras, concessionárias e fabricantes de autopeças – junto com a Fecombustíveis, a Brasilcom e a Abicom – do comércio, distribuição e importação de combustíveis -, e, do lado dos transportadores, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o SindTRR. O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), representante da indústria de petróleo e gás, também assina o posicionamento.
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Mistura do biodiesel com óleo diesel pode danificar motores e aumentar o preço dos combustíveis, dizem entidades que representam mais de 200 mil empresas do setor
O aumento na mistura do biodiesel no diesel tem preocupado entidades que representam mais de 200 mil empresas produtoras, distribuidoras, importadoras, revendedoras e transportadoras, além de indústrias relacionadas ao consumo de diesel. De acordo com eles, há sérios problemas no padrão de qualidade do combustível comercializado hoje, que poderiam gerar aumento no preço dos combustíveis, além de acarretar no mal funcionamento dos motores a diesel.
O grupo relata que os aumentos recentes do biodiesel no diesel tem gerado problemas de cristalização, higroscopia, baixa filtrabilidade e formação de borras do biodiesel, e, consequentemente, provoca danos a máquinas e motores; diminuição da vida útil; e baixa performance de equipamentos, além de aumento dos custos de manutenção e prejuízos aos mais diversos setores da economia e os brasileiros.
“Cabe destacar que o aumento compulsório de biocombustíveis na mistura do diesel somente deve ser estipulado mediante uma análise ampla e critérios fundamentados, garantindo viabilidade técnica e segurança não só para os produtores de biodiesel como para os usuários quanto à sua adoção”, defendem as entidades. O grupo diz que vem buscando diálogo com o Governo e a indústria de biodiesel para “solucionar os atuais problemas de teor e de qualidade do produto”.
Redução de biodiesel no combustível pode resultar em tiro pela culatra e desencadear falência de indústrias e desemprego
A medida do Governo em reduzir o biodiesel no combustível pode impactar indústrias que expandiram suas capacidades de atuação contando com a alta demanda, e, por conseguinte, gerar desemprego, uma vez que a cadeia produtiva de biodiesel emprega mais de 1,5 milhão de pessoas.
Cerca de 80% do biodiesel consumido no país é produzido a partir de óleo de soja puro e recuperado, cuja produção estimula a produção de farelo de soja, principal insumo da cadeia de rações – que, por sua vez, alimenta aves, peixes e suínos. O consequente impacto na inflação vai atingir a sociedade como um todo, inclusive os setores que hoje pretendem se beneficiar com a redução do combustível na bomba. Ou seja, a intervenção pode resultar em um tiro pela culatra.
Um parecer econômico realizado pela GO Associados, de Gesner Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Sabesp, aponta que a redução pode levar à falência empresas que realizaram investimentos e aumentaram a sua capacidade produtiva confiando no cronograma do Conselho Nacional de Política Enérgica (CNPE), definido por resolução de outubro de 2018, que foi repentinamente modificado na quarta-feira, 14, no leilão do produto que será colocado no mercado em maio e julho. “É uma medida que vai na contramão de vários aspectos da política pública. A cúpula do clima é bem ilustrativa. Neste momento, em que há todo um esforço mundial e que deveria ser nacional, de reduzir emissões, não faz nenhum sentido interromper um cronograma que já havia sido estabelecido”, diz Oliveira à Revista VEJA.