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Como a Arábia Saudita está usando água de 20 mil anos para fazer o deserto florescer

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 09/05/2025 às 20:09
deserto -
Como a Arábia Saudita fez brotar vida em um dos desertos mais secos do mundo, e o que ameaça esse projeto bilionário

Do calor extremo às colheitas de alta precisão: como a Arábia Saudita está cultivando no deserto com pivôs de 50 hectares

A Arábia Saudita, país conhecido por seu vasto território desértico e pelas maiores reservas de petróleo do planeta, está protagonizando uma revolução silenciosa, mas de proporções monumentais. Em meio às temperaturas escaldantes, com médias que variam entre 35 °C e 50 °C no verão e a escassez de rios e lagos, o país árabe está conseguindo cultivar alimentos e florescer no coração do deserto.

Essa transformação é resultado de um dos maiores projetos de irrigação agrícola do mundo: o sistema da Bacia de Wadi As-Sirhan, que utiliza a tecnologia de irrigação por pivô central para tornar cultiváveis áreas que até então eram absolutamente áridas.

Um gigante agrícola emergente

Com mais de 35 mil km² de terras aráveis atualmente — número que contrasta fortemente com os apenas 400 km² da década de 1960 — a Arábia Saudita aposta em inovação para garantir segurança alimentar. O projeto da região de Wadi As-Sirhan representa cerca de 7.800 km² desse total e é peça-chave na produção de frutas, legumes, ovos, pescados e flores.

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A iniciativa surgiu da necessidade de diminuir a dependência externa: o país importa atualmente cerca de 70% de todo o alimento que consome.

A tecnologia usada, desenvolvida originalmente nos Estados Unidos na década de 1940, permite uma irrigação aérea precisa, com rotação de estruturas metálicas circulares sobre áreas de até 50 hectares. O resultado são impressionantes círculos verdes que hoje se destacam nas imagens de satélite, contrastando com os tons ocres do deserto saudita.

Para uma melhor compreensão da escala, os campos agrícolas em uso ativo (verde escuro) ou em pousio (de cor marrom a canela) têm aproximadamente um quilômetro de diâmetro

Água fóssil: o preço invisível do milagre verde

Por trás da façanha tecnológica, contudo, esconde-se um desafio que pode comprometer o futuro desse modelo agrícola: o esgotamento das reservas de água subterrâneas, também conhecidas como águas fósseis. Esses lençóis freáticos, formados há milhares de anos, não se renovam com as chuvas, que são extremamente escassas na região. A água utilizada para irrigar os cultivos na Arábia Saudita remonta à última glaciação — ela permaneceu enterrada a grande profundidade por cerca de 20 mil anos, tornando-se um recurso finito e insubstituível.

Estudos indicam que mais de 80% da água fóssil já foi utilizada, o que coloca um prazo crítico de apenas 50 a 60 anos antes que esses recursos se tornem completamente inviáveis.

Uma mudança inevitável: diversificação e vigilância tecnológica

Consciente da insustentabilidade desse modelo a longo prazo, o governo saudita tem adotado medidas estratégicas. Entre elas estão:

  • Proibição do cultivo de trigo, altamente consumidor de água;
  • Monitoramento agrícola por satélite, com sensores para controlar o uso da água;
  • Estudos de viabilidade de cultivos mais eficientes em termos hídricos;
  • Expansão de propriedades agrícolas fora do país, em locais como Estados Unidos, China e Senegal.

Além disso, o país lançou o ambicioso plano Visão 2030, que visa diversificar a economia e reduzir a dependência do petróleo, investindo em setores como tecnologia, turismo e energias renováveis.

Turismo e cultura: o novo petróleo?

Desde 2019, a Arábia Saudita abriu suas portas para o turismo internacional, emitindo vistos para visitantes de diversos países. A medida faz parte de um movimento para suavizar a imagem de país fechado, atrair investimento estrangeiro e estimular novas fontes de receita — como o ecoturismo, o turismo religioso (em Meca e Medina) e a valorização de seu vasto patrimônio arqueológico, como as pinturas rupestres neolíticas encontradas na região de Al-‘Ula.

A água utilizada para cultivar essas plantações remonta à última glaciação. Conhecida como água fóssil, ela permaneceu enterrada em grande profundidade por cerca de 20 mil anos.

O futuro do reino: reinvenção ou obsolescência?

A Arábia Saudita chegou aonde poucos imaginavam ser possível: transformou desertos em campos agrícolas. Contudo, o custo ecológico dessa façanha pode ser alto demais. O esgotamento da água subterrânea coloca em risco o maior projeto agrícola do país e reforça a urgência de estratégias sustentáveis.

O sucesso do reino saudita nas próximas décadas dependerá menos do petróleo e mais da sua capacidade de inovar, preservar e diversificar. O deserto já foi vencido uma vez pela tecnologia. A pergunta agora é: será possível vencê-lo novamente — desta vez, de forma sustentável?

Você acha que a Arábia Saudita vai conseguir se reinventar a tempo? Deixe seu comentário abaixo.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, actualmente radicado en Río de Janeiro, Brasil, con trayectoria enfocada en la cobertura de temas militares, defensa, ciencia, tecnología, energía y geopolítica. Mi objetivo es traducir información técnica y compleja en contenidos accesibles y relevantes para un público amplio, siempre manteniendo el rigor periodístico. Sou apaixonado por explorar como a tecnologia y defensa impactam a sociedade eo desenvolvimento econômico. https://muckrack.com/noel-budeguer?

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