Levantamento da Nexus mostra que a China supera os EUA na percepção dos brasileiros em celulares, computadores, carros, inovação e inteligência artificial. Em corrida espacial, moda e cultura, porém, os Estados Unidos seguem na frente.
A percepção dos brasileiros sobre China e Estados Unidos mudou de patamar. Um estudo da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, divulgado em 1º de setembro de 2025, indica que a China é vista como melhor avaliada na produção de celulares, computadores e automóveis, e como mais inovadora e avançada em inteligência artificial.
A pesquisa, segundo a Nexus, ouviu 2.005 pessoas em todas as 27 unidades da federação, entre 15 e 19 de agosto, com margem de erro de 2 pontos percentuais e 95% de confiança. De acordo com reportagens que publicaram os resultados, a leitura é de uma mudança consistente na imagem tecnológica do país asiático no Brasil.
Apesar desse avanço, há campos em que o soft power norte-americano ainda pesa. Na corrida espacial, na indústria têxtil e em aspectos culturais, os EUA mantêm vantagem percebida por parte relevante do público. O quadro é de equilíbrio dinâmico: China como referência em bens tecnológicos e EUA como polo de cultura e aspiração.
-
Drex, nova moeda digital do Brasil, perde força e será lançada em versão “tímida” do real de papel: aposta do Banco Central mirava sucesso do Pix, integração com BRICS e redução a dependência do dólar, mas deve virar solução de bastidor bancário
-
Nordeste reativa megaprojeto bilionário que vai cortar o Brasil de norte a sul: hidrovia de 1.371 km com integração ferroviária deve movimentar R$ 5 milhões já no 1º ano, diz Codeba
-
Trump irrita os BRICS — outras nações se unem para combater tarifas, enquanto a China aposta em reformas financeiras para fortalecer o yuan e desafiar os EUA
-
Compras online em 2025: consumidores têm 7 dias para arrependimento e até 90 dias de garantia obrigatória, lembra especialista em Direito do Consumidor
Eletrônicos chineses como celulares e computadores lideram preferências no Brasil
Nos eletrônicos, os números são eloquentes. Seis em cada dez brasileiros (62%) afirmam preferir celulares e computadores chineses; 30% optam pelos americanos, e 8% não souberam responder. Entre jovens de 16 a 24 anos, a preferência chega a 64%, e no Nordeste sete em cada dez destacam os produtos da China. Esses recortes ajudam a explicar por que marcas chinesas se consolidaram como sinônimo de custo-benefício e inovação no mercado nacional.
A leitura dos dados sugere que a comparação não se resume a preço. O consumidor identifica, cada vez mais, qualidade percebida e ritmo de atualização nos dispositivos chineses. Segundo a análise publicada com o estudo, a China passou a ser associada, no imaginário do brasileiro, a liderança tecnológica nos segmentos de smartphones e computadores pessoais.
Essa preferência por eletrônicos chineses aparece também em faixas de renda mais baixas, o que reforça a tese de acessibilidade com performance. Já nas faixas de maior renda e ensino superior, há maior fidelidade a marcas americanas, um recorte clássico de posicionamento premium e ecossistemas de software.
Carros chineses x carros americanos segue disputa apertada e recortes regionais
No setor automotivo, o placar é mais equilibrado, mas ainda com leve vantagem asiática. 47% dos brasileiros preferem carros chineses, contra 40% que escolhem veículos americanos. No Sul, a China chega a 52% de aprovação. O dado conversa com a presença crescente de marcas chinesas no país e com a percepção de tecnologia embarcada e conectividade como diferenciais.
Por outro lado, o levantamento mostra que renda mais alta e ensino superior tendem a favorecer a opção por marcas dos EUA, possivelmente por histórico de marca, desempenho de pós-venda e portfólio consolidado em picapes e SUVs. Esse recorte sugere um mercado segmentado por atributos e posicionamento de valor.
O contexto macro também importa, pesquisas paralelas da Nexus sobre comércio exterior têm apontado o peso dos Estados Unidos como fornecedor de itens estratégicos ao Brasil, enquanto a China amplia protagonismo em bens de consumo e tecnologia, cenário que permeia as escolhas do consumidor.
Inovação e inteligência artificial mostra liderança percebida da China
Quando o assunto é inovação e inteligência artificial, a curva se acentua. Para 67%, a China inova mais do que os EUA; em IA, a vantagem é de 59% a 31% a favor dos chineses. Entre jovens e nas regiões Norte e Centro-Oeste, a percepção pró-China é ainda mais forte, o que indica gerações e territórios mais sensíveis a novas tecnologias e serviços digitais.
Esse retrato é consistente com estudos internacionais que medem o humor do público sobre IA. Em julho, a Ipsos reportou que 66% dos brasileiros dizem ter boa compreensão do que é inteligência artificial e 57% se dizem entusiasmados com seu uso em produtos e serviços, patamar relativamente alto frente à média global. O dado ajuda a contextualizar por que a liderança chinesa em IA encontra terreno fértil na opinião pública.
Para especialistas ouvidos na cobertura do estudo, o brasileiro associa a China a um ciclo rápido de inovação aplicada dos smartphones aos veículos eletrificados, passando por serviços alimentados por IA. Essa combinação reforça a leitura de liderança tecnológica do país asiático.
Onde os EUA ainda lideram: corrida espacial, moda e cultura
A mesma pesquisa registra vantagem dos EUA em corrida espacial. Para 59% dos entrevistados, os americanos estão mais avançados que a China, percepção mais forte entre renda alta e ensino superior. Em indústria têxtil, 46% preferem roupas produzidas nos EUA, contra 41% que valorizam itens chineses. No campo cultural, 47% dos brasileiros dizem se identificar mais com os EUA, enquanto 42% citam a China.
Esse recorte revela a coexistência de duas forças: hard power tecnológico associado à China e soft power cultural associado aos EUA. A preferência por música, cinema e estilo de vida norte-americanos permanece um ativo simbólico relevante, mesmo com a ascensão tecnológica chinesa no imaginário do consumidor.
Analistas lembram que, no debate geopolítico recente, parte do público brasileiro tem se mostrado mais aberto ao diálogo com os BRICS, o que também pode reconfigurar percepções sobre China e EUA no médio prazo.
Preferência de consumo não define projeto de vida: desejo de morar nos EUA
Um dado que contraria a tendência tecnológica: se pudessem escolher, 61% dos brasileiros gostariam de morar nos Estados Unidos; 25% optariam pela China. Em outras palavras, qualidade percebida de produtos não se traduz automaticamente em preferência de destino de vida. Pesam língua, cultura, oportunidades de carreira e renda associadas ao mercado norte-americano.
O recorte etário reforça o ponto: entre jovens de 16 a 24 anos, o desejo de viver nos EUA sobe para 70%. Mesmo em regiões onde a China vai bem nos eletrônicos, os EUA ainda vencem como projeto de vida. É um dissenso que merece atenção de marcas, governos e estrategistas de mercado.
Para o varejo e a indústria, o insight é claro: a decisão de compra pode favorecer a China hoje, mas a atratividade cultural e educacional dos EUA permanece decisiva em camadas da sociedade. Estratégias de posicionamento, mensagem e parcerias precisam considerar essa ambivalência.