Expansão dos gasodutos, revisão tarifária, biometano e uso do gás em transporte pesado movimentam a agenda regulatória e econômica do setor energético brasileiro em 2025, exigindo equilíbrio entre competitividade, infraestrutura e responsabilidade ambiental.
Agenda de 2025 traz prioridades estratégicas para o gás natural, mas pressão por preços mais baixos desafia expansão da infraestrutura
Investir na ampliação da infraestrutura de gasodutos sem aumentar o custo do gás natural para o consumidor será um dos principais desafios do setor energético brasileiro em 2025.
Com a retomada de obras paralisadas há mais de uma década e o avanço de projetos estratégicos como o Raia, na Bacia de Campos, e o Sergipe Águas Profundas, o país se prepara para uma nova fase de crescimento na malha de transporte.
No entanto, essa expansão esbarra em uma cobrança urgente da sociedade e dos grandes consumidores: manter o gás acessível e competitivo.
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Segundo especialistas do setor, o sucesso dessa missão depende diretamente de um fator-chave: a demanda, especialmente por parte das termelétricas.
Durante o painel Gás Natural e Biometano: qual o mercado que queremos?, realizado pela agência Eixos na abertura da Gas Week 2025, em 7 de abril, diversos representantes da cadeia do gás defenderam que é preciso organizar melhor os elos entre oferta, transporte e consumo para evitar distorções nos preços e garantir segurança energética.
Revisão tarifária, gas release e biometano são destaques da pauta regulatória
Entre os temas mais urgentes da agenda de 2025 estão a revisão tarifária das transportadoras, a criação de um programa de desconcentração de mercado — conhecido como gas release — e a regulamentação do chamado Combustível do Futuro.
Essas ações são consideradas fundamentais para aumentar a competitividade do gás natural, ampliar sua participação na matriz energética e dar mais previsibilidade aos investimentos privados.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), destravar os investimentos na malha de transporte é prioridade do Comitê de Monitoramento do Setor de Gás.
A pasta, porém, reconhece o desafio de conciliar a superação dos gargalos na infraestrutura com a chamada “modicidade tarifária” — ou seja, o compromisso de manter tarifas acessíveis para os usuários.
Investimentos precisam avançar sem penalizar consumidores
Adrianno Lorenzon, diretor de Gás Natural da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), destaca que a revisão da Base Regulatória dos Ativos (BRA), prevista na revisão tarifária, pode contribuir para a redução das tarifas.
Por outro lado, ele alerta que as incertezas sobre a demanda — especialmente das termelétricas — dificultam o alcance de preços mais baixos.
O recente cancelamento do leilão de reserva de capacidade por parte do MME foi, na visão de Lorenzon, acertado, pois permite mais tempo para discutir parâmetros técnicos.
Ainda assim, a indefinição sobre o futuro do leilão interfere diretamente no cálculo das tarifas de transporte.
“O leilão influencia o denominador do cálculo tarifário. Menos contratantes resultam em tarifas mais altas para os demais usuários”, explica Lorenzon.
Isso ocorre porque o sistema de transporte funciona de forma semelhante a um condomínio: quanto maior o número de participantes, menor o valor individual das tarifas.
Transportadoras pedem urgência e segurança regulatória
Para viabilizar os projetos previstos, as empresas transportadoras defendem a adoção de regras transitórias que permitam a liberação de novos investimentos com mais agilidade.
Rogério Manso, presidente da Associação de Empresas de Transporte de Gás Natural por Gasoduto (ATGás), afirma que os projetos Raia e Sergipe vão demandar reforços significativos na malha de transporte.
Ele ressalta que, após um hiato de mais de dez anos sem investimentos expressivos, o setor precisa de estabilidade e segurança jurídica para voltar a crescer com força.
“A indústria e o transporte precisam caminhar juntos. Não adianta aumentar a oferta sem ter para onde escoar o gás”, argumenta Manso.
Oferta e demanda precisam andar de mãos dadas
Sylvie D’Apote, diretora de Gás Natural do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), reforça a importância de alinhar oferta e demanda.
Ela avalia que o uso do gás em transporte pesado pode ser uma alternativa promissora, mas alerta que ainda há entraves importantes, como a situação indefinida das termelétricas.
“Se as térmicas saírem do sistema, teremos impactos severos nas tarifas”, pontua Sylvie.
A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) há anos defende a criação de políticas públicas voltadas ao uso do gás em veículos pesados, como caminhões e ônibus urbanos.
Marcelo Mendonça, diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, destaca o grande potencial de substituição do diesel por gás natural, o que ajudaria a ampliar o uso da infraestrutura e, indiretamente, reduziria o custo para todos.
Gas release e desconcentração do mercado são caminhos para reduzir preços
Outro tema que ganha destaque na agenda de 2025 é a implementação do gas release, mecanismo que visa desconcentrar o mercado atualmente dominado pela Petrobras.
Segundo Adrianno Lorenzon, da Abrace, essa política pode ajudar a criar um sinal de preço mais competitivo para o gás natural.
No entanto, ele afirma que a estratégia deve ser aplicada com cautela, para não desestimular investimentos na ampliação da oferta.
“O foco deveria ser o gás que a Petrobras compra de terceiros, como o da PPSA, produtores nacionais independentes e importações da Bolívia”, sugere Lorenzon.
Com isso, seria possível estimular a liquidez do mercado e garantir maior previsibilidade de preços.
Biometano e descarbonização entram em pauta com o Combustível do Futuro
Além do gás natural, o biometano — combustível renovável derivado do biogás — também deve ganhar protagonismo em 2025.
A regulamentação do programa Combustível do Futuro, que passa a vigorar no próximo ano, e os efeitos da reforma tributária podem moldar o futuro do biometano no Brasil.
Renata Isfer, presidente da Associação Brasileira do Biogás e Biometano (Abiogás), avalia que o novo marco regulatório pode tornar o biometano mais competitivo frente ao gás natural.
Entretanto, ela observa que a mudança do programa — que antes previa metas de volume e agora foca na redução de carbono — trouxe desafios adicionais.
“A mudança para um mandato de descarbonização torna o processo mais complexo, exigindo clareza regulatória para atrair investimentos”, afirma Isfer.
Caminho para o futuro do gás no Brasil exige equilíbrio e planejamento
O setor de gás natural brasileiro vive um momento decisivo.
A necessidade de modernização da infraestrutura, aliada à pressão por tarifas justas e políticas ambientais mais rigorosas, obriga o governo, empresas e sociedade a buscarem soluções integradas.
Em 2025, temas como revisão tarifária, expansão da malha de transporte, incentivo ao uso do gás em novos segmentos e o fortalecimento do biometano serão determinantes para moldar o futuro energético do país.
A chave está em promover investimentos com responsabilidade, garantindo segurança energética, competitividade e sustentabilidade para os próximos anos.