Pontes inacabadas da BR ilustram um problema que assombra a infraestrutura brasileira: o abandono de obras milionárias. Sem conclusão há décadas, esses viadutos deixaram comunidades isoladas e sem acesso ao progresso.
No Brasil, onde estradas federais interligam grandes centros urbanos e movimentam a economia, algumas obras inacabadas se transformaram em verdadeiros símbolos do abandono.
Entre elas, duas pontes inacabadas no Vale do Despraiado permanecem como um enigma à beira da BR-101, uma das principais rodovias do país.
Enquanto o tráfego flui por milhares de quilômetros entre o Norte e o Sul do Brasil, esse trecho simplesmente nunca saiu do papel.
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De acordo com o portal Diário do Litoral, localizadas no território de Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira, as estruturas deveriam integrar a BR-101, que se estende por 4.824 quilômetros.
No entanto, décadas após o início das obras, o que era para ser uma ligação essencial entre os estados permanece um cenário de concreto abandonado e mato crescendo sobre o asfalto inexistente.
A BR-101, também conhecida como Rodovia Governador Mário Covas, é um eixo fundamental para o transporte rodoviário no Brasil, atravessando 12 estados e conectando o país de ponta a ponta.
No entanto, o abandono de trechos estratégicos, como no Vale do Despraiado, demonstra como a infraestrutura rodoviária brasileira ainda enfrenta desafios estruturais e administrativos.
Estruturas abandonadas e um silêncio que ecoa há anos
No Vale do Despraiado, o que deveria ser uma rodovia movimentada deu lugar a um ambiente quase intocado.
Em vez de motores rugindo, o canto de sabiás-brancos, tiês-sangue e papagaios-da-cara-roxa preenche o vazio deixado pelo progresso que nunca chegou.
A população local, espalhada por pequenas comunidades caiçaras, depende de caminhos improvisados para chegar a destinos próximos.
A BR-101 prometia integrar a região ao restante do estado de São Paulo, mas o isolamento persiste, dificultando o acesso a serviços essenciais.
“Se a BR-101 tivesse passado por aqui, teríamos progresso. Sem ela, ficamos esquecidos por 40 anos. Só agora está começando a melhorar”, afirma Anderson Apolinário, servidor público em Itanhaém, cuja família vive na Juréia há três gerações.
Os moradores relatam que, sem acesso adequado, o transporte de mercadorias e o escoamento da produção agrícola da região ficam comprometidos.
Muitos produtos perecíveis acabam se perdendo no caminho devido às dificuldades logísticas, aumentando os custos e limitando a competitividade dos pequenos produtores locais.
Além disso, a falta de infraestrutura também impede o desenvolvimento do turismo ecológico, que poderia ser uma alternativa econômica sustentável para a região.
O Vale do Ribeira possui um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica preservada, mas sem acesso adequado, o potencial turístico segue subaproveitado.
Sem comunicação, sem infraestrutura e sem respostas
A precariedade da região se reflete na falta de serviços básicos.
Não há cobertura de telefonia móvel, internet só via satélite, e a energia elétrica é garantida por placas solares ou geradores improvisados.
O Governo do Estado chegou a instalar uma torre de rádio-telefonia UHF no passado, mas o equipamento nunca foi suficiente para eliminar o isolamento tecnológico.
A escola rural local já não funciona mais, e o atendimento médico é esporádico, dependendo da disponibilidade de profissionais que se deslocam até o local.
Apesar da ligação administrativa com Pedro de Toledo, os moradores se identificam mais com cidades litorâneas próximas, como Peruíbe e Iguape, reforçando a sensação de que o Vale do Despraiado permanece como uma terra esquecida, distante das políticas de desenvolvimento estadual e federal.
Além disso, a ausência de policiamento regular deixa a região vulnerável a ações criminosas e ao tráfico de animais silvestres, prática recorrente em áreas de difícil acesso.
Ambientalistas alertam que, sem fiscalização adequada, espécies ameaçadas de extinção correm riscos ainda maiores.
Por que a obra nunca foi concluída?
O trecho inacabado da BR-101 na Juréia tem sido alvo de discussões há décadas. Entre promessas políticas e entraves ambientais, o projeto nunca avançou para sua conclusão.
Especialistas apontam que, além da complexidade geográfica da região, o impacto ambiental foi um dos principais motivos para o congelamento das obras.
A Juréia é uma das áreas mais preservadas do estado de São Paulo, e qualquer intervenção precisa passar por rigorosos processos de licenciamento ambiental.
As tentativas de retomada do projeto enfrentaram resistência de ambientalistas e moradores preocupados com a degradação ambiental.
No entanto, a falta de uma solução viável gerou um paradoxo: enquanto a rodovia inacabada mantém a preservação da floresta, ela também isola comunidades que poderiam se beneficiar de um desenvolvimento sustentável.
Além disso, entraves burocráticos e falta de investimentos mantiveram a obra em um eterno impasse, sem solução à vista.
O futuro da BR-101: há alguma esperança?
Nos últimos anos, novos debates sobre a viabilidade da conclusão desse trecho da BR-101 surgiram, especialmente com o avanço de tecnologias que permitem obras de menor impacto ambiental.
Porém, até o momento, não há planos concretos para a retomada das construções.
Apesar das dificuldades, há exemplos de obras semelhantes que conseguiram ser retomadas com soluções inovadoras.
Projetos de infraestrutura sustentável têm sido implementados em diversos países, utilizando pontes estaiadas e túneis subterrâneos para reduzir os impactos ambientais.
Para que algo semelhante aconteça no Vale do Ribeira, seria necessário um compromisso firme entre governos, empresas e sociedade civil.
Enquanto isso, as pontes inacabadas permanecem como um testemunho silencioso do descaso com a infraestrutura no Brasil, e as comunidades locais seguem isoladas, esperando por um progresso que nunca chegou.