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Conheça a fábrica de carros da Fiat que foi abandonada em 2011 — Tudo continua funcionando, mas ninguém quer trabalhar lá e pode ser demolida

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 26/12/2024 às 14:27
fábrica de carros, Fiat
Foto: Reprodução

Uma antiga fábrica de carros da Fiat, abandonada desde 2011, ainda tem todas as suas máquinas funcionando, mas permanece sem funcionários

No litoral mediterrâneo da Sicília, uma fábrica de carros da Fiat abandonada parece estar congelada no tempo. O complexo industrial de Termini Imerese, erguido com apoio do governo italiano nos anos 1960 para impulsionar a economia da região e a indústria automotiva do país, enfrenta agora a iminente colapso.

O local é um ponto de atração para exploradores urbanos, que se aventuram para ver o que os antigos donos deixaram para trás no dia em que a fábrica foi fechada, em 2011. Assista a um vídeo abaixo em português de exploradores que foram ao local no mês passado.

O Início da história da fabrica de carros da Fiat: Uma promessa de desenvolvimento

A fábrica foi fundada em 1970, em Termini Imerese, um município siciliano à beira-mar. O governo italiano decidiu investir no sul do país, incentivando a produção de automóveis na região, tradicionalmente afastada dos grandes centros industriais do norte.

O governo ofereceu apoio financeiro importante para que a Sicília se tornasse um centro de produção automotiva, com foco na criação de empregos e na revitalização da economia local.

Para garantir o sucesso da operação, foram trazidas tecnologias de ponta e os melhores profissionais da indústria automobilística.

Durante anos, a fábrica empregou cerca de 3.200 trabalhadores, que ajudavam a produzir veículos emblemáticos como o Fiat 500, o Panda, o Punto e o Lancia Ypsilon.

A produção da fábrica de Termini Imerese simbolizava um novo capítulo para a indústria automobilística italiana e para a região.

O impacto da crise econômica global

Em novembro de 2011, porém, os portões da fábrica se fecharam pela última vez. O motivo principal do fechamento foi a crise financeira global, que afetou severamente muitas indústrias.

Para a Fiat, a produção em uma ilha distante do continente tornou-se inviável. As despesas logísticas aumentaram devido à necessidade de transportar peças e carros prontos através do mar, o que elevava o custo de produção em aproximadamente 1.000 euros por veículo. Esse custo extra tornou a operação insustentável.

A fábrica de Termini Imerese nunca conseguiu atingir mais do que 40% de sua capacidade máxima, o que gerou grandes perdas financeiras.

Em meio a esse cenário, a Fiat anunciou que a produção da Lancia Ypsilon seria transferida para Tychy, na Polônia, uma decisão que marcou o fim das operações em Sicília.

Tentativas de revitalização e as dificuldades

Após o fechamento da fábrica, várias tentativas de reabertura foram feitas. Em 2016, a Bluetec, uma empresa de Metec SpA, com o apoio de Invitalia, recontratou 120 ex-funcionários na tentativa de reviver a produção no local.

No entanto, essa tentativa também fracassou. Em 2019, os donos da Metec, Roberto Ginatta e Cosimo Di Cursi, foram investigados por fraude no valor de 16 milhões de euros, um golpe que levou à falência da operação e à prisão de Ginatta.

Essa sequência de falências, acusações de fraude e investigações se tornou uma constante no histórico da fábrica de Termini Imerese, que, desde o seu fechamento, passou a ser considerada um lugar amaldiçoado por muitos.

Cada tentativa de ressurgimento era seguida de um novo fracasso, e o destino da fábrica parecia selado. Em 2023, o local foi colocado a venda novamente, mas sem novas atualizações.

A fábrica de carros congelada no tempo

No entanto, o que resta hoje de Termini Imerese é uma verdadeira cápsula do tempo. Quando dois exploradores urbanos, Andrea e Eelco, se aventuram pelas instalações abandonadas, são imediatamente tomados pela sensação de que a fábrica ainda está esperando para recomeçar.

As portas rangem ao serem abertas e o eco do vazio preenche o ar, mas tudo ali parece como se tivesse sido deixado de forma abrupta, como se os trabalhadores tivessem saído para o almoço e nunca mais voltaram.

Dentro da fábrica, as linhas de produção ainda permanecem, assim como as cabines de pintura onde os carros eram finalizados.

Os dois exploradores se veem andando entre as máquinas e equipamentos, todos cobertos por uma espessa camada de poeira.

Alguns computadores estão ainda nas mesas, obsoletos, como se o tempo tivesse parado ali. Ferramentas descansam nas prateleiras, esperando, mas sem qualquer expectativa de uso.

Em um canto, troféus esquecidos ainda se destacam, desafiando a solidão do ambiente. O ambiente parece tão surreale que um dos exploradores chega a comparar o local com outro planeta.

As máquinas, mesmo paradas, ainda apresentam sinais de manutenção, com papéis nas paredes informando que as máquinas estavam sendo preparadas para um reinício que nunca chegou.

A tensão da presença

Em certo momento, enquanto os exploradores caminham pelos corredores vazios, eles ouvem um som distante e percebem que talvez não estejam sozinhos.

Um lampejo de luz aparece, e a tensão cresce. Rapidamente, eles se retiram, temendo serem pegos por seguranças do local.

A sensação de estar invadindo um lugar interditado faz a adrenalina subir, mas eles conseguem escapar, ainda com o coração acelerado.

A fábrica de Termini Imerese permanece de pé, mas rumores sobre sua demolição se espalham há anos. A realidade, no entanto, ainda é outra: o complexo industrial continua lá, resistindo ao tempo e ao abandono, como uma lembrança do que poderia ter sido um grande marco na história industrial da Sicília.

O futuro do passado

Embora a fábrica esteja prestes a ser demolida, seu legado permanece vivo nas memórias de ex-trabalhadores e nas ruínas que ainda guardam vestígios do que foi.

Para os exploradores urbanos, o local oferece uma rara oportunidade de mergulhar no passado e entender as complexas interações entre economia, tecnologia e as dificuldades de operar em uma ilha isolada.

A história da fábrica de Termini Imerese é um reflexo da realidade de muitos outros empreendimentos que, apesar das promessas iniciais, acabam sucumbindo aos desafios econômicos, logísticos e políticos.

Mesmo com as falências e o abandono, a antiga fábrica ainda é um lugar de curiosidade e uma peça de história que, embora prestes a desaparecer, sempre manterá uma sombra do seu legado.

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Walter Corrêa
Walter Corrêa
26/12/2024 21:01

É sempre muito triste ver uma indústria construída com amor ser abandonada

Wagner Luan
Wagner Luan
Em resposta a  Walter Corrêa
26/12/2024 21:01

Ver essas máquinas com marcas de uso permanente e funcionando por anos e anos sem ninguém para cuidar delas é uma vista triste.

excelente reportagem e vídeo! amém 🙏🙌❤️💯🇧🇷
excelente reportagem e vídeo! amém 🙏🙌❤️💯🇧🇷
27/12/2024 02:30

Parabéns

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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