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Canal do Panamá tem um ENORME problema — mas não é TRUMP e nem a CHINA

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/01/2025 às 13:11
CANAL DO PANAMÁ
Foto: PANCANAL FACEBOOK

O Canal do Panamá enfrenta uma crise preocupante que ameaça sua operação, e a causa não está relacionada a questões políticas como Trump ou a China.

O Canal do Panamá, um dos pilares do comércio marítimo mundial, enfrenta uma crise sem precedentes que ameaça sua operação e eficiência. Segundo o NYT, diferente do que muitos poderiam imaginar, o problema não está relacionado a tensões políticas globais ou disputas de influência entre potências como Estados Unidos e China

Quem atravessa o Canal do Panamá tem uma experiência que vai muito além da engenharia. Essa construção histórica, vital para o comércio global, enfrenta agora uma ameaça silenciosa e crescente: a mudança climática.

Mais do que preocupações sobre influência estrangeira ou políticas de administração, é o clima que tem colocado o futuro do canal em risco. Em 2023 e 2024, uma das piores secas já registradas mostrou os desafios que a escassez de água pode trazer para uma das passagens mais importantes do mundo.

A importância do Canal do Panamá

O Canal do Panamá é um elo essencial no comércio mundial desde sua inauguração em 1914. Ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, ele reduz drasticamente o tempo de navegação e os custos de transporte para milhares de embarcações todos os anos.

Sua expansão em 2016 permitiu o tráfego de navios maiores, reforçando sua relevância. No entanto, sua operação depende de uma condição essencial: a disponibilidade de água doce.

Cada travessia do canal utiliza cerca de 200 milhões de litros de água., retirados principalmente do Lago Gatún.

Com menos chuvas, os níveis do lago diminuem, comprometendo o funcionamento das eclusas que movem os navios de um oceano ao outro.

Em 2023, as chuvas foram escassas mesmo durante a temporada chuvosa, levando as autoridades do canal a reduzirem o número de travessias diárias em até 40%.

A seca de 2023–2024

A seca que atingiu o Panamá entre 2023 e 2024 foi amplificada por um forte episódio de El Niño. Esse fenômeno climático, intensificado pelo aquecimento global, alterou padrões de chuvas em todo o mundo, deixando os reservatórios do canal em situação crítica.

Com a água se tornando mais escassa, as travessias foram limitadas, e os custos dispararam. Empresas de navegação enfrentaram atrasos e custos adicionais, repassados aos consumidores na forma de produtos mais caros.

Em um momento, os direitos de passagem chegaram a ser leiloados, exacerbando a instabilidade no comércio global.

Impactos no comércio global

A redução na capacidade do canal gerou um efeito cascata no mercado. Rotas alternativas, como o corredor ferroviário no sul do México, ganharam destaque.

Apesar disso, nenhuma opção oferece a mesma eficiência e escala do canal. A longo prazo, a tendência é que o Panamá perca participação de mercado se a crise hídrica persistir.

O papel da Mudança climática

Estudos indicam que eventos climáticos extremos, como secas e tempestades, estão se tornando mais frequentes devido ao aquecimento global.

No caso do Panamá, temperaturas mais altas aumentam a evaporação nos reservatórios, agravando a escassez de água.

O problema não é apenas local. A mudança climática afeta toda a logística global, desde rotas marítimas até os custos de transporte.

Para garantir o futuro do canal, será necessário investir em soluções sustentáveis, como tecnologia de dessalinização e sistemas de captação de água.

Tensões políticas no Canal do Panamá

Enquanto isso, o Canal do Panamá também enfrenta pressões externas. Em 2023, o então presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, levantou questões sobre influência chinesa na região e sugeriu a possibilidade de os EUA retomarem o controle do canal.

Essas declarações não foram bem recebidas pelo governo panamenho, que reafirmou a soberania sobre o canal.

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, declarou em uma coletiva: “O Canal do Panamá é panamenho e pertence aos panamenhos. Essa soberania foi conquistada com sangue, suor e lágrimas.

A devolução do canal aos panamenhos, em 1999, foi vista como uma vitória histórica e um marco de independência.

Histórico de controle

Obras no Canal do Panamá (Foto: wikipedia)

A história do Canal do Panamá remonta ao século XVI, quando os espanhóis sonharam com uma rota que conectasse ambos os oceanos.

Contudo, foi apenas no início do século XX que os Estados Unidos assumiram o projeto, após a falha dos franceses em construir a passagem.

A construção do canal não foi apenas uma obra de engenharia, mas também um marco do imperialismo norte-americano.

O Panamá se tornou independente da Colômbia em 1903 com o apoio dos EUA, mas pagou um alto preço: a soberania sobre o canal foi cedida aos norte-americanos.

Nos anos seguintes, os EUA realizaram diversas intervenções no Panamá para proteger seus interesses comerciais. A mais grave delas foi a invasão de 1989, que deixou centenas de civis mortos, marcando um capítulo sombrio na relação entre os dois países.

Desafios atuais

Além das questões climáticas, o Panamá enfrenta novos desafios humanitários. Através do perigoso Darien Gap, migrantes de países como Haiti e Venezuela tentam chegar aos Estados Unidos.

Isso tem gerado pressão adicional sobre a infraestrutura do país e ampliado as demandas por colaboração internacional.

Por outro lado, a administração panamenha do canal tem sido amplamente elogiada nos últimos 25 anos. O governo local conseguiu modernizar a infraestrutura e manter a relevância do canal, mesmo diante de condições adversas.

Perspectivas futuras

No cenário global, a importância do Canal do Panamá como rota comercial continua inegável. Contudo, a combinação de mudança climática, competição comercial e tensões políticas exige soluções urgentes e coordenadas.

Investir em infraestrutura resiliente e colaboração internacional será essencial para garantir que o canal continue desempenhando seu papel vital na economia mundial.

Com a água se tornando um recurso cada vez mais valioso, o Panamá se encontra em uma encruzilhada. Mais do que nunca, o futuro do canal depende de ações concretas para enfrentar os desafios impostos pelo clima.

Entre a história rica e os novos desafios, o Canal do Panamá segue como um símbolo da conexão global e da resiliência humana.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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