O presidente da CNI acende um alerta estratégico sobre o futuro da indústria brasileira diante da crescente dependência da China e do risco de estagnação econômica, defendendo ações imediatas para evitar uma nova era de submissão produtiva.
A relação comercial entre Brasil e China segue crescendo, mas especialistas já alertam para os perigos de uma dependência excessiva que pode comprometer o desenvolvimento industrial do país.
Em artigo publicado na CNN Brasil, Ricardo Alban, empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destaca que o Brasil corre o risco de se tornar uma “colônia industrial” da China, caso não invista em sua capacidade produtiva e tecnológica.
Segundo Alban, a balança comercial bilateral mostra um quadro preocupante: apesar do volume crescente das trocas, o Brasil mantém uma posição vulnerável, exportando principalmente commodities e importando produtos manufaturados em larga escala.
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Conforme o artigo, em 2024, a China foi responsável por 28% das exportações brasileiras, o equivalente a US$ 94,4 bilhões, e por 24,2% das importações, totalizando US$ 63,6 bilhões.
No entanto, essa relação esconde um déficit estrutural na indústria de transformação, com um rombo de cerca de R$ 45 bilhões em produtos manufaturados.
“O Brasil está exportando cada vez mais commodities, mas não consegue agregar valor à sua produção industrial,” alerta Ricardo Alban. “Isso nos torna dependentes e reféns das cadeias globais comandadas pela China.”
O papel estratégico da indústria e o alerta de Alban
De acordo com o presidente da CNI, a indústria de transformação é um pilar fundamental para o crescimento econômico sustentável e para a geração de empregos qualificados no país.
Mesmo respondendo por 14,4% do Produto Interno Bruto (PIB), a indústria representa quase metade das exportações de bens e serviços (47,6%) e mais de 60% dos investimentos empresariais em pesquisa e desenvolvimento (62,4%).
Além disso, conforme Alban, é responsável por mais de um quarto da arrecadação de tributos federais (25,6%).
Para ele, a concentração das exportações brasileiras em produtos primários limita a capacidade do país de se desenvolver tecnologicamente e reduz o potencial de inovação, “o que faz com que o Brasil continue dependendo da demanda chinesa por soja, minério e petróleo, em vez de se tornar um fornecedor global de produtos industrializados de alto valor agregado.”
Estratégias para o futuro: inovação e encadeamento produtivo
Segundo Alban, o Brasil precisa urgentemente repensar sua política industrial e buscar formas de competir além do preço, focando em inovação, tecnologia e qualidade dos produtos.
Conforme ele destaca, o país deve investir em “nichos de mercado que valorizem diferenciais técnicos, design e atendimento personalizado, como a produção local de máquinas agrícolas, ainda dominada por importações chinesas.”
Além disso, Alban defende a criação de encadeamentos produtivos com empresas chinesas, que incluam a instalação de polos industriais no Brasil, favorecendo o uso de insumos e peças fabricados localmente.
Essa estratégia, segundo ele, pode promover a transferência de tecnologia, desenvolvimento industrial e a geração de empregos, evitando a mera montagem de produtos importados.
Investimentos chineses: avanço e desafios
Alban ressalta que, nos últimos anos, a presença de empresas chinesas no Brasil cresceu significativamente, sobretudo nos setores automotivo e eletrônico, com unidades instaladas em estados como Bahia, Goiás e Amazonas.
Um exemplo citado é a parceria com o grupo Windey Energy Technology Group Co., que pretende montar fábricas de turbinas eólicas e sistemas de armazenamento de energia no campus do SENAI CIMATEC, na Bahia, incluindo pesquisas em hidrogênio verde.
Apesar desses avanços, ele alerta que ainda falta uma política clara para garantir que esses investimentos “não sejam apenas plataformas de montagem, mas que contribuam efetivamente para o desenvolvimento da indústria brasileira.”
Commodities versus industrialização: o dilema brasileiro
Em seu artigo, Ricardo Alban destaca um exemplo emblemático da falta de agregação de valor na economia brasileira: a exportação de etanol para a China, que o utiliza para produzir combustível de aviação, vendido posteriormente com alto valor agregado.
Para Alban, isso representa uma repetição de um modelo histórico, no qual o Brasil “fornece a matéria-prima, enquanto outros países ficam com os ganhos da industrialização e comercialização.”
Ele adverte que esse padrão “reproduz um ciclo de dependência econômica e tecnológica que precisa ser rompido com urgência.”
Oportunidades na transição energética e tecnologia limpa
Conforme Alban, o Brasil tem potencial para liderar a transição energética mundial devido à sua matriz elétrica limpa e abundância de recursos renováveis.
Isso abre oportunidades para atrair investimentos em data centers sustentáveis e tecnologias inovadoras, como super baterias e sistemas avançados de armazenamento.
“Enquanto países como Estados Unidos e China utilizam energia termelétrica para alimentar seus data centers, o Brasil pode se destacar por oferecer energia 100% limpa,” ressalta Alban, destacando a vantagem competitiva brasileira.
O risco de desindustrialização e a urgência de políticas estratégicas
Segundo Ricardo Alban, a ausência de uma política industrial robusta pode aprofundar o desequilíbrio na balança comercial e aumentar a dependência do país em relação ao setor primário.
Ele lembra que a visita recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China resultou em uma série de acordos focados em energia, infraestrutura e educação tecnológica, mas ressalta que é preciso garantir que esses compromissos tragam benefícios reais para a indústria nacional.
“Não podemos abrir mão de nossa capacidade produtiva e tecnológica. É fundamental que a relação com a China seja de ganhos mútuos e desenvolvimento conjunto, e não uma nova forma de colonialismo econômico,” conclui Alban.
O futuro do Brasil na economia global
A mensagem de Ricardo Alban é clara: o Brasil tem a oportunidade de assumir protagonismo na economia mundial, mas isso exige vontade política, investimento em inovação e uma visão estratégica que valorize a indústria de transformação.
Somente assim o país poderá evitar o risco de ser uma mera colônia industrial, exportando apenas matéria-prima e importando produtos manufaturados, e finalmente garantir um futuro mais autônomo e sustentável para sua economia.
Você concorda com a análise de Ricardo Alban? Qual deve ser o papel do Brasil diante da expansão chinesa? Deixe sua opinião!
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