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Barragem de US$ 5 bilhões no Rio Nilo pode causar guerra na África? Egito enfrenta risco de falta d’água enquanto Sudão pode sofrer inundações

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 23/11/2024 às 20:45
Atualizado em 24/11/2024 às 09:41
Nilo, Sudão, África, barragem
Foto: Reprodução

A construção de uma mega barragem de US$ 5 bilhões no Rio Nilo ameaça o abastecimento de água no Egito e aumenta os riscos de inundações no Sudão, gerando tensão geopolítica.

A Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD, na sigla em inglês) é um dos projetos de infraestrutura mais ambiciosos da história da África. Situada no rio Nilo Azul, a barragem promete transformar a matriz energética da Etiópia, mas também é fonte de uma das disputas geopolíticas mais tensas do continente.

Desde o início de sua construção, em 2011, a GERD tem sido alvo de controvérsia envolvendo principalmente a Etiópia, o Egito e o Sudão, com implicações que vão além da segurança hídrica para incluir estabilidade política e econômica no nordeste da África.

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Acima: A barragem é a maior da África. 

A barragem e sua importância para a Etiópia

A GERD está localizada na região de Benishangul-Gumuz, cerca de 40 quilômetros da fronteira da Etiópia com o Sudão. Quando concluída, será a maior barragem da África, com uma capacidade instalada de 6.000 megawatts.

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Este marco representa um grande salto para a Etiópia, que atualmente enfrenta desafios significativos relacionados ao fornecimento de energia elétrica para sua crescente população de mais de 120 milhões de habitantes.

O governo etíope considera a barragem um símbolo de progresso e soberania. O país financiou a obra principalmente com recursos domésticos, como doações públicas e venda de títulos, demonstrando o forte desejo nacional de alcançar a autossuficiência energética.

Além de fornecer eletricidade ao país, a GERD também tem o potencial de exportar energia para os países vizinhos, como Sudão, Quênia e Djibuti, fortalecendo a posição da Etiópia como uma potência regional.

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Acima: O reservatório atrás da barragem tem aproximadamente o tamanho de Londres.

A controvérsia Internacional

Apesar dos benefícios para a Etiópia, a GERD gerou sérias preocupações em países vizinhos, especialmente no Egito e no Sudão. O Egito, que depende do rio Nilo para cerca de 90% de sua água potável e agricultura, teme que a barragem reduza significativamente o fluxo do rio.

A questão é particularmente sensível para os egípcios, que historicamente têm considerado o controle das águas do Nilo como uma questão de segurança nacional.

O Sudão, por sua vez, adota uma posição ambivalente. Embora reconheça os benefícios potenciais da GERD, como a regulação das enchentes e o acesso a energia barata, o país também expressa preocupação sobre o impacto do projeto na segurança hídrica e na gestão do sistema de irrigação.

Desde o início do projeto, diversos países e organizações têm empreendido esforços diplomáticos para resolver a disputa, incluindo negociações mediadas pela União Africana e pela ONU.

No entanto, os países envolvidos não chegaram a um acordo vinculativo sobre a operação e o enchimento do reservatório da barragem. A Etiópia insiste no direito de utilizar seus recursos hídricos para o desenvolvimento, enquanto o Egito exige garantias de que o fluxo do Nilo será mantido.

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Grande parte da barragem foi construída em segredo.

O enchimento do reservatório e a escalada das tensões

Um dos principais pontos de discórdia tem sido o ritmo de enchimento do reservatório da GERD. Em setembro de 2023, a Etiópia anunciou a conclusão da quarta e última fase do enchimento, aumentando a capacidade de retenção de água para 74 bilhões de metros cúbicos.

Este anúncio foi recebido com protestos veementes do Egito. Que acusou a Etiópia de agir unilateralmente e de violar o princípio de não causar danos significativos a países a jusante.

A situação se agravou ainda mais em setembro de 2024, quando o Egito mobilizou tropas para a Somália, em um movimento amplamente interpretado como uma resposta estratégica à crescente influência da Etiópia na região.

Além disso, o acordo entre a Etiópia e Somalilandia, que concedeu à Etiópia acesso ao mar, adicionou uma nova camada de complexidade à disputa.

Existe o perigo de uma guerra? Especialistas alertam que, embora o risco de um conflito militar direto permaneça baixo, a escalada das tensões aumenta a instabilidade. A região já marcada por conflitos internos e rivalidades geopolíticas, gerando ainda mais preocupações.

Impactos ambientais e sociais para a África

Além das disputas políticas, a GERD também levanta preocupações sobre seus impactos ambientais e sociais. A construção de grandes barragens frequentemente resulta em deslocamentos de comunidades locais, e a GERD não foi exceção.

Estima-se que milhares de pessoas foram realocadas para dar lugar ao projeto, muitas vezes sem compensações adequadas.

Do ponto de vista ambiental, há incertezas sobre como o barramento do Nilo Azul afetará os ecossistemas a jusante. A redução do fluxo de sedimentos, por exemplo, pode comprometer a fertilidade dos solos agrícolas no Sudão e no Egito.

Por outro lado, a regulação das enchentes e o aumento da disponibilidade de água durante a estação seca. Podem trazer benefícios para a agricultura e a gestão de recursos hídricos.

Informações técnicas do projeto da grande barragem do renascimento Etíope

CategoriaDetalhe
Nome do ProjetoGrande Barragem do Renascimento Etíope (GERD)
LocalizaçãoRio Nilo Azul, região de Benishangul-Gumuz, Etiópia
Tipo de BarragemBarragem de gravidade de concreto compactado
Altura Total145 metros
Comprimento1.780 metros
Capacidade do Reservatório74 bilhões de metros cúbicos
Capacidade Instalada6.450 MW
Número de Turbinas13 turbinas Francis (7 de 400 MW e 6 de 375 MW)
Custo EstimadoAproximadamente 5 bilhões de dólares
Início da ConstruçãoAbril de 2011
Conclusão Planejada2024 (etapas finais de operação iniciadas em 2020)
Objetivo PrincipalGeração de energia elétrica e desenvolvimento socioeconômico
Impacto RegionalDisputa hídrica com Egito e Sudão; potencial para abastecimento energético
Empresas EnvolvidasSalini Impregilo (Webuild) como contratada principal
Material PrincipalConcreto compactado a rolo

O futuro

Resolver a disputa em torno da GERD requer uma abordagem diplomática cuidadosa e um compromisso genuíno de todas as partes envolvidas.

A Etiópia, o Egito e o Sudão compartilham uma responsabilidade comum. Garantir que o rio Nilo continue sendo uma fonte de vida e prosperidade para milhões de pessoas.

O progresso pode ser alcançado por meio de negociações técnicas detalhadas e mediadas por organismos internacionais.

Um possível caminho seria a criação de um acordo que estabeleça diretrizes claras para o enchimento e a operação da barragem. Levando em consideração as necessidades e preocupações de todos os países.

A Grande Barragem do Renascimento Etíope é mais do que um projeto de infraestrutura. Ela simboliza as aspirações de desenvolvimento da Etiópia, os desafios de gestão de recursos hídricos compartilhados e as complexas dinâmicas geopolíticas da África.

Embora as tensões persistam, a GERD também representa uma oportunidade de cooperação regional. Mostrando que o rio Nilo pode ser um ponto de união, em vez de divisão, para os países que dele dependem.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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