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Acúmulo de lixo espacial na órbita terrestre preocupa especialistas e reacende debate sobre síndrome de Kessler, que pode deixar essas áreas inutilizáveis caso algo não seja feito

Publicado em 10/04/2025 às 14:03
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Uma visualização dos detritos que fervilham na órbita da Terra. Créditos: ESA

Um novo relatório da ESA destaca que o tronco da órbita terrestre acumula uma quantidade preocupante de detritos, o que pode resultar em colisões perigosas. A descoberta reforça a urgência de desenvolver tecnologias e políticas para a remoção e o controle do lixo espacial, protegendo satélites e futuras missões

A quantidade de lixo espacial na órbita da Terra está crescendo rapidamente. É o que mostra o Relatório Anual do Ambiente Espacial da Agência Espacial Europeia (ESA). O documento aponta que estamos lançando satélites em um ritmo muito maior do que eles conseguem sair de órbita. O resultado é um acúmulo de objetos que ameaça a segurança do espaço ao redor do planeta.

Atualmente, há cerca de 40 mil objetos sendo rastreados na órbita terrestre. Destes, somente 11 mil estão ativos e operacionais. O restante é composto por satélites quebrados e pedaços de naves espaciais. Ou seja: temos muito mais sucata do que equipamentos em funcionamento.

A ameaça da síndrome de Kessler

Segundo a ESA, esse cenário pode levar a um fenômeno conhecido como cascata de Kessler. Trata-se de uma reação em cadeia: colisões entre detritos geram mais detritos, que por sua vez causam novas colisões. Com o tempo, algumas órbitas podem se tornar tão perigosas que deixarão de ser utilizáveis.

A agência explica que mesmo que nenhum novo satélite seja lançado, o número de detritos ainda continuará crescendo. Isso porque os eventos de fragmentação — causados por colisões, explosões ou desgaste — acontecem de forma mais rápida do que a reentrada natural desses objetos na atmosfera.

Os números do lixo espacial

O relatório de 2025 da ESA traz estimativas impressionantes. Há cerca de 54 mil objetos maiores que 10 centímetros girando em torno da Terra. Entre 1 e 10 centímetros, o número sobe para 1,2 milhão. E há aproximadamente 130 milhões de pedaços entre 1 milímetro e 1 centímetro.

Mesmo os fragmentos menores podem representar perigo. Pequenas partículas em alta velocidade conseguem danificar satélites importantes, como o Telescópio Espacial Hubble e a Estação Espacial Internacional.

Esses fragmentos não vêm somente de colisões. Muitos são resultados de falhas explosivas ou do envelhecimento dos equipamentos em órbita.

Em 2024, por exemplo, os eventos de fragmentação não colisionais foram a principal fonte de novos detritos espaciais. A ESA registrou 11 desses episódios, que geraram ao menos 2.633 pedaços de sucata.

Entradas atmosféricas aumentaram

Apesar da situação preocupante, há alguns sinais positivos. O número de entradas controladas na atmosfera — ou seja, objetos que voltam à Terra planejadamente — cresceu em 2024. Isso indica que algumas estratégias de descarte estão funcionando.

Também houve menos entradas descontroladas em comparação com anos anteriores. Segundo a ESA, cerca de 90% dos corpos de foguetes em órbitas baixas estão agora deixando o espaço conforme os padrões de reentrada estabelecidos.

Esse processo deve ocorrer no máximo 25 anos após o fim da missão. Mais da metade desses objetos já está retornando de maneira controlada.

Além disso, a ESA adotou um padrão ainda mais rigoroso para suas próprias missões. Desde 2023, garantirá que os objetos deixem a órbita em até cinco anos. Cerca de 80% das atividades da agência já seguem essa nova diretriz.

Limpeza ativa será essencial

Apesar dos avanços, o relatório deixa claro: manter a tendência de reentrada controlada é somente parte da solução. Será necessário limpar ativamente a órbita da Terra. Isso exigirá novas tecnologias, grandes investimentos e, principalmente, cooperação internacional.

Sem ações concretas, o risco de colisões continuará a crescer. E mesmo medidas rigorosas de descarte não serão suficientes se os eventos de fragmentação persistirem.

O ambiente espacial precisa ser protegido com urgência. Para a ESA, o futuro das atividades orbitais depende da nossa capacidade de agir agora. Se a humanidade quiser continuar explorando e utilizando o espaço, será necessário torná-lo mais seguro.

Fragmentação é o principal desafio hoje

A maioria do lixo espacial recente não veio de lançamentos descontrolados, mas de fragmentações inesperadas. Isso mostra que, além de planejar o fim da vida útil dos satélites, é essencial prevenir falhas que causem explosões ou quebras em órbita.

Esses fragmentos são difíceis de rastrear, especialmente os menores. No entanto, o impacto de uma colisão pode ser grande, mesmo com um pedaço minúsculo. Isso representa um risco constante para equipamentos ainda em operação.

A ESA reforça: não basta parar de lançar satélites. É preciso cuidar do que já está lá. Enquanto não houver uma limpeza real, o número de detritos continuará subindo.

O relatório destaca que a limpeza do espaço é urgente e inevitável. A boa notícia é que a cooperação entre as grandes agências e países já começou a dar resultados. Mas será preciso muito mais esforço conjunto para garantir que a órbita da Terra continue funcional e segura nos próximos anos.

Com informações de Science Alert.

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