Abespetro alerta para escassez de técnicos no setor de óleo e gás; déficit de profissionais offshore reflete falta de mão de obra qualificada e formação técnica na indústria.
Escassez de técnicos no setor de óleo e gás: Um levantamento inédito realizado pela Abespetro (Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo) revelou um déficit de pelo menos 5,1 mil profissionais técnicos de nível médio no setor brasileiro de óleo e gás offshore, que inclui operações em alto-mar. O número foi apurado com base em dados de 30 empresas do setor, entre prestadoras de serviços e operadoras.
A demanda é puxada principalmente pela retomada de projetos no pré-sal e pela exploração em áreas como a Margem Equatorial, somada ao impacto de quase uma década sem iniciativas coordenadas de formação de mão de obra especializada. Para especialistas, o cenário exige medidas urgentes para capacitar novos trabalhadores técnicos, especialmente diante da perspectiva de forte crescimento da atividade até o fim da década.
Déficit real pode ser maior, afirma presidente da Abespetro
Segundo Telmo Ghiorzi, presidente executivo da Abespetro, o número de 5,1 mil vagas representa apenas a “demanda mínima” do setor. Isso porque o universo de empresas entrevistadas não cobre todo o mercado, e o estudo não inclui carências em funções administrativas, de apoio em terra ou de nível superior.
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Ghiorzi alerta que, caso a Petrobras obtenha autorização para explorar petróleo na Margem Equatorial, por exemplo, o déficit pode aumentar consideravelmente até 2027, com novas plataformas e projetos entrando em operação. Ele também menciona o movimento de revitalização de campos maduros por petroleiras independentes, que deverá gerar mais postos técnicos.
As ocupações mais críticas
Entre as 145 ocupações de nível técnico mapeadas, a Abespetro destacou as dez funções com maior escassez, que somam 2.100 das 5.100 vagas (cerca de 42% do déficit total). São elas:
- Soldador
- Caldeireiro
- Mecânico
- Pintor industrial
- Marinheiro de convés
- Ajudante
- Eletricista marítimo
- Operador de guindaste
- Operador de produção
- Técnico em segurança do trabalho
Essas funções são consideradas estratégicas para o funcionamento das plataformas offshore, e a carência de mão de obra pode gerar gargalos sérios na operação das empresas envolvidas com produção de petróleo e gás no mar.
Interrupção na formação técnica agravou cenário
O hiato na formação coordenada de mão de obra técnica foi apontado como uma das principais causas do problema atual. O Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), que havia assumido o papel de capacitação desde 2004, foi interrompido em 2016. Desde então, não houve substituição à altura.
A crise do setor entre 2014 e 2016, somada aos efeitos da Operação Lava-Jato, queda nos preços do petróleo e ausência de novas licitações por parte da ANP, contribuiu para que os programas de qualificação fossem descontinuados, explica Breno Medeiros, vice-presidente da Abespetro.
Solução: retomada do PRH-ANP para nível técnico
Como resposta ao gargalo, a Abespetro apoia a retomada do Programa de Recursos Humanos da ANP (PRH-ANP) voltado para formação técnica. A iniciativa está sendo reestruturada com coordenação da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e deverá incluir um Comitê da Indústria, que ajudará a alinhar os cursos técnicos às necessidades reais do mercado.
De acordo com Ghiorzi, a retomada do programa é fundamental para reverter o déficit de profissionais offshore a médio prazo, já que a formação de um técnico leva entre 12 e 24 meses.
Empregabilidade no setor está em alta
A pesquisa também mostra que o setor de petróleo e gás vem recontratando de forma crescente. Em 2023, o número de empregados no segmento chegou a 616 mil pessoas. Se os projetos em avaliação, como a exploração da Margem Equatorial, forem autorizados, esse número pode subir para 911 mil até 2029, estima a Abespetro.
Esse aquecimento também já reflete nos salários técnicos. Dados fornecidos pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) indicam que, em 2024, o salário médio de admissão real para cargos técnicos no setor de óleo e gás foi de R$ 4.617. Os valores variam entre R$ 1.988 (plataformista) e R$ 12.462 (imediato), conforme a função e o nível de responsabilidade.
Salários das funções mais críticas
Ainda segundo a Abespetro, os salários para as cinco ocupações técnicas mais críticas variam da seguinte forma:
- Marinheiro de Convés: R$ 2.490
- Mecânico: R$ 3.429
- Soldador: em torno de R$ 3.100
- Eletricista Marítimo: acima de R$ 3.000
- Operador de Guindaste: aproximadamente R$ 3.600
Entre 2022 e 2024, a média salarial do setor naval de petróleo e gás teve aumento de 12%, reforçando a tese de aquecimento do mercado de trabalho técnico.
Formação técnica como prioridade estratégica
A formação técnica especializada é vista agora como um dos pontos centrais para garantir o avanço sustentável do setor nos próximos anos. A ausência de profissionais qualificados pode não apenas atrasar projetos, mas também gerar custos extras com importação de mão de obra ou a necessidade de treinar equipes sem experiência prática no setor offshore.
A Abespetro defende que o governo, operadoras e instituições de ensino atuem em conjunto para reativar o ciclo virtuoso de qualificação e empregabilidade, com foco nos novos projetos previstos no pré-sal e nas novas fronteiras exploratórias brasileiras.
Os salários ofertados para os soldadores, eletricis, pintor entre outros são.muíto baixo. As empresas querem ganhar muito e gastar pouco.
Tecnico qualificado nao falta. Falta oportunidade pois as empresas so contratam quem tem mais de varios anos na carteira.
Trabalho na área siderúrgica e ganho muito mais como Eletricista,esse salário ofertado pra trabalhar embarcado estão vergonhoso.