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Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz: Trump quer transformá-las em empresas americanas

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 17/12/2024 às 10:42
Trump, Volkswagen, BMW
Foto: Reprodução

As gigantes automobilísticas da Alemanha, como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, vivem momentos muito conturbados. Agora Trump quer transformá-las em empresas americanas

A promessa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas sobre produtos importados coloca em risco o setor automotivo da Alemanha, afetando a Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz.

A indústria, que já enfrenta dificuldades econômicas, pode ver suas exportações serem drasticamente impactadas com as novas tarifas.

Durante a campanha eleitoral, Trump deixou clara sua intenção de transformar montadoras alemãs em empresas americanas. “Quero que as empresas automobilísticas alemãs se tornem empresas americanas. Quero que elas construam suas fábricas aqui”, declarou o então candidato em Savannah, Geórgia.

As tarifas planejadas não estão restritas à Europa. Trump anunciou, em suas primeiras medidas, uma tarifa de 10% sobre produtos chineses e 25% sobre bens importados do Canadá e do México.

Embora a Europa ainda não tenha sido citada, especialistas acreditam que é questão de tempo até que o setor automotivo europeu entre no alvo.

Trump
Foto: Reprodução

A crise alemã no setor automotivo – Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz

A Alemanha é o maior exportador de carros da Europa para os Estados Unidos. Em 2023, o país exportou cerca de 23 bilhões de euros (aproximadamente 24,2 bilhões de dólares) em veículos para os EUA, representando 15% do total das exportações alemãs para o mercado americano, segundo a Eurostat e ING Research.

Os principais fabricantes, Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW, já enfrentam uma conjuntura econômica desfavorável.

As empresas emitiram alertas de lucro recentes, citando a demanda enfraquecida na China, o maior mercado automotivo global.

Rico Luman, economista sênior do banco holandês ING, acredita que a situação pode piorar com as tarifas de Trump.

Segundo ele, toda a cadeia de produção estaria ameaçada: “A indústria automotiva é ligada à indústria siderúrgica e à indústria química. Toda a cadeia de suprimentos estaria envolvida”, afirmou à CNBC.

Resposta das montadoras a fala de Trump

Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz tentam contornar o cenário desfavorável. Um porta-voz da Volkswagen destacou que mais de 90% dos veículos vendidos pela marca nos EUA são produzidos na América do Norte, aproveitando o Acordo de Livre Comércio entre EUA, Canadá e México (USMCA).

Contudo, as tarifas de Trump sobre o Canadá e o México colocariam o USMCA em xeque, anulando os atuais benefícios fiscais.

A Mercedes-Benz também defendeu sua presença nos EUA. A montadora alemã afirma empregar mais de 11 mil pessoas no país, com produção concentrada em carros de passeio e vans. Em nota, declarou que aguarda um “diálogo construtivo com a nova administração”.

A BMW, que possui a maior unidade de produção da marca em Spartanburg, Carolina do Sul, optou por não comentar diretamente as ameaças tarifárias.

A fábrica de Spartanburg é estratégica, com capacidade de produzir cerca de 450 mil veículos por ano.

Apesar dos esforços, os resultados no mercado financeiro já refletem as dificuldades.

As ações da Volkswagen e BMW caíram cerca de 23% no acumulado do ano, enquanto o Grupo Mercedes-Benz registrou queda de 13%.

O peso das tarifas

Michael Robinet, da consultoria automotiva S&P Global Mobility, acredita que a retórica de Trump pode se traduzir em ações concretas. “Pode não ser exatamente como prometido durante a campanha, mas alguma pressão virá, seja por tarifas ou outras medidas unilaterais”.

Robinet também levanta uma questão crítica: os níveis de desemprego nos EUA. Com a taxa de desemprego em torno de 4%, ele questiona a capacidade de gerar mais empregos no setor automotivo americano, como prometido por Trump.

Separadamente das tarifas sobre Canadá, México e China, Trump também sugeriu uma taxa geral de 10% a 20% sobre todos os produtos importados pelos EUA. Ainda não está claro se essa proposta se tornará política oficial, mas o risco existe.

Julia Poliscanova, diretora sênior do grupo Transporte e Meio Ambiente, alerta que a Europa precisa se preparar. “Trump quer mais tarifas, então todos precisam estar prontos”, disse em entrevista. Para ela, o impacto será negativo no curto prazo, mas também representa uma oportunidade.

A Europa precisa manter seu curso, acelerando a eletrificação e investindo em tecnologias limpas. Se Trump focar apenas no protecionismo, os EUA podem ficar para trás”, completou Poliscanova.

O impacto na economia global

As tarifas de Trump surgem em um momento delicado para a economia global. O setor automotivo, especialmente na Europa, já enfrenta pressões da transição para veículos elétricos e da queda na demanda chinesa.

Na Alemanha, a indústria automobilística representa cerca de 5% do PIB e emprega mais de 800 mil pessoas diretamente. Qualquer queda significativa no setor teria um efeito cascata em toda a economia alemã.

O impacto também se estenderia aos fornecedores de componentes. Empresas ligadas à indústria química, metalúrgica e tecnológica dependem das montadoras para manter suas operações. Uma tarifa de 25% poderia inviabilizar exportações, obrigando montadoras a rever suas estratégias globais.

Os próximos passos

Diante das incertezas, montadoras alemãs tentam expandir sua produção nos EUA. Investimentos em fábricas locais são uma forma de driblar as tarifas e manter a competitividade. No entanto, os custos envolvidos são altos e o retorno pode ser demorado.

Analistas apontam que a postura protecionista de Trump também pode provocar retaliações comerciais por parte da União Europeia. Isso geraria uma guerra comercial, prejudicando ambos os lados.

Por enquanto, a indústria automotiva alemã se encontra em um cenário de alerta. Entre a demanda fraca na China, tarifas potenciais nos EUA e o desafio da transição elétrica, as montadoras enfrentam um dos momentos mais complexos de sua história.

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Dionisio
Dionisio
17/12/2024 14:50

E dizer que Fidel Castro, Ivo Morales, Hugo Chaves nacionalizaram as empresas estrangeiras por serem de extrema esquerda, e AGORA(?) a extrema direta vai fazer o mesmo? Depois será que vai emcampa?
Não sou esquerda nem direita, só uma questão de coerência, medidas com o mesmo final, se justifica pra uns e pra outros não.
E esquerda e direita foram expressões usadas para definir as alas em que sentavam os Jacobinos(esquerda) e os gerondinos(direita) na Assembleia Constituinte pós Revolução Francesa.
CERTO?

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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