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O data center que consome a mesma energia que uma cidade de 100 mil habitantes

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 09/05/2025 às 11:35
O data center que consome a mesma energia que uma cidade de 100 mil habitantes
Foto: IA + CANVA

Enquanto você assiste a um vídeo, envia mensagens ou acessa um aplicativo, há um gigante invisível trabalhando sem parar nos bastidores da internet. E ele está consumindo tanta energia quanto uma cidade inteira.

Hoje, um único data center de 10 megawatts (MW) — potência comum em centros de grande porte — já é capaz de consumir a mesma quantidade de energia elétrica que uma cidade de 100 mil habitantes. É o que afirma Roberto Beauclair, diretor do Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobras). Essa comparação ajuda a dimensionar o impacto crescente dos data centers, estruturas essenciais para a era digital, mas que exigem cada vez mais infraestrutura, energia e regulação.

No Brasil, o cenário já começa a preocupar. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2034), o consumo nacional de energia por data centers chegará a 2,5 gigawatts (GW) em 2037. Isso equivale ao gasto energético de 25 milhões de pessoas, superando até a população atual da Grande São Paulo. Com essa projeção, a questão que se impõe é: estamos preparados para lidar com o crescimento explosivo e o consumo de data centers?

O que é um data center e o que ele armazena?

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Apesar de invisíveis para o público geral, os data centers estão por trás de praticamente tudo o que fazemos online. De forma simplificada, um data center é um ambiente altamente controlado e seguro onde ficam instalados milhares de servidores, roteadores, sistemas de armazenamento e bancos de dados. Eles funcionam como uma gigantesca central nervosa que mantém todos os nossos serviços digitais vivos e acessíveis.

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É dentro desses centros que ficam armazenadas informações sensíveis de empresas, governos e pessoas: desde mensagens privadas e arquivos em nuvem, até sistemas financeiros, e-commerces, inteligência artificial, saúde digital, logística e defesa. Grandes empresas como Google, Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure operam hiperescalares — ou seja, instalações com centenas de milhares de servidores que processam dados para bilhões de usuários em tempo real, sem parar.

Como funcionam a refrigeração e a redundância de energia

Todo esse volume de dados processados gera uma quantidade intensa de calor. Servidores operando 24 horas por dia exigem sistemas de refrigeração altamente sofisticados para manter a temperatura ideal de funcionamento. A média térmica dos equipamentos gira em torno de 18 a 27 °C, e qualquer variação pode causar falhas ou prejuízos milionários. Por isso, os data centers usam soluções como ar-condicionado de precisão, resfriamento por água gelada, free cooling em climas frios e até sistemas de resfriamento líquido direto.

Outro ponto essencial é a energia. A operação de um data center precisa ser constante, com altíssima confiabilidade. Por isso, além da rede elétrica convencional, as instalações contam com múltiplos sistemas de redundância, como nobreaks (UPS), geradores a diesel, painéis solares e baterias de alta capacidade. Em estruturas de padrão Tier 4, a tolerância à falha é mínima: a disponibilidade deve ser de 99,995%.

Todo esse aparato resulta em um gasto energético brutal. Da refrigeração à redundância, cada etapa é pensada para garantir que nada pare — mesmo que isso custe tanto quanto abastecer uma cidade inteira.

Exemplos reais: o impacto global de empresas como Google, AWS e Microsoft

Empresas líderes da tecnologia operam os maiores data centers do planeta — verdadeiros complexos industriais digitais. A Amazon Web Services (AWS), por exemplo, tem presença em mais de 30 regiões no mundo, com centenas de centros de dados. A Google mantém instalações avançadas nos EUA, como a de The Dalles, no Oregon, que usa água do rio Columbia para resfriamento e opera com metas de neutralidade climática.

Já a Microsoft, por meio do Azure, desenvolve data centers submersos e aposta em energia renovável para todas as suas operações até 2030.

Esses centros não são apenas instalações técnicas: são peças estratégicas para o poder global. Controlar infraestrutura de dados hoje é tão importante quanto controlar reservas de petróleo ou cadeias logísticas. Cada um desses gigantes investe bilhões por ano em eficiência energética, cibersegurança e inteligência artificial para manter a operação funcionando e, ao mesmo tempo, minimizar o impacto ambiental.

O Brasil na rota dos data centers: potencial e desafios

O Brasil possui atualmente 181 data centers em operação, segundo dados da EPE. Até 2034, esse número pode saltar para 500 unidades, impulsionado pelo aumento do uso de inteligência artificial, armazenamento em nuvem e digitalização do setor público. Em 2024, o Ministério de Minas e Energia (MME) analisava 42 novos pedidos de instalação de data centers — um salto expressivo em relação aos 12 projetos de 2023.

Os locais preferidos para novos empreendimentos são as regiões Sudeste e Sul, onde se concentra o mercado consumidor, além do Nordeste, que tem destaque pela proximidade com cabos submarinos de conexão com Europa e EUA e pela oferta de energia renovável. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Piauí lideram essa corrida.

O Piauí, por exemplo, aposta na ZPE (Zona de Processamento de Exportação) da Parnaíba, onde empresas podem importar equipamentos sem pagar impostos como ICMS. A proposta é criar um polo nacional de infraestrutura digital, com estímulos fiscais e acesso a energia limpa. O governador Rafael Fonteles tem defendido que o Brasil entre de vez na geopolítica dos dados, dizendo que “a disputa não deve ser entre estados, mas entre países”.

Os impactos ambientais do consumo de data centers

Apesar dos avanços tecnológicos, os data centers são fontes relevantes de impacto ambiental. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA), eles já são responsáveis por cerca de 1% de todo o consumo mundial de eletricidade — número que pode subir com a popularização de IA generativa, metaverso, blockchain e 5G.

No Brasil, embora a matriz energética seja mais limpa do que em muitos países, o consumo elevado de recursos — especialmente para refrigeração e backup energético — ainda preocupa. O uso intensivo de água, as emissões indiretas associadas a geradores a diesel e o descarte de equipamentos (lixo eletrônico) colocam os data centers no centro do debate sobre transição ecológica.

Além disso, a concentração desses centros em regiões metropolitanas pode gerar disputas por energia e pressão sobre a infraestrutura elétrica, o que exige planejamento coordenado com as distribuidoras e com o Operador Nacional do Sistema (ONS).

Por que os data centers são essenciais para a vida moderna

Mesmo com seus desafios, os data centers são estruturas indispensáveis para a vida moderna. Eles sustentam o funcionamento de plataformas digitais, redes bancárias, sistemas de saúde, transporte urbano, e até escolas e serviços públicos. Sem eles, praticamente tudo pararia: não haveria e-mails, redes sociais, armazenamento em nuvem, videochamadas, nem pagamentos eletrônicos.

No contexto atual, onde a inteligência artificial e a automação ganham cada vez mais espaço, os data centers se tornam ainda mais estratégicos. São eles que processam os modelos de IA, rodam algoritmos de linguagem, armazenam bilhões de parâmetros e distribuem conteúdo globalmente em milissegundos.

Além disso, estão no centro da economia digital. Cada pedido de comida, cada corrida de aplicativo, cada transferência bancária depende, no fim das contas, do bom funcionamento de um ou mais data centers. Por isso, pensar em sua eficiência, regulação e impacto é pensar no futuro da civilização digital.

O crescimento dos data centers no Brasil e no mundo é irreversível. Eles são a espinha dorsal da transformação digital, da inteligência artificial, da comunicação em tempo real e da vida em rede. No entanto, esse avanço traz consigo um consumo energético cada vez mais significativo, comparável ao de cidades inteiras, o que exige uma resposta igualmente robusta em termos de planejamento, sustentabilidade e inovação.

Discutir o data center que consome a mesma energia que uma cidade de 100 mil habitantes é mais do que uma curiosidade técnica. É um alerta sobre os desafios que a era digital impõe à infraestrutura energética e ambiental. E o momento de agir é agora — antes que o futuro nos pegue offline.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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