Obra de arte repleta de símbolos religiosos e elementos inusitados, como um dragão babando, será exibida ao público pela primeira vez em mais de 60 anos em Londres.
Uma obra de arte enigmática, com um dragão babando e figuras religiosas, acaba de entrar para o acervo da Galeria Nacional de Londres.
Apesar do valor milionário, cerca de US$ 20 milhões, ninguém sabe ao certo quem é o autor da obra, onde foi criada ou mesmo de que país veio o artista. Ainda assim, a instituição britânica resolveu apostar na peça misteriosa.
Obra de arte adquirida em celebração especial
A obra em questão se chama A Virgem e o Menino com os Santos Luís e Margarida. Ela foi comprada por US$ 20 milhões. Segundo o diretor do museu, Gabriele Finaldi, a galeria estava de olho na pintura “há décadas”.
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Exibida publicamente pela última vez em 1960, a obra foi novamente apresentada ao público.
A expectativa da direção é que a nova exposição possa ajudar estudiosos e especialistas a avançar na identificação do artista e da origem da pintura.
Investigações sobre a origem
Os estudos técnicos já começaram. Um dos primeiros exames realizados foi a dendrocronologia, uma técnica usada para datar a madeira.
A análise indicou que o painel de carvalho-do-báltico usado para a pintura é de cerca de 1483. Essa madeira era bastante usada por artistas dos Países Baixos.
Esse detalhe é importante porque, no final do século XV, pintores franceses costumavam usar madeira local. A presença do carvalho-do-báltico sugere, portanto, uma ligação com a região neerlandesa.
A documentação mais antiga sobre o retábulo data de 1602.
Naquele ano, a peça foi registrada na Abadia Premonstratense de Drongen, em Ghent, na Bélgica. Os especialistas ainda não sabem se esse era o local original da obra. No entanto, os temas presentes na pintura indicam que pode ter sido.
Símbolos e personagens curiosos
A pintura mostra a Virgem Maria e o menino Jesus acompanhados de dois anjos, Santa Margarida e São Luís.
Um dragão com baba escorrendo também aparece na cena, com aparência canina e presas exageradas. De acordo com a tradição, esse dragão é, na verdade, Satanás.
Ele teria engolido Santa Margarida, que aparece na imagem rezando calmamente, como se nada tivesse acontecido.
São Luís, na imagem, está representado com uma corrente.
O modelo do acessório foi alterado oficialmente em 1516, o que permite aos pesquisadores estabelecer um limite máximo para a data de criação da pintura.
Com base nisso e no estilo visual da obra, os estudiosos estimam que ela tenha sido feita por volta de 1510.
A representação do rei francês Luís IX como São Luís é significativa, já que ele foi importante para a ordem premonstratense ao permitir o uso da flor-de-lis em seu brasão. Essa simbologia reforça a ligação da obra com a abadia onde foi encontrada.
Mistura de estilos e influências
Embora o autor da pintura continue desconhecido, há indicações estilísticas que apontam para possíveis influências. A Galeria Nacional afirma que a obra mostra traços do pintor francês Jean Hey. Também existem semelhanças com artistas neerlandeses como Jan van Eyck e Hugo van der Goes.
A combinação de estilos levou Emma Capron, curadora da galeria, a descrever o retábulo como “extremamente inventivo”. Ela também apontou várias “peculiaridades iconográficas” presentes na obra.
Entre elas, estão os anjos que aparecem com instrumentos musicais pouco comuns. Um deles segura um livro de canções, que antes se pensava ser um hino do compositor inglês Walter Frye. Agora, os especialistas identificam o texto como um jargão musical. O outro anjo toca uma harpa de boca, um som que, segundo a própria galeria, não combina com a imagem tradicional da música celestial.
Detalhes escondidos e vestes chamativas
Além dos elementos principais, a pintura está repleta de referências simbólicas. Há detalhes do Antigo Testamento gravados nos capitéis das colunas. Também aparecem objetos associados à crucificação, como pregos espalhados pelo cenário. Um pequeno pintassilgo também pode ser visto, escondido em meio aos elementos.
Mesmo com tantos detalhes complexos, o centro da imagem continua sendo a Virgem Maria e o menino Jesus. Eles aparecem com roupas em um tom descrito como “vermelho brilhante de carro esportivo”, segundo Richard Whiddington, do Artnet.
Obra desafia especialistas há décadas
O historiador Denys Sutton, na década de 1950, já reconhecia o desafio que a obra representava. Ele descreveu o retábulo como um “item delicioso que desafia a engenhosidade dos estudiosos”. Agora, mais de 60 anos depois, o enigma permanece.
Com a nova exposição, a Galeria Nacional espera que o público e os especialistas consigam, aos poucos, desvendar os segredos da pintura. Até lá, A Virgem e o Menino com os Santos Luís e Margarida continua a intrigar com sua mistura de humor, devoção e mistério