Simulações estrangeiras desconsideram a realidade ambiental brasileira e ameaçam a competitividade da bioenergia nacional
A aplicação do conceito de ILUC (Mudança Indireta no Uso da Terra) em políticas ambientais internacionais tem gerado preocupações entre especialistas e produtores brasileiros de biocombustíveis. Mesmo com uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo, o Brasil pode ser penalizado por modelos baseados em premissas teóricas, comprometendo sua participação no mercado global de energia renovável.
Biocombustíveis e o impacto das simulações no comércio internacional
O conceito de ILUC, ou Indirect Land Use Change, propõe que a conversão de áreas para produção de biocombustíveis pode provocar desmatamento indireto em outras regiões. A ideia é que, ao ocupar terras agrícolas com culturas destinadas à energia, a produção de alimentos seria deslocada para novas áreas, pressionando biomas ainda preservados. Segundo artigo publicado pela Agência Eixos, esse raciocínio tem sido incorporado em políticas internacionais, especialmente na União Europeia, com base em modelos computacionais de projeção, e não em dados empíricos.
Essa abordagem generalista desconsidera a complexidade de realidades locais. No Brasil, por exemplo, o Código Florestal estabelece exigências como a Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APPs), o que limita substancialmente o uso da terra e garante proteção ambiental mesmo em propriedades privadas. No entanto, os modelos de ILUC ignoram essas nuances, tratando todos os países como se tivessem o mesmo nível de governança ambiental.
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Produção de biocombustíveis no Brasil sob ameaça de desvalorização externa
O país é um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo, com destaque para o etanol e o biodiesel. Essas fontes de energia renovável são estratégicas tanto para o abastecimento interno quanto para exportações, especialmente diante da urgência global pela redução das emissões de carbono. Contudo, como alerta o especialista Marcelo Gauto em seu artigo na Eixos, a imposição de taxas e restrições baseadas no ILUC pode prejudicar justamente aqueles produtores que seguem as normas ambientais mais exigentes.
A Agência Internacional de Energia (IEA) reforça que os biocombustíveis são essenciais para a descarbonização do transporte, particularmente nos setores onde a eletrificação é inviável no curto prazo, como aviação e transporte marítimo. Ignorar a sustentabilidade real desses combustíveis em favor de modelos abstratos é um contrassenso estratégico e ambiental.
Revisar critérios internacionais é urgente para garantir justiça ambiental
A aplicação dos modelos ILUC em acordos e regulações internacionais exige uma revisão crítica, sobretudo para que não se repitam injustiças com países como o Brasil, cuja produção de biocombustíveis é reconhecida por rastreabilidade e conformidade legal. A padronização excessiva, baseada em projeções que ignoram contextos nacionais, distorce o mercado e prejudica a competitividade de países que investem em sustentabilidade real.
Como enfatiza Gauto, o problema central não é o conceito de ILUC em si, mas a forma como ele tem sido utilizado. Quando políticas são construídas sobre simulações imprecisas, correm o risco de comprometer iniciativas legítimas de transição energética. A criação de métricas mais sensíveis às realidades locais e baseadas em dados concretos é um passo necessário para corrigir essa distorção.
Biocombustíveis brasileiros precisam de reconhecimento justo nas políticas globais
A defesa da sustentabilidade dos biocombustíveis brasileiros precisa ser uma prioridade nas discussões internacionais. O Brasil não só cumpre exigências legais rigorosas, como também contribui de forma significativa para a segurança energética global com alternativas de baixa emissão. Ignorar esse papel por causa de metodologias genéricas pode inviabilizar avanços importantes na matriz energética mundial.
Fontes como a Agência Eixos e a IEA apontam que a sustentabilidade não pode ser medida por um único critério abstrato. A credibilidade dos biocombustíveis brasileiros deve ser reconhecida por suas evidências, não prejudicada por modelos que desconsideram a realidade do campo.