Empresas brasileiras enfrentam um novo desafio silencioso que está elevando os custos de produção, alterando rotinas industriais e colocando em xeque o futuro da produtividade. O problema é invisível, mas o impacto já é sentido em fábricas e escritórios.
A crescente ausência de funcionários no ambiente de trabalho tem se tornado uma dor de cabeça para empresas brasileiras, especialmente nos setores industriais e de varejo.
Segundo dados recentes e relatos de executivos, o absenteísmo — termo usado para definir faltas não justificadas — tem impactado diretamente a produtividade e os custos operacionais, gerando um novo desafio para os gestores de recursos humanos em meio a um mercado de trabalho aquecido.
O caso da Vulcabras, empresa responsável pelas marcas esportivas Olympikus e Mizuno, ilustra bem essa realidade.
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Conforme informações do SinPospetroRJ, durante a divulgação dos resultados financeiros do último trimestre de 2024, Wagner Dantas, diretor de Relações com Investidores da companhia, apontou o absenteísmo como um fator relevante no aumento dos custos de produção.
Segundo ele, a elevação da mão de obra por hora foi diretamente influenciada pelas ausências frequentes dos trabalhadores — uma tendência observada “em todo o Brasil”, e não restrita às unidades fabris da empresa.
Faltas injustificadas preocupam diferentes setores
O problema está longe de ser pontual ou isolado no setor calçadista.
Um levantamento realizado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), em fevereiro de 2025, revelou que 59% das indústrias têxteis relataram aumento nas faltas dos funcionários em comparação com 2023.
De acordo com Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit, os dados acendem um sinal de alerta para o setor.
Apesar de ainda não haver uma causa única definida, o fenômeno parece estar relacionado à combinação de um mercado de trabalho aquecido, baixa taxa de desemprego e dificuldade crescente de retenção de funcionários.
A Abit também informou que 95% das empresas do setor enfrentam problemas para contratar, sendo que 38% relatam escassez generalizada de pessoal, 8% não encontram trabalhadores qualificados e 3% lidam com expectativas salariais fora da realidade.
Funcionários deixam empregos formais por alternativas informais
A migração de trabalhadores para o mercado informal tem sido outro fator importante para explicar o aumento do absenteísmo.
Conforme Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a expansão do comércio eletrônico e das plataformas digitais tem atraído funcionários que veem na informalidade uma fonte de renda complementar — ou até principal.
Muitos desses trabalhadores continuam formalmente empregados, mas conciliam os dois mundos.
O resultado?
A frequência nas empresas cai, prejudicando o desempenho das operações e elevando os custos com remanejamento de pessoal ou contratações emergenciais.
Daniela Paula Colombo, diretora jurídica e de desenvolvimento humano da Usaflex, corrobora essa visão:
“A grande maioria das faltas ocorre sem justificativa e é mais comum entre funcionários com menos de um ano de casa.”
A empresa, que atua com mão de obra intensiva, vê o absenteísmo como um índice central para o planejamento da produção.
Quando o número de faltas supera a média histórica, a empresa precisa reorganizar sua equipe ou recorrer a contratações extras, elevando os custos operacionais.
Incentivos e punições: estratégias em debate
Na tentativa de conter o aumento das ausências, muitas empresas passaram a condicionar benefícios como cestas básicas à frequência do funcionário.
A medida, no entanto, tem sido alvo de críticas por parte de órgãos como o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Segundo Cirlene Zimmermann, coordenadora nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho no MPT, há relatos de práticas questionáveis em acordos e convenções coletivas.
Em alguns casos, mesmo um afastamento por doença pode fazer o trabalhador perder benefícios.
“Essa lógica de punição pode gerar ainda mais insatisfação e, por consequência, aumentar as faltas”, alerta.
Zimmermann ainda destaca outra preocupação: o aumento expressivo dos afastamentos por doenças mentais, agora reconhecidas como doenças ocupacionais pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Em 2024, as concessões de auxílio-doença cresceram 29%, impulsionadas por uma série de mudanças no sistema de perícia médica e pelo uso da ferramenta Atestmed, que permite o envio digital de atestados.
Saúde mental entra em foco no debate
A saúde mental dos trabalhadores tem sido um dos fatores mais mencionados para justificar o absenteísmo, especialmente nos últimos anos.
Especialistas apontam que o esgotamento emocional, a pressão por produtividade e a insegurança econômica aumentaram significativamente após a pandemia, mesmo com a recuperação econômica parcial.
Segundo o secretário de Regime Geral da Previdência Social, Adroaldo Portal, o tempo de espera por perícia caiu de 70 para 45 dias, e o número de peritos praticamente dobrou.
Ainda assim, o uso do Atestmed preocupa o MPT, pois a ausência de avaliação presencial pode comprometer o reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho, prejudicando os direitos dos trabalhadores.
Quando o vínculo com o trabalho é atestado por perícia presencial, o trabalhador tem direito ao depósito de FGTS durante o afastamento e à estabilidade no emprego por um ano após o retorno.
Contudo, para afastamentos de mais de 180 dias, a perícia presencial continua obrigatória.
Jovens, informalidade e novos valores
Outro ponto de tensão está na relação das novas gerações com o trabalho industrial tradicional.
Empresas como a Usaflex relatam dificuldades em reter jovens, que frequentemente enxergam o setor fabril como pouco atrativo frente às possibilidades de empreendedorismo, flexibilidade de horários e ganhos rápidos oferecidos pelo ambiente digital.
Pimentel, da Abit, sugere que as empresas precisam desenvolver estratégias estruturadas e atrativas para enfrentar esse cenário desafiador.
Entre as medidas recomendadas estão salários acima do piso das convenções coletivas (praticados por 76% das empresas do setor) e bonificações por produtividade (adotadas por 49%).
Além disso, a aproximação com escolas técnicas e programas de capacitação pode ser uma alternativa para abastecer o mercado com mão de obra qualificada.
No varejo, o cenário também é preocupante. De acordo com a Abit, supermercados têm adiado a abertura de lojas por falta de pessoal, ou iniciado processos seletivos com meses de antecedência.
Não há solução única para o problema — e os setores mais dependentes de mão de obra sentem os efeitos com mais intensidade.
A crescente ausência dos trabalhadores formais é um reflexo das mudanças profundas nas relações de trabalho no Brasil — uma mistura de novas expectativas, busca por flexibilidade, informalidade crescente e desafios de saúde mental.
Com o cenário em transformação, empresas e instituições públicas precisarão adaptar suas estratégias para garantir sustentabilidade produtiva e bem-estar dos colaboradores.
E você, já percebeu mudanças no ambiente de trabalho ou conhece alguém que trocou um emprego formal pela informalidade? Compartilhe sua experiência nos comentários!