Apesar de sua fama como fundador inovador, Elon Musk não criou as empresas que o tornaram bilionário. Uma trajetória controversa e cheia de reviravoltas, que mistura investimentos milionários, marketing pessoal poderoso e disputas judiciais pouco conhecidas do público.
Apesar da fama de fundador visionário, Elon Musk não criou nenhuma das empresas que o transformaram em bilionário, como PayPal, Tesla ou SpaceX.
Ainda assim, seu nome se tornou sinônimo de inovação, disrupção tecnológica e empreendedorismo audacioso.
A trajetória de Musk é marcada por reviravoltas, reinterpretações de fatos e uma habilidade notável de reescrever a própria história — estratégia que, ao longo do tempo, consolidou sua imagem como um dos principais nomes da tecnologia global.
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A ascensão meteórica de Musk também foi construída sobre mitos cuidadosamente cultivados, entre eles o clássico “mito da garagem”, que exalta a ideia de um empreendedor solitário que constrói um império do zero, contando apenas com sua genialidade.
Esse modelo narrativo é recorrente no Vale do Silício, tendo sido adotado por figuras como Jeff Bezos e, em parte, até mesmo por Steve Jobs, embora a história da Apple também contenha suas nuances.
Uma infância cercada de privilégios
Elon Musk nasceu em Pretória, na África do Sul, em 1971, e cresceu em um ambiente familiar confortável financeiramente.
Seu pai, Errol Musk, foi engenheiro e empresário, e chegou a ser acionista de minas de esmeraldas na Zâmbia, o que garantiu à família uma vida de luxo durante parte da infância de Elon.
Segundo o próprio Errol, em entrevistas concedidas nos anos 2000, ele não era dono das minas, mas recebia esmeraldas como retorno sobre sua participação societária.
A biografia escrita por Walter Isaacson revela que Elon Musk teve acesso a bens de alto padrão, como um Rolls-Royce Corniche conversível e até mesmo um avião particular, embora a situação financeira da família tenha oscilado ao longo dos anos.
Apesar disso, Errol ainda apoiou financeiramente os filhos em seus primeiros passos no mundo dos negócios.
Foi ele quem forneceu US$ 28 mil para a criação da Zip2, o primeiro empreendimento digital de Elon e seu irmão Kimbal.
A mãe deles, Maye Musk, também contribuiu com mais US$ 10 mil.
Embora Elon tenha negado parte desse apoio em entrevistas — como na concedida à Rolling Stone —, na biografia escrita por Ashlee Vance ele reconhece que seu pai participou com cerca de 10% do capital inicial da empresa, o que comprova que houve, sim, um empurrão financeiro familiar importante.
De programador júnior a milionário da tecnologia
A Zip2 foi criada em 1995 como um diretório de empresas com mapas integrados, algo inovador para a época.
Porém, a limitada experiência de Musk em gestão e programação logo ficou evidente.
O investidor Greg Kouri e outros executivos rebaixaram Musk ao cargo de diretor técnico, colocando Rich Sorkin como CEO.
O código original, feito em grande parte por Elon, apresentava falhas e precisou ser reescrito pelos engenheiros contratados.
Mesmo assim, a Zip2 foi vendida em 1999 para a Compaq por US$ 307 milhões, o que rendeu a Musk sua primeira grande fortuna — mais de US$ 20 milhões.
Com isso, ele embarcou em sua próxima empreitada: o X.com, uma plataforma de serviços bancários online.
A verdadeira história do PayPal
O X.com foi fundido com a Confinity, de Peter Thiel e Max Levchin, resultando no que hoje conhecemos como PayPal.
Embora Musk seja frequentemente citado como cofundador do PayPal, a tecnologia que tornou a empresa famosa foi criada pela Confinity, não pelo X.com.
A principal contribuição de Musk foi a base de usuários e sua capacidade de atrair investimentos.
Musk assumiu como CEO da empresa resultante, mas foi afastado em 2000, durante uma viagem à Austrália, por promover mudanças consideradas arriscadas, como a migração dos sistemas para o Windows — algo incomum na época.
Apesar da saída, Musk permaneceu como acionista e lucrou cerca de US$ 180 milhões quando o eBay comprou o PayPal por US$ 1,5 bilhão em 2002.
A Tesla já existia antes de Musk
O nome de Elon Musk está diretamente associado à Tesla Motors, mas ele não foi o criador da empresa de carros elétricos.
A Tesla foi fundada em 2003 pelos engenheiros Martin Eberhard e Marc Tarpenning, que buscavam revolucionar o setor automotivo com veículos movidos a eletricidade.
Musk só entrou na empresa em 2004, como investidor, após injetar US$ 6,3 milhões do próprio bolso.
Com o tempo, Musk aumentou seu poder dentro da Tesla, passou a presidir o conselho e, em 2007, orquestrou a saída de Eberhard, assumindo o cargo de CEO em 2008.
Uma disputa judicial seguiu-se, com Eberhard acusando Musk de tentar reescrever a história da empresa.
O processo terminou em um acordo extrajudicial que permitiu a Musk se apresentar oficialmente como “cofundador”.
Apesar das controvérsias, é inegável que Musk teve papel crucial na consolidação da Tesla como líder em veículos elétricos.
Sua estratégia de marketing agressiva e visão ambiciosa transformaram a empresa em um símbolo de inovação, mesmo que ele não tenha sido o idealizador inicial do projeto.
SpaceX e os bilhões vindos do setor público
A SpaceX é frequentemente citada como o exemplo máximo da genialidade de Musk, mas muitos dos avanços da empresa só foram possíveis graças a bilhões de dólares vindos de contratos e subsídios governamentais.
Um exemplo marcante é o contrato de US$ 2,6 bilhões com a NASA em 2014 para levar astronautas à Estação Espacial Internacional.
Em 2021, a SpaceX foi novamente selecionada pela agência espacial americana para desenvolver a nave que levará astronautas à Lua na missão Artemis, em um contrato de US$ 2,89 bilhões.
Segundo dados da Reuters, a SpaceX tem cerca de US$ 22 bilhões em contratos governamentais ativos até 2025, sendo US$ 15 bilhões apenas com a NASA.
O Departamento de Defesa e a Força Espacial dos EUA também contrataram a empresa para lançamentos de satélites estratégicos.
Além disso, a Tesla também se beneficiou de recursos públicos importantes, como o empréstimo de US$ 465 milhões do programa federal ATVM, em 2008.
A empresa conseguiu quitá-lo em 2013, impulsionada pela venda de créditos de emissão de carbono — outro mecanismo regulatório incentivado por políticas públicas.
A habilidade de reinventar a própria narrativa
Musk construiu sua imagem pública com habilidade, muitas vezes se colocando como o “fundador” de empresas que ele apenas adquiriu ou das quais participou após sua criação.
Essa estratégia de branding pessoal, embora polêmica, tem funcionado, ao ponto de grande parte da opinião pública desconhecer os verdadeiros fundadores da Tesla ou a história da Confinity com o PayPal.
Mesmo quando suas atitudes foram contestadas por colegas e ex-sócios, Musk soube utilizar sua posição de poder e visibilidade para narrar sua versão dos fatos.
Isso reforça a ideia de que, além de empresário, Elon Musk é também um estrategista da imagem — alguém que domina as narrativas do mundo digital tanto quanto domina os números dos investimentos.
Hoje, com participações em setores que vão de automóveis e energia limpa até inteligência artificial e telecomunicações via satélite, Musk segue como figura central no universo da tecnologia.
Mas, à medida que os bastidores de sua trajetória se tornam mais acessíveis, cresce também o debate sobre a verdadeira origem de sua fortuna e reputação.
Afinal, até que ponto a imagem de um gênio autodidata corresponde à realidade por trás das cifras bilionárias de Elon Musk? Deixe sua opinião nos comentários!