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Nunca a humanidade esteve tão próxima do limite climático de 1,5 ºC. O ano de 2024 marcou uma escalada sem precedentes de eventos extremos e mudanças drásticas na Terra

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 20/03/2025 às 19:29
- mudanças climáticas
Nunca a humanidade esteve tão próxima do limite climático de 1,5 ºC. O ano de 2024 marcou uma escalada sem precedentes de eventos extremos e mudanças drásticas na Terra

2024 bateu todos os recordes climáticos: nível do mar subiu 0,59 cm e 600 eventos extremos atingiram o planeta

Os claros sinais das mudanças climáticas induzidas pelo ser humano atingiram novos patamares em 2024, e algumas consequências serão irreversíveis por centenas ou milhares de anos, segundo o relatório Estado Global do Clima 2024, da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

O relatório também destaca os enormes impactos econômicos e sociais decorrentes dos fenômenos climáticos extremos.

O documento “The State of the Global Climate 2024” reforça as advertências já feitas pelo Copernicus e outras fontes sobre o quão próximos estamos de alcançar o limite de 1,5 grau Celsius.

Segundo o relatório, a temperatura global está entre 1,34 e 1,41 graus Celsius acima da média registrada entre 1850 e 1900, devido à emissão de gases de efeito estufa, redução dos aerossóis e outros fatores.

De qualquer forma, estamos muito próximos do limiar de 1,5 grau, o que já representa um aumento significativo, trazendo consequências graves como o crescimento de fenômenos climáticos extremos, derretimento das calotas polares e aumento irreversível do nível do mar. Este relatório serve, mais uma vez, como um chamado urgente à ação.

No novo relatório do estado do clima global, a OMM confirma que o ano passado foi o mais quente de todo o período de 175 anos em que existem registros observacionais, sendo o primeiro ano a superar em 1,5 ºC a temperatura média do período pré-industrial (1850-1900).

Além disso, o relatório atualiza índices relacionados ao aquecimentos atmosférico na superfície, aquecimento dos oceanos, derretimento das calotas polares, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos, concentração crescente de gases do efeito estufa, entre outros fatores.

Região de Porto Alegre impactada pela enchente que atingiu o estado

Fenômenos climáticos extremos

Todos esses indicadores apontam a dificuldade crescente de cumprir os compromissos firmados no Acordo de Paris. O relatório enfatiza especialmente a importância de fortalecer os sistemas de alerta precoce diante dos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e destrutivos, que provocam grandes perdas materiais e humanas.

Todos os elementos que contribuem para esses sistemas de alerta precoce—como o monitoramento atmosférico e hidrológico, a previsão meteorológica, hidrológica e hidráulica em diversas escalas temporais, a avaliação de riscos, a automatização de procedimentos, a comunicação e difusão de alertas com protocolos claros e a capacitação das comunidades afetadas e dos tomadores de decisão—precisam ser reforçados para minimizar os efeitos desses fenômenos extremos, para os quais uma resposta rápida é essencial.

A OMM possui experiência comprovada no desenvolvimento e implementação de todos os componentes essenciais ao bom funcionamento dos sistemas de alerta precoce.

O ano passado bateu todos os recordes climáticos e teve a maior concentração de CO₂ dos últimos 800 mil anos

A velocidade de elevação do nível do mar dobrou desde o início dos registros, segundo a OMM. Além de ser o ano mais quente já registrado, 2024 quebrou todos os tipos de recordes climáticos.

Foram registrados mais de 600 eventos extremos, 151 deles sem precedentes, que causaram o deslocamento de 824.500 pessoas—o maior número desde 2008, segundo o relatório publicado nesta quarta-feira pela OMM, órgão vinculado à ONU.

O relatório confirma o que essa instituição já havia antecipado em janeiro: 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais.

Este recorde supera o que havia sido estabelecido apenas um ano antes, em 2023, demonstrando que todos os anos mais quentes registrados ocorreram na última década, entre 2015 e 2024.

Além disso, as concentrações de gases de efeito estufa atingiram o nível mais alto dos últimos 800 mil anos. Para colocar isso em perspectiva, estima-se que a nossa espécie tenha surgido há 200 mil anos.

600 eventos climáticos extremos

O ritmo de aumento do nível do mar mais que dobrou desde o início das medições por satélite, passando de 2,1 milímetros ao ano no período de 1993-2002 para 4,5 milímetros ao ano entre 2015 e 2024. Embora um aumento de poucos milímetros possa parecer pequeno, isso coloca em risco milhões de pessoas que vivem em regiões costeiras, como em cidades como Los Angeles, Nova York, Londres, Mumbai, Tóquio ou Xangai.

“O aumento do nível do mar trará impactos em cascata e agravados”, alerta o relatório. A perda dos ecossistemas costeiros, a salinização das águas subterrâneas, as enchentes e os danos à infraestrutura próxima ao mar resultarão em “riscos para meios de subsistência, assentamentos, saúde, bem-estar, segurança alimentar, deslocamentos populacionais, segurança hídrica e valores culturais a curto e longo prazo”, destacam os autores.

Também está acelerando o recuo dos glaciares, que nos últimos três anos perderam mais massa de gelo do que nunca, ameaçando a fonte de água potável para milhões de pessoas no mundo todo.

Nosso planeta está emitindo mais sinais de alerta

“Nosso planeta está emitindo mais sinais de alerta, mas este relatório mostra que ainda é possível limitar a longo prazo o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Os líderes precisam agir para alcançar esse objetivo, aproveitando os benefícios das energias renováveis limpas e baratas para suas populações e economias, com os novos planos nacionais sobre o clima previstos para este ano”, complementou, referindo-se ao relatório.

Guterres faz menção ao limite de 1,5 grau Celsius, patamar que países do mundo inteiro se comprometeram a não ultrapassar no Acordo de Paris.

Nesse pacto histórico, a comunidade internacional prometeu reduzir emissões para limitar o aumento da temperatura global a dois graus ou, idealmente, a 1,5 °C até o final do século, em comparação aos níveis pré-industriais, para evitar impactos climáticos ainda mais catastróficos do que os atuais.

Que um único ano tenha superado essa barreira não significa, segundo o relatório, um descumprimento do Acordo de Paris—para isso, seria necessário calcular a média de 20 a 30 anos, esclarecem os especialistas—, porém representa um impacto psicológico importante por ser algo inédito.

Ondas de calor, chuvas extremas e inundações, os eventos mais frequentes

Dos 616 eventos extremos registrados mundialmente, a maioria (137) foram ondas de calor, seguidas por chuvas extremas (115) e inundações (103). Também ocorreram 297 eventos incomuns. Esses fenômenos deixaram 1,1 milhão de feridos e 1.700 mortos, embora o relatório esclareça que esses números não representam um levantamento exaustivo.

“Outro ano recorde de calor. O aquecimentos global continua sem trégua, exatamente como previsto desde os anos 1980”, destacou Stefan Rahmstorf, pesquisador do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático. Rahmstorf lembra que a única maneira de deter essa crise é abandonar rapidamente os combustíveis fósseis, enfatizando que “temos as soluções, mas somos impedidos pelas campanhas de desinformação e pelos grupos de pressão da indústria fóssil”.

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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