O número de casas vazias dobrou em 20 anos, e o Japão busca soluções para lidar com o crescente problema das Akias e revitalizar comunidades abandonadas.
Imagine um país com casas abandonadas suficientes para abrigar dezenas de milhões de pessoas. Esse é o caso do Japão com suas casas vazias, onde o problema das casas abandonadas — chamadas de Akias — cresce em ritmo alarmante. Hoje, são mais de 9 milhões de imóveis vazios espalhados pelo território japonês, o dobro do que havia há duas décadas. Como isso aconteceu? E o que está sendo feito para mudar o cenário de casas abandonadas no Japão?
A decadência populacional e suas consequências
A principal causa por trás do aumento das casas abandonadas no Japão é o declínio populacional. Nos últimos 15 anos, a população japonesa vem diminuindo constantemente. Com uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo e um envelhecimento acelerado da sociedade, o número de pessoas por família também tem caído. Esse fenômeno cria um excesso de residências, principalmente em áreas rurais, onde muitas famílias não deixam herdeiros interessados em manter os imóveis.
Adicionalmente, o Japão é uma sociedade historicamente conservadora em relação à imigração. Isso significa que, mesmo com um grande número de casas disponíveis, o país não conta com uma população crescente que poderia preencher essas residências. Em 2023, o ex-primeiro-ministro Fumio Kishida chegou a declarar que o declínio da natalidade ameaça transformar o Japão em uma sociedade disfuncional.
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Casas antigas e a desvalorização imobiliária no Japão
Outra grande razão para o aumento das casas abandonadas no Japão é a forma como os imóveis perdem valor com o tempo. Diferentemente de muitas metópoles globais, onde imóveis antigos são valorizados por seu caráter histórico, no Japão as casas depreciam a cada ano. Isso se deve, em parte, às exigências impostas para resistência a terremotos, um fator crítico em um país sujeito a constantes atividades sísmicas.
Além disso, reformar casas antigas no Japão é um processo caro e burocrático. A legislação imobiliária exige autorizações complexas e uma mão de obra especializada que, atualmente, é escassa no mercado. Com isso, muitos proprietários preferem abandonar suas residências em vez de investir em reformas.
Akias no TikTok: a nova moda das casas abandonadas
Nos últimos anos, as casas abandonadas no Japão ganharam um novo tipo de atenção. Uma onda viral no TikTok tem mostrado estrangeiros reformando essas residências, transformando-as em lares acolhedores e cheios de personalidade. Um dos exemplos mais conhecidos é o do sueco Anton, que reformou uma Akiya em Tóquio e atraiu milhões de seguidores nas redes sociais.
Esse fenômeno despertou o interesse de pessoas de todo o mundo, especialmente aquelas que sonham com a casa própria, mas enfrentam dificuldades para adquirir imóveis em seus países de origem. O Japão, com sua estabilidade e infraestrutura, torna-se um destino atraente para quem busca uma oportunidade diferente. Contudo, essa tendência ainda é limitada a algumas centenas de casas, tendo pouco impacto no gigantesco estoque de Akias espalhadas pelo país.
O que o governo está fazendo para resolver o problema?
Ciente do desafio que representa o grande número de casas abandonadas, o governo japonês tem adotado medidas para incentivar a reutilização desses imóveis. Entre as ações, estão:
- Subsídios para famílias jovens: Casais que aceitam se mudar para o interior podem receber incentivos financeiros;
- Facilidade na aquisição de Akias: Em algumas regiões, as casas são vendidas por valores simbólicos ou mesmo doadas;
- Promoção da imigração: Embora ainda incipiente, há esforços para atrair trabalhadores estrangeiros para ocupar essas residências.
Apesar dessas iniciativas, o problema está longe de ser resolvido. O declínio populacional continua, e muitos japoneses ainda preferem construir novas casas em vez de reformar as antigas.
Um problema com solução?
As casas abandonadas no Japão representam um reflexo das mudanças sociais e econômicas que o país enfrenta. Embora iniciativas como as reformas de Akias estejam ganhando popularidade nas redes sociais, elas ainda são insuficientes para lidar com a escala do problema.
O que o futuro reserva para essas casas e seus novos proprietários? Apenas o tempo dirá. Por enquanto, o Japão continua buscando soluções criativas para equilibrar tradição, modernidade e as complexidades do mercado imobiliário em uma sociedade em transformação.