A intensificação do cruzamento de dados pela Receita Federal já resulta em autuações milionárias, com foco em contribuintes cujas movimentações via Pix não condizem com a renda declarada no imposto de renda, em um sistema automatizado que cruza bancos, fintechs e declarações fiscais
A Receita Federal passou a cruzar de forma automatizada os dados de movimentações financeiras feitas por Pix com as informações declaradas no imposto de renda. O objetivo é detectar incompatibilidades entre a renda informada e os valores movimentados, o que pode levar à aplicação de multas que chegam a 150% sobre o valor não declarado, além de juros retroativos.
Desde janeiro de 2025, a fiscalização foi ampliada e passou a incluir dados enviados semestralmente por bancos e fintechs, que comunicam ao Fisco o volume total de transações de cada contribuinte. Não há um imposto sobre o Pix, mas as informações são usadas para combater sonegação e identificar rendimentos ocultos sob a aparência de transferências pessoais.
Como funciona o cruzamento de dados
A Receita utiliza o sistema e-Financeira, plataforma de monitoramento de movimentações financeiras que recebe informações diretamente das instituições bancárias e de pagamento.
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O envio passou a ser semestral, cobrindo todo o volume de transações feitas por Pix, TED, DOC, cartões e outras operações.
No caso de pessoas físicas, movimentações superiores a R$ 5 mil por mês passam a ser verificadas com maior atenção, enquanto empresas e MEIs são monitorados a partir de R$ 15 mil mensais.
Esses limites não se referem a cada transação, mas ao total movimentado no período.
Se o valor for incompatível com a renda declarada, o contribuinte pode cair na malha fina.
Quando o Pix gera suspeita de sonegação
A Receita não tributa transferências entre familiares, reembolsos ou empréstimos pessoais, mas o sistema identifica padrões atípicos, como recebimentos frequentes ou elevados sem origem declarada.
O cruzamento é feito por inteligência artificial, que compara os valores recebidos com declarações anteriores e com dados de rendimentos, notas fiscais e despesas registradas.
Em 2025, o Banco Central apontou que uma a cada 238 transferências por Pix de pessoas físicas superou R$ 5 mil, e uma a cada 91 transações empresariais excedeu R$ 15 mil.
Esses volumes são automaticamente sinalizados para o sistema da Receita, que aciona alertas de inconsistência.
Multas e autuações milionárias
Quando o sistema detecta discrepâncias e o contribuinte não consegue justificar a origem dos recursos, a Receita Federal aplica multas que variam entre 75% e 150% do valor omitido.
O cálculo é retroativo em até cinco anos, com cobrança de juros e atualização monetária.
A fiscalização é inteiramente automatizada e integrada com a base do imposto de renda, permitindo que a Receita identifique rendimentos omitidos com rapidez.
Contribuintes que recebem por Pix sem declarar, como autônomos e pequenos empreendedores, estão entre os mais visados, principalmente quando as transações não são acompanhadas por nota fiscal.
Fiscalização também mira fintechs e carteiras digitais
Com a expansão das plataformas financeiras, a Receita reforçou o controle sobre instituições de pagamento e carteiras digitais.
Desde agosto de 2025, o Ministério da Fazenda determinou que fintechs também enviem informações detalhadas sobre transações de clientes, garantindo que o sistema de monitoramento cubra todo o ecossistema financeiro.
Esse rastreamento ampliado visa impedir brechas entre bancos tradicionais e meios de pagamento alternativos.
Segundo técnicos do Fisco, o objetivo é nivelar o grau de fiscalização, já que muitos contribuintes migraram parte de suas movimentações para apps de pagamento acreditando haver menor rastreabilidade.
Quem deve se preocupar
A fiscalização é direcionada principalmente a quem omite rendimentos, e não a quem apenas movimenta valores.
Profissionais liberais, autônomos e pequenos empresários que recebem por Pix devem registrar seus ganhos corretamente, sob risco de autuação.
Já transferências ocasionais entre familiares, doações informadas e transações de baixo valor não entram na mira do sistema, desde que coerentes com o perfil financeiro do contribuinte.
A transparência e o registro correto das operações ainda são as principais formas de evitar problemas com o Fisco.
O que diz a Receita Federal
O órgão reforça que não há um imposto sobre o Pix.
O que existe é fiscalização sobre a origem dos rendimentos movimentados.
Segundo a Receita, o avanço tecnológico permite identificar irregularidades com mais precisão, tornando desnecessário qualquer acompanhamento manual.
A lógica é simples: quem declara corretamente não precisa se preocupar, mas quem tenta mascarar rendimentos via Pix pode ser multado e ainda responder por crime de sonegação, dependendo da gravidade.