Com pico de R$ 6 durante o dia, o dólar encerra negociações a R$ 5,98, renovando máxima histórica. Medidas fiscais anunciadas pressionam câmbio e elevam incertezas econômicas
O dólar comercial encerrou esta quinta-feira com forte alta de 1,30%, alcançando R$ 5,9891, o maior valor de fechamento desde a criação do real em 1994. Durante o dia, a moeda chegou a ultrapassar a marca de R$ 6, atingindo R$ 6,0029 às 13h12, refletindo a reação negativa do mercado financeiro às medidas fiscais anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Esse valor supera a máxima intraday histórica, registrada durante o auge da pandemia em maio de 2020, quando o dólar atingiu R$ 5,97. Na quarta-feira, a moeda já havia fechado em alta significativa, cotada a R$ 5,91, devido a expectativas sobre o pacote econômico. As informações detalhadas, no entanto, elevaram o pessimismo no mercado, que já previa desafios para conter os gastos públicos.
Pacote fiscal enfrenta críticas sobre impacto e clareza
O pacote de medidas anunciado pelo governo busca um ajuste fiscal com economia estimada em R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, chegando a R$ 400 bilhões até 2030. Entre as propostas estão a introdução de uma idade mínima para aposentadoria dos militares e alterações nos critérios de reajuste do salário mínimo. Apesar disso, a inclusão da isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil gerou controvérsias.
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Analistas avaliam que a proposta de isenção compromete o impacto fiscal esperado das outras medidas. Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, apontou que a mudança no IR pode levar à perda de receita significativa, prejudicando o objetivo de estabilizar a relação dívida/PIB. Em relatório, ele destacou que a falta de clareza sobre como compensar a isenção enfraquece a credibilidade do ajuste.
Charo Alves, da Valor Investimentos, reforçou essa preocupação: “A expectativa era por um pacote de cortes consistentes, mas o anúncio trouxe novos gastos. Isso cria incerteza, principalmente sobre as fontes de recursos para compensar as isenções”. Segundo ele, a falta de detalhamento aumentou a pressão sobre o câmbio.
Moeda brasileira lidera desvalorização global
No mercado internacional, o real teve o pior desempenho entre as principais moedas em relação ao dólar. Enquanto o iene japonês recuou 0,28% e o euro perdeu 0,09%, algumas moedas emergentes registraram valorização. O peso mexicano avançou 0,72%, e o rand sul-africano subiu 0,43%, destacando a fragilidade do real frente a outras divisas globais.
Especialistas atribuem essa desvalorização ao ambiente doméstico de incerteza fiscal, combinado com o contexto internacional, onde o dólar continua robusto diante da alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Esse cenário reforça a percepção de risco em relação à economia brasileira, pressionando ainda mais o câmbio.
Juros futuros projetam Selic mais alta
A curva de juros futuros também refletiu a desconfiança do mercado. As taxas de depósitos interfinanceiros (DI), referência para contratos negociados, registraram aumento ao longo do dia. Para janeiro de 2026, a taxa subiu para 13,725%, em comparação aos 13,5% do fechamento anterior. O mercado agora projeta que a taxa Selic poderá atingir 14,25% até novembro de 2025.
Fernando Haddad, em coletiva, tentou amenizar o pessimismo, afirmando que o mercado precisa revisar suas previsões e abandonar projeções equivocadas sobre o crescimento econômico e o resultado primário. Segundo o ministro, o ajuste fiscal está em curso e não será resolvido de forma imediata. “Não existe bala de prata. É preciso que o mercado compreenda o esforço que está sendo feito”, declarou.
Promessas de campanha criam embates dentro do governo
A inclusão da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil foi vista como uma vitória política para o presidente Lula, que cumpriu uma de suas promessas de campanha. No entanto, analistas acreditam que essa decisão enfraqueceu o ministro da Fazenda, que defendia um ajuste mais robusto sem comprometer receitas.
Esse embate interno destacou a dificuldade do governo em equilibrar prioridades políticas e econômicas. Embora a isenção seja popular, ela adiciona complexidade ao desafio de atingir a meta fiscal. Para Haddad, o pacote fiscal é apenas o início de um esforço contínuo, mas os ruídos políticos podem dificultar a implementação completa das medidas.
Impacto das medidas deve ser monitorado nos próximos meses
O pacote fiscal detalhado nesta quinta-feira incluiu medidas para conter gastos e aumentar a arrecadação, com o objetivo de melhorar os indicadores econômicos nos próximos anos. A estimativa de economia de R$ 70 bilhões até 2025 é significativa, mas depende da execução efetiva das propostas. Até 2030, o governo projeta economizar R$ 400 bilhões, mas os analistas alertam que isso pode ser insuficiente para estabilizar a dívida pública caso novos gastos sejam adicionados.