Descoberta no Mar da China Meridional pode transformar o cenário energético global, mas riscos ambientais preocupam especialistas
A China anunciou a extração bem-sucedida de grandes quantidades de gelo combustível, também conhecido como hidrato de metano, do fundo do Mar da China Meridional, um feito considerado estratégico e promissor para o futuro da matriz energética global.
Gelo combustível: o que é e por que isso importa?
O chamado gelo combustível é uma mistura altamente energética de água e metano que se forma sob altíssimas pressões e baixíssimas temperaturas, geralmente no fundo dos oceanos ou em regiões de permafrost. Quando aquecido ou despressurizado, esse gelo se transforma em gás metano, liberando até 160 metros cúbicos de gás por metro cúbico da substância sólida. Isso o torna uma das maiores apostas para substituir combustíveis fósseis no futuro.
Pesquisadores acreditam que as reservas globais de hidrato de metano são imensas, dez vezes maiores que as de xisto, segundo o professor Praveen Linga, da Universidade Nacional de Cingapura, em entrevista à BBC News. O desafio, no entanto, é tornar a extração segura, eficiente e viável economicamente.
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Avanço chinês e a corrida global pela nova energia
A operação chinesa ocorreu na área de Shenhu, no disputado Mar da China Meridional, e resultou na extração diária de cerca de 16 mil metros cúbicos de gás de elevada pureza. Essa foi uma das maiores extrações já registradas, superando tentativas anteriores do Japão, Estados Unidos e Canadá. O feito foi comemorado pelas autoridades chinesas como um “marco estratégico” para a segurança energética do país.
Vale lembrar que países como Índia, Coreia do Sul e Japão também investem em tecnologias para viabilizar a exploração do gelo combustível, especialmente por dependerem da importação de petróleo e gás. Os Estados Unidos e o Canadá focam suas pesquisas em reservas localizadas sob o solo congelado do Alasca e do norte canadense.
Potencial energético e risco climático
Embora o gelo combustível prometa revolucionar o setor energético, ele também carrega riscos ambientais significativos. O metano, se liberado na atmosfera de forma descontrolada, pode acelerar drasticamente o aquecimento global, por ser um gás com potencial de impacto climático até 25 vezes maior que o dióxido de carbono, segundo dados da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA).
Especialistas alertam que o controle rigoroso das operações será essencial. “O sucesso da China é um passo importante, mas ainda há um longo caminho até a exploração comercial segura”, destacou Linga à BBC.
Expectativas para o futuro do gelo combustível
Mesmo com os avanços, os especialistas acreditam que a exploração em escala comercial do gelo combustível só será viável a partir de 2025, na melhor das hipóteses. Até lá, a prioridade será o desenvolvimento de tecnologias que permitam extrair o recurso de forma segura e sustentável.
A China, por sua vez, anunciou a construção de um laboratório submarino a 2 mil metros de profundidade para estudar melhor as reservas e seus impactos ambientais, segundo o Blog da Engenharia. A iniciativa reforça o compromisso do país em dominar a tecnologia antes dos demais concorrentes.