Mais de 230 navios gigantes chegam anualmente ao cemitério de navios em Chittagong, gerando milhões de toneladas de aço reciclado, mas às custas de condições desumanas, exploração infantil e graves danos ambientais.
Um gigante de aço, que navegou pelos oceanos por décadas, terminando seus dias encalhado em uma praia. Em Chittagong, Bangladesh, isso é mais do que uma metáfora – é uma realidade diária. Este estaleiro, considerado o maior “cemitério de navios” do mundo, desmantela essas embarcações colossais, mas a que custo? Por trás do aço reciclado, há histórias de exploração humana e impacto ambiental devastador.
O ciclo de vida dos gigantes dos mares
Navios têm uma vida útil média de 30 anos. Depois disso, o custo de manutenção supera os benefícios. Quando chegam a esse ponto, as empresas precisam decidir: modernizar ou enviar o navio para sucata.
A reciclagem de navios, quando bem feita, é sustentável. Grande parte das embarcações pode ser reaproveitada, desde o aço até componentes eletrônicos. No entanto, em lugares como Chittagong, a reciclagem ganha contornos preocupantes.
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Chittagong: O maior cemitério de navios do mundo
Nos anos 1960, barcos encalhados deram início a essa prática. Na década de 1980, Chittagong consolidou-se como o principal destino de desmantelamento de navios. Hoje, mais de 230 embarcações chegam anualmente, produzindo milhões de toneladas de aço reciclado.
A atividade gera empregos para centenas de milhares de pessoas, mas a um custo elevado. Muitos trabalhadores enfrentam condições perigosas, enquanto o meio ambiente sofre com a contaminação.
O processo de desmantelamento de navios
O processo deveria ser simples: retirar combustíveis e produtos químicos, desmontar componentes eletrônicos, e cortar o navio em partes para reciclagem. Mas, em Chittagong, a ausência de docas secas permite que contaminantes vazem diretamente no solo e no mar.
O desmantelamento inadequado expõe trabalhadores a substâncias tóxicas, causando problemas respiratórios, musculares e até mortes. Em 2017, pelo menos nove pessoas morreram no estaleiro, mas nenhuma responsabilidade foi assumida.
Um futuro sustentável?
A Convenção de Hong Kong, criada em 2009, busca padronizar o desmantelamento de navios. Contudo, a adesão ainda é baixa, especialmente em países como Bangladesh, onde o custo de operação é uma prioridade.
Alguns locais, como o estaleiro Aliaga, na Turquia, mostram que é possível realizar o desmonte de forma sustentável, com respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores.