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Suíça não produz café, mas consegue fazer BILHÕES nas custas do produto que sai do Brasil

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 09/12/2024 às 21:51
Brasil lidera a produção mundial de café, mas Suíça lucra bilhões ao transformar grãos brasileiros em produtos premium, como cápsulas.
Brasil lidera a produção mundial de café, mas Suíça lucra bilhões ao transformar grãos brasileiros em produtos premium, como cápsulas.

Sem plantar um único grão, a Suíça domina o mercado global de café, lucrando bilhões com grãos brasileiros. Enquanto o Brasil lidera na produção, a Suíça entrega luxo e conveniência, vendendo cápsulas que chegam a custar 10 vezes mais que o produto cru. Uma relação desigual que deixa bilhões fora do alcance brasileiro.

Enquanto o Brasil colhe milhões de sacas de café todos os anos, a Suíça transforma esses grãos em ouro.

Sem plantar um único pé de café, o país europeu lidera a exportação de produtos derivados de café, gerando receitas bilionárias.

Essa disparidade evidencia um modelo econômico em que o trabalho agrícola e a riqueza natural brasileira são utilizados para impulsionar as margens de lucro suíças.

Dados do mercado mostram que a Suíça, ao comprar grãos de café crus de países como o Brasil, processa e vende produtos com alto valor agregado, como cápsulas de café.

Essa estratégia não apenas assegura lucros exorbitantes, mas também consolida o país como líder em um mercado que movimenta bilhões anualmente.

Brasil: líder na produção, mas não no lucro

O Brasil, maior produtor de café do mundo, exportou cerca de 2,3 milhões de toneladas de grãos não torrados em 2020, segundo levantamentos da indústria.

Esses números confirmam a liderança global brasileira na produção, seguida pelo Vietnã, Colômbia, Indonésia e Honduras.

Apesar disso, os grãos crus representam 83% do comércio mundial de café em peso, mas apenas 59% em valor.

Essa diferença é um reflexo direto da falta de agregação de valor no Brasil. O país se especializa no fornecimento de matéria-prima, enquanto nações como a Suíça dominam o processamento, o branding e a comercialização.

Como a Suíça domina o mercado de café

A Suíça é mundialmente conhecida por suas marcas sofisticadas e pela inovação no mercado de café, especialmente por meio de produtos como as cápsulas da Nespresso.

Conforme Fernanda Iorio, CEO da FCI Consulting Export, o café encapsulado pode custar até 10 vezes mais que o grão cru exportado pelo Brasil.

Esse modelo demonstra como o valor de um produto é amplificado ao ser transformado e comercializado sob marcas reconhecidas globalmente.

Empresas suíças importam os melhores grãos, muitos deles brasileiros, e utilizam processos industriais avançados para produzir café torrado, moído e encapsulado.

A associação com qualidade e exclusividade permite que essas empresas pratiquem preços altos, garantindo margens de lucro expressivas.

O “cinturão dos grãos” e a falta de acesso ao mercado

Os maiores produtores de café estão localizados no chamado “cinturão dos grãos” (bean belt), uma região que se estende entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.

Esse clima tropical é ideal para o cultivo de café, mas os países dessa faixa enfrentam desafios para competir na cadeia de valor global.

Já os maiores exportadores de café processado, como a Suíça, Alemanha e Itália, estão fora desse cinturão.

Embora não tenham condições naturais para o cultivo, eles se destacam pela infraestrutura industrial e pela expertise em agregar valor aos produtos.

Desafios do Brasil em agregar valor

Especialistas destacam que o Brasil enfrenta barreiras significativas para replicar o modelo suíço. Entre os principais desafios estão:

  • Infraestrutura deficiente: a logística de transporte interno encarece os custos de produção.
  • Falta de incentivos à industrialização: políticas públicas voltadas à exportação de matéria-prima não favorecem o desenvolvimento de produtos acabados.
  • Alta carga tributária: impostos elevados reduzem a competitividade de produtos industrializados brasileiros no mercado global.

Apesar dessas dificuldades, há exemplos de empresas brasileiras que começam a explorar nichos de mercado com produtos como cafés gourmet e cápsulas nacionais.

Suíça: um exemplo de estratégia econômica

A Suíça é um caso emblemático de como agregar valor pode transformar um mercado. Sem terras agrícolas para o café, o país investiu em inovação, branding e tecnologia.

Marcas como Nespresso são símbolos desse sucesso, tornando o café suíço uma referência mundial.

Segundo estudos de mercado, a exportação de café processado movimenta bilhões de dólares anualmente para a Suíça.

A estratégia de focar em produtos prontos para o consumo, associados a marketing de luxo, garante ao país europeu uma posição privilegiada no mercado global.

Reflexões sobre o futuro do café brasileiro

A disparidade entre Brasil e Suíça no mercado de café levanta questões importantes. Por que o maior produtor mundial não domina também o segmento de produtos acabados?

Como o país pode se posicionar de forma mais estratégica no mercado global?

Uma possível resposta está na necessidade de políticas públicas que incentivem a industrialização e na aposta em inovação tecnológica.

O Brasil, com sua diversidade de sabores e sua liderança na produção, tem o potencial de disputar espaço no mercado de luxo e de conveniência.

No entanto, a jornada para equilibrar a balança econômica será longa. Enquanto isso, a Suíça continuará faturando bilhões com o café brasileiro, deixando ao Brasil o papel de fornecedor de matéria-prima.

Será que o Brasil conseguirá um dia reverter esse cenário e alcançar os lucros bilionários que a Suíça obtém com seu café?

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Zé Verzola
Zé Verzola
10/12/2024 09:30

O Café é um dos melhores exemplos de como estamos errados em apenas exportar “Comodites”, ao invés de industrializar e dar valor agregado ao produto. Isso já há + de 2 Séculos.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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