Com porta-malas gigante e conforto de sedã, a perua esquecida pela ascensão dos SUVs oferece um pacote superior de espaço e dirigibilidade por um preço surpreendentemente baixo.
Houve um tempo em que as peruas dominavam as garagens das famílias brasileiras. Elas eram sinônimo de espaço e versatilidade. Contudo, a chegada dos SUVs mudou tudo, valorizando a imagem em detrimento da funcionalidade. Essa mudança de mercado deixou para trás veículos extremamente competentes, hoje subvalorizados. Entre eles, a Renault Megane Grand Tour se destaca como a compra mais racional para quem busca um carro usado.
A ascensão dos SUVs e o fim de uma era para as peruas
No início dos anos 2000, as peruas ainda reinavam no Brasil. Modelos como a Fiat Palio Weekend e a Volkswagen Parati tinham vendas expressivas. O cenário mudou em 2003 com o lançamento do Ford EcoSport. Este modelo inaugurou a era dos SUVs compactos e iniciou uma revolução no mercado.
A proposta de uma posição de dirigir elevada e uma imagem de robustez seduziu o consumidor. A ascensão dos SUVs foi implacável. O que era tendência virou a força dominante. Em 2012, os SUVs já registravam o dobro das vendas das peruas.
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Em 2019, os SUVs compactos representavam cerca de 20% das vendas totais no Brasil. No mesmo período, a última perua nacional, a Fiat Weekend, saía de linha. Esta transição, baseada mais na percepção do que na prática, criou uma oportunidade única no mercado de usados.
As vantagens que os SUVs não superam
O principal argumento a favor da Megane Grand Tour é sua superioridade prática. O porta-malas de 520 litros é o grande trunfo. Este volume supera a vasta maioria dos SUVs compactos e médios vendidos atualmente. O Ford EcoSport, por exemplo, oferecia apenas 296 litros. O próprio Renault Duster, um SUV espaçoso, tem 400 litros na versão 4×4.
O conforto é outro diferencial. A perua tem 4,50 metros de comprimento e 2,68 metros de entre-eixos. Isso garante um excelente espaço interno, especialmente para quem viaja no banco de trás. A condução se beneficia de sua arquitetura de sedã.
A suspensão equilibra maciez e estabilidade, e a direção com assistência elétrica é leve em manobras e firme na estrada. A Megane Grand Tour entrega o espaço de um utilitário com a dirigibilidade segura de um bom sedã, sem os sacrifícios de um centro de gravidade elevado, comum nos SUVs.
Desmistificando a fama de “bomba”
A Megane Grand Tour foi oferecida com dois motores conhecidos. O 1.6 16V Hi-Flex (K4M) equipa a maioria das unidades e entrega 115 cv, um desempenho adequado para o carro. Já o motor 2.0 16V (F4R), com 138 cv, oferece mais agilidade.
Este motor F4R é tão robusto que a Renault o utilizou em modelos mais recentes, inclusive nas SUVs, como Duster e também o hachtback Sandero R.S. O ponto mais controverso é o câmbio automático AL4 de quatro marchas. Ele carrega a fama de ser problemático, mas a questão central é a negligência na manutenção.
O câmbio exige a troca do fluido a cada 40.000 km, um procedimento que muitos proprietários ignoraram. Sem o cuidado correto, a transmissão apresenta falhas. Essa reputação derrubou o preço do carro, criando uma oportunidade para o comprador informado. Os custos de peças de rotina, como pastilhas de freio e velas, são razoáveis e compatíveis com outros sedãs médios.
Como escolher a melhor Megane Grand Tour
A versão mais recomendada por especialistas é a Dynamique 1.6 16V com câmbio manual, dos anos 2012 ou 2013. São os modelos mais novos e a configuração mecânica é a mais confiável, evitando o risco do câmbio automático mal cuidado. Esta versão já vinha bem equipada com ar digital, direção elétrica, piloto automático e sensores de chuva e luminosidade.
Exemplares em bom estado são encontrados na faixa de R$ 27.000 a R$ 35.000. Antes de fechar negócio, uma inspeção rigorosa é vital. Verifique a direção elétrica, pois seu reparo é caro, podendo custar cerca de R$ 5.000. Teste o funcionamento do cartão-chave e procure por sinais de infiltração de água no interior. A busca paciente por uma unidade bem cuidada é a chave para um bom negócio.
Megane Grand Tour vs. SUVs Populares
A comparação direta com os SUVs consolida a tese de compra inteligente. Contra o Ford EcoSport 1.6 de 2012, a Megane Grand Tour oferece 75% mais porta-malas, é mais rápida e mais econômica na estrada, por um preço de mercado inferior.
A rivalidade interna com o Renault Duster também é reveladora. Mesmo compartilhando o motor 2.0, a perua tem 30% a mais de porta-malas, é mais rápida e mais eficiente em consumo rodoviário. Sua menor altura garante um centro de gravidade mais baixo, resultando em maior estabilidade.
O Duster leva vantagem apenas para quem realmente precisa de maior altura do solo. Para a maioria dos motoristas, que rodam no asfalto, a engenharia da Megane Grand Tour é simplesmente superior. A preferência do mercado pelos SUVs foi uma escolha de imagem, não de eficiência.