Descubra o mapa de Ga‑Sur, uma tabuleta de barro de 4.200 anos considerada o mapa mais antigo do mundo — um marco da cartografia que revela como os sumérios já mapeavam terras na antiga Mesopotâmia.
Desde que o ser humano começou a se organizar em sociedades, a necessidade de representar o mundo ao seu redor se tornou inevitável. A curiosidade em compreender territórios, delimitar fronteiras e registrar paisagens deu origem a uma das invenções mais transformadoras da nossa história: o mapa. Muito antes de existirem satélites, bússolas ou sistemas de GPS, as primeiras civilizações já buscavam traduzir o espaço físico em símbolos e linhas. E entre os registros mais antigos já encontrados, uma peça em especial desperta fascínio entre historiadores e arqueólogos: a tabuleta de Ga‑Sur, considerada por muitos o mapa mais antigo do mundo.
Datada de aproximadamente 4.200 anos atrás (c. 2.500 a.C.), a pequena placa de barro foi descoberta no território que hoje corresponde ao Iraque, em plena Mesopotâmia, o berço de algumas das primeiras civilizações humanas. Mais do que um artefato arqueológico, o mapa de Ga‑Sur é um testemunho de como os sumérios já tinham uma percepção avançada do espaço e de sua organização territorial.
Mapa de Ga‑Sur: o início da cartografia na antiga Mesopotâmia
Encontrado nas ruínas da antiga cidade suméria de Nuzi, próxima à moderna Kirkuk, o mapa de Ga‑Sur está hoje preservado no Museu do Antigo Oriente, em Istambul.
-
Descubra Superagui, o paraíso secreto na ilha brasileira, sem carros, com piscinas naturais e cultura única
-
Conheça o bilionário anônimo e a história real por trás do apelido mais misterioso do Brasil
-
Komatsu D575A‑3 Super Dozer empurra o equivalente a uma casa pequena por vez
-
A escavadeira Bagger 288 opera com apenas cinco pessoas, mesmo pesando 13.500 toneladas e consumindo energia de uma cidade inteira
Apesar do tamanho modesto e da simplicidade do traço, o que ele revela é extraordinário: ali estão representadas propriedades agrícolas, canais de irrigação e divisões de terrenos, evidenciando que, ainda na Idade do Bronze, os sumérios já entendiam a importância de registrar graficamente a terra que cultivavam.
Mais do que uma ferramenta prática, o mapa também tinha um caráter simbólico. Ele mostrava não só os limites físicos, mas a forma como uma sociedade se organizava e enxergava o mundo. É a semente do que hoje chamamos de cartografia – um conceito que evoluiria ao longo dos milênios, mas que teve em Ga‑Sur um de seus primeiros capítulos.
Mapa mais antigo do mundo: Ga‑Sur ou Imago Mundi?
O mapa de Ga‑Sur é considerado por muitos especialistas o primeiro traço cartográfico da humanidade. No entanto, há outro candidato famoso a esse título: a Imago Mundi, uma tabuleta babilônica datada de cerca de 600 a.C.
Diferente do mapa sumério, que tinha um propósito mais funcional, a Imago Mundi é vista como o primeiro mapa‑múndi conhecido. Nela, a Babilônia aparece no centro do mundo, cercada por um grande rio circular – interpretado como o oceano – e com sete “ilhas” representando terras distantes, muitas vezes míticas.
O mapa mistura conhecimento geográfico com cosmologia e religião, sendo um reflexo do modo como os babilônios concebiam o universo.
Apesar do fascínio pela Imago Mundi, o mapa de Ga‑Sur permanece como a evidência mais antiga de um mapa com função prática e administrativa, registrando o espaço de forma rudimentar, mas extremamente significativa.
Cartografia antiga: para que serviam os primeiros mapas?
Os primeiros mapas, como o de Ga‑Sur, não tinham a precisão e a escala dos mapas modernos. Eram representações simples, mas carregadas de significado. Na Mesopotâmia, por exemplo, esses registros tinham funções variadas:
- Administrar propriedades agrícolas e sistemas de irrigação, vitais para uma sociedade que dependia do cultivo e do controle das cheias dos rios Tigre e Eufrates;
- Organizar a divisão de terras entre templos, reis e camponeses, garantindo que os limites fossem respeitados;
- Expressar crenças e visão de mundo, conectando a geografia à cosmologia e à religião locais.
Ou seja, esses mapas eram tanto ferramentas administrativas quanto expressões culturais, servindo para gerir o território, mas também para reforçar a ordem social e espiritual da época.
Mapa em argila: o valor simbólico e histórico da tabuleta
O fato de o mapa de Ga‑Sur estar inscrito em argila diz muito sobre a tecnologia e os costumes da Mesopotâmia.
Antes do uso do papiro, do pergaminho e, mais tarde, do papel, a argila era o principal suporte para registros escritos e gráficos. Gravados com estiletes de madeira ou metal, esses tabletes eram depois cozidos para garantir a durabilidade.
Isso explica como o mapa sobreviveu por mais de quatro milênios. A durabilidade do material preservou não apenas um traço de cartografia, mas uma janela para a mentalidade e as necessidades de uma das primeiras sociedades organizadas do planeta.
Da tabuleta de Ga‑Sur à cartografia moderna
Do traço simples em uma tabuleta de barro até os sistemas digitais de geolocalização, a história da cartografia percorreu um longo caminho. Depois de Ga‑Sur, vieram os mapas egípcios, os gregos e romanos, e, séculos depois, os revolucionários trabalhos de Ptolomeu, Al‑Idrisi e Mercator, que moldaram nossa visão de mundo.
Hoje, usamos aplicativos de mapas com um clique, mas tudo começou com artefatos como o de Ga‑Sur. Eles mostram que a vontade de representar o espaço e entender nosso lugar no mundo é uma necessidade intrínseca do ser humano — tão antiga quanto a própria civilização.
Mais do que o “mapa mais antigo do mundo”, a tabuleta de Ga‑Sur é um marco da história da cartografia e um lembrete de como o pensamento humano evoluiu. Ali, em linhas toscas gravadas na argila, está o início de uma jornada que nos levou das primeiras divisões de terras às imagens de satélite em tempo real.
O mapa de Ga‑Sur não é apenas um objeto de museu. Ele é um elo entre passado e presente, mostrando que, desde os primeiros traços, o ser humano busca compreender, organizar e deixar marcas no mundo que habita.