Os reatores modulares vindos da Rússia poderão ser muito úteis no Brasil, porém somente um estudo detalhado será capaz de revelar se a aplicação da energia nuclear na matriz energética brasileira de fato terá impacto positivo
Após a última viagem do presidente da república Jair Bolsonaro à Rússia, houve uma importante sinalização da aplicação de energia nuclear para o mercado brasileiro. Em uma reunião que durou cerca de 2 horas com o presidente Vladimir Putin, em Moscou, Bolsonaro deu ênfase à criação de um estreitamento de laços com a Rússia, no segmento de energia nuclear, incluindo principalmente os pequenos reatores modulares, também conhecidos como SMRs. Depois da reunião com Putin, o presidente do Brasil afirmou que existe a possibilidade de que Rússia e o Brasil ampliem negócios nas áreas de exploração de petróleo e gás, derivados, e principalmente energia, mas que ainda irão aprofundar o diálogo a respeito dessa possibilidade. Bolsonaro disse ainda que o governo brasileiro tem muito interesse nos pequenos reatores modulares.
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Tendência mundial em torno de pequenos reatores modulares
Para Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), o recado do presidente do Brasil mostra que o país está muito atento à nova tendência mundial em torno dos pequenos reatores modulares.
Cunha relatou que o mundo todo está em busca dessa tecnologia, justamente pela série de vantagens adicionais que ela tem, diferentemente dos grandes reatores convencionais. A Rússia é um dos principais países a participar diretamente do desenvolvimento desses pequenos reatores modulares, através de sua estatal, a Rosatom.
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Outros países também estão à frente do desenvolvimento de pequenos reatores modulares
De acordo com Cunha, a China irá construir cerca de 150 reatores já nos próximos 15 anos. A França anunciou recentemente que deu início à produção de reatores nucleares. Demais países europeus já estão analisando a possibilidade de incluir, dentro da margem de financiamentos considerados “verdes”, a fonte nuclear.
E em relação aos Estados Unidos, Cunha relatou que o país norte americano está apoiando a construção de pequenos reatores, principalmente para produção de hidrogênio. O presidente da ABDAN disse ainda que, se o Brasil quiser cumprir as metas climáticas estabelecidas pela última conferência do clima, a COP-26, não poderá de forma alguma fugir de novos investimentos na fonte de energia nuclear.
Contudo, Cunha relembrou que a tecnologia dos pequenos reatores modulares ainda é muito nova e com diferentes modelos sendo desenvolvidos, em diferentes países. Ele deu destaque também à construção de reatores modulares no país, frisando que isso não é possível, já que Brasil ainda não possui um amplo e necessário conjunto de informações técnicas e recursos necessários para isso.
Estudo sobre a matriz energética do Brasil
A ABDAN, desde janeiro desse ano, em parceria com o Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GESEL/UFRJ), está desenvolvendo um estudo para identificar todas as barreiras que possam impedir a entrada dos pequenos reatores modulares de energia nuclear na matriz energética do Brasil.
Segundo o presidente da ABDAN, a expectativa é que o estudo e a pesquisa de campo durem pelo menos quatro meses, e os resultados serão anunciados entre os meses de abril e maio deste ano.
Em 2021, a ABDAN lançou o Fórum Permanente sobre os Pequenos Reatores Modulares, cujo colegiado é composto por representantes das entidades EPE, Ministério de Minas e Energia, Autoridade Nacional de Segurança Nuclear, diretoria de Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade da Marinha do Brasil, Centro de Pesquisa da Eletrobras – CEPEL, ABDAN, Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, Universidade Federal do Rio de Janeiro, e outros Institutos de Pesquisa.