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Em 1967, a CIA treinou um gato, implantou um microfone em seu crânio e investiu US$ 20 milhões em um projeto que poderia mudar tudo — mas houve um problema: o animal foi atropelado por um carro em sua primeira missão, ao atravessar a rua

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 06/06/2025 às 13:04
Em 1967, a CIA treinou um gato, implantou um microfone em seu crânio e investiu US$ 20 milhões em um projeto que poderia mudar tudo
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Durante a Guerra Fria, a CIA criou um gato espião com microfone no crânio no projeto secreto Acoustic Kitty. O investimento milionário terminou tragicamente — e virou uma das operações mais bizarras da espionagem.

Durante os anos mais tensos da Guerra Fria, a disputa entre Estados Unidos e União Soviética se intensificava não só em campos de batalha ideológicos e tecnológicos, mas também no universo sombrio da espionagem. Foi nesse contexto que nasceu o Projeto Acoustic Kitty, uma das operações mais excêntricas da CIA, que envolvia transformar um gato doméstico em um agente secreto equipado com dispositivos de escuta ocultos. A ideia parecia saída de um filme de ficção científica: usar um gato espião da CIA para se infiltrar discretamente em locais sensíveis e captar conversas de alto escalão soviéticas. Mas o que poderia ser uma virada na inteligência americana terminou em segundos — atropelado por um táxi.

O que foi o Projeto Acoustic Kitty?

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Projeto Acoustic Kitty foi uma iniciativa ultrassecreta da CIA nos anos 1960 que tinha como objetivo criar um dispositivo de espionagem móvel disfarçado de animal. A inspiração por trás do projeto era simples: gatos passam despercebidos, têm grande mobilidade e poderiam, em teoria, se aproximar de alvos humanos sem levantar suspeitas.

O plano envolvia implantar um microfone miniaturizado no crânio do animal, com fio passando até uma antena disfarçada na cauda. Toda a eletrônica era embutida cirurgicamente dentro do corpo do gato, permitindo que ele transmitisse conversas captadas diretamente para os agentes de inteligência.

Por que usar um gato? A lógica por trás do absurdo

A CIA acreditava que, como os gatos são notoriamente independentes, ágeis e comuns em áreas urbanas, eles seriam perfeitos para realizar escutas em locais sensíveis — como bancos de praça, janelas de edifícios governamentais ou veículos estacionados.

Mas essa decisão ignorou um fator crucial: gatos não são treináveis da mesma forma que cães. Eles têm comportamento imprevisível e são facilmente distraídos. Apesar disso, a agência seguiu com o projeto, acreditando que o condicionamento comportamental resolveria esse problema.

A cirurgia: microfone no crânio e antena na cauda

De acordo com documentos desclassificados da própria CIA, os primeiros testes do Acoustic Kitty começaram com uma intervenção cirúrgica complexa. O microfone foi implantado na base do crânio do gato, junto a um pequeno transmissor no tórax e uma antena fina embutida na cauda do animal.

As cirurgias foram realizadas por veterinários contratados pela CIA e envolveram técnicas experimentais da medicina animal. O sistema precisava ser leve o suficiente para não afetar o movimento do gato e resistente o bastante para operar em ambientes urbanos.

Treinamento do gato espião: tentativa de domar o indomável

Durante meses, o gato foi submetido a sessões intensivas de adestramento. Os agentes da CIA tentavam condicionar o animal a seguir comandos e caminhar para locais específicos, onde se encontrariam os alvos de espionagem.

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Mas o treinamento mostrou-se mais difícil do que o previsto. Gatos são notoriamente desobedientes, e o “recruta” felino frequentemente abandonava as simulações para perseguir insetos, cochilar ou fugir.

Em 1967, após meses de testes e mais de US$ 20 milhões investidos (valores atualizados dariam mais de US$ 180 milhões hoje), a CIA decidiu colocar o projeto em prática. O gato foi solto nas imediações da embaixada soviética em Washington, com o objetivo de captar conversas confidenciais entre diplomatas.

A missão durou menos de cinco minutos.

Ao tentar atravessar a rua para se aproximar dos alvos, o gato foi atropelado por um táxi. Agentes que acompanhavam a ação não conseguiram recuperar nem os equipamentos, e o animal morreu na hora.

Encerramento oficial do projeto: um fracasso caro

Com a morte do animal e o fracasso absoluto da missão, a CIA encerrou o Projeto Acoustic Kitty. Os documentos desclassificados revelam que a agência reconheceu que “o ambiente e as distrações naturais tornavam o uso de animais para espionagem impraticável”.

Apesar disso, algumas fontes indicam que outros testes com animais foram conduzidos nos anos seguintes — mas nenhum com a ousadia (e bizarrice) do gato espião.

Os documentos oficiais sobre o Acoustic Kitty foram liberados pelo governo dos EUA em 2001, sob a Lei de Liberdade de Informação (FOIA). O conteúdo, embora em parte redigido, confirma a existência do projeto, os gastos milionários e o fracasso da missão de estreia.

Um relatório interno descreve o projeto como “um esforço que demonstrou engenhosidade técnica, mas apresentou sérias limitações comportamentais no uso de animais”.

O legado do Projeto Acoustic Kitty

O Acoustic Kitty é frequentemente citado como um exemplo extremo de como a Guerra Fria levou agências de inteligência a explorar ideias cada vez mais absurdas em nome da vantagem estratégica.

O caso também levantou debates éticos sobre o uso de animais em operações militares e científicas, principalmente por envolver procedimentos invasivos e riscos letais sem o consentimento ou proteção do animal.

A CIA admitiu o fracasso?

Sim. Embora sem grande alarde, os documentos internos reconhecem que o projeto não atingiu seus objetivos operacionais e que as distrações do ambiente urbano, somadas ao comportamento imprevisível dos gatos, tornavam o conceito inviável.

Hoje, o Projeto Acoustic Kitty é considerado um estudo de caso em falhas de inteligência — e uma aula sobre como nem tudo que parece inovador na teoria sobrevive à realidade do campo.

O gato espião da CIA, que poderia ser facilmente descartado como fake news ou boato de internet, de fato existiu. E o projeto Acoustic Kitty é um lembrete curioso (e trágico) dos limites da criatividade em nome da espionagem.

Embora pareça absurdo, o caso ilustra bem o clima paranoico da Guerra Fria e os extremos a que as potências estavam dispostas a chegar por uma vantagem estratégica.

O projeto fracassou, o animal morreu, e os US$ 20 milhões se transformaram em um exemplo de como nem toda ideia brilhante funciona fora do laboratório — especialmente quando envolve um gato.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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