Vale anuncia investimentos bilionários em Minas Gerais até 2030, incluindo reativação de mina, tecnologias para descarbonização, mineração circular e expansão global, segundo o CEO Gustavo Pimenta em entrevista exclusiva ao jornal O Tempo.
A mineradora Vale vai aplicar R$ 67 bilhões em Minas Gerais até 2030 para expandir a produção, reforçar a segurança de barragens, investir em novas tecnologias e acelerar a agenda de descarbonização.
A informação foi dada pelo CEO da companhia, Gustavo Pimenta, em entrevista exclusiva ao jornal O Tempo nesta terça-feira (09).
“Minas foi o passado, é o presente e será o futuro da Vale. Tem uma enorme oportunidade de crescimento”, afirmou Pimenta, destacando que o estado poderá voltar a ocupar o posto de maior produtor de minério de ferro da mineradora, superando o Pará.
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Reativação da mina Capanema em Ouro Preto
Um dos projetos já concluídos é a reinauguração da mina Capanema, em Ouro Preto, que estava paralisada desde 2003. Segundo O Tempo, a operação exigiu R$ 5,2 bilhões em investimentos.
“É um projeto de 15 milhões de toneladas que está entrando em operação. Todos os nossos complexos em Minas estão crescendo. No ano passado fizemos 125 milhões de toneladas e temos um plano de crescimento de até 20 milhões de toneladas sobre essa base”, explicou o executivo.
Segurança de barragens após Brumadinho
Pimenta também ressaltou que a empresa está comprometida em transformar a gestão de barragens após a tragédia de Brumadinho.
“Assumimos um compromisso com a sociedade mineira de eliminar as barragens a montante. São 30 no total, e 60% do programa já foi concluído”, disse.
Segundo o jornal mineiro, o CEO comemorou a recente redução do nível de emergência da última estrutura que ainda apresentava risco elevado.
“Hoje a Vale não tem nenhuma barragem no nível mais alto de emergência. Isso mostra o enorme progresso que fizemos nos últimos anos. Estamos com o melhor desempenho de segurança da nossa história.”
Mineração circular e reaproveitamento de rejeitos
Outra frente de investimento é o aproveitamento de rejeitos, considerado essencial para reduzir impactos ambientais.
“Reaproveitar rejeitos é fazer mineração circular. No ano passado, produzimos quase 13 milhões de toneladas a partir disso. Este ano vamos bater 20 milhões, e em 2030 chegaremos a 30 milhões”, afirmou Pimenta ao O Tempo.
De acordo com ele, a tecnologia atual permite recuperar minérios que antes não tinham valor econômico.
“Vemos muita oportunidade de gerar valor a partir de algo que no passado era um passivo. É positivo porque reduz impactos e traz benefícios ambientais e operacionais.”
Caminhões a etanol e agenda de descarbonização
O executivo também explicou as iniciativas da companhia para reduzir emissões.
“Nossa missão é ajudar nossos clientes a descarbonizar. Estamos desenvolvendo produtos como o briquete verde, que já está em testes industriais no mundo e reduz a pegada de carbono do aço”, afirmou.
Sobre o transporte, ele acrescentou: “Temos 172 navios em operação. Estamos testando biocombustíveis e já iniciamos experiências com etanol em caminhões gigantes. O resultado tem sido bom. Agora começamos a testar também em navios.”
Minas Gerais pode retomar liderança
Questionado se Minas Gerais pode retomar a liderança na produção da Vale, Pimenta declarou:
“É um bom combate. O minério daqui é diferente do Pará e temos flexibilidade para atender qualquer demanda de mercado. Minas pode, sim, voltar a ocupar esse posto.”
Segundo ele, o cenário global favorece essa retomada. “Talvez nosso número ideal esteja ao redor de 360 milhões de toneladas por ano. Estamos muito próximos de retomar a posição de maior mineradora de ferro do mundo.”
Índia como aposta estratégica da Vale
A China continuará sendo o principal mercado da Vale, mas a Índia surge como oportunidade estratégica.
“A Índia cresce 12% ao ano na produção de aço. Eles têm minério, mas de baixo teor. O nosso minério se mistura perfeitamente com o deles, criando uma vantagem competitiva”, explicou ao O Tempo.
“Estive lá recentemente e vi muito otimismo. Eles querem desenvolver centros de blendagem conosco. É um mercado que abre para a Vale, mas não para os nossos competidores.”
Diversificação mineral em cobre e níquel
A companhia também mira outros minerais estratégicos.
“Queremos dobrar a nossa produção de cobre. É um metal sem substituto e essencial para a eletrificação. Já no níquel, seguimos líderes no Ocidente, mesmo com os desafios do mercado global”, afirmou.
Segundo ele, o foco da empresa é fortalecer o que já domina. “Hoje nossa prioridade é investir naquilo que conhecemos bem. O cobre e o níquel têm papel central na transição energética.”
Mineração autônoma em Brucutu
Em Minas, a mina de Brucutu é vitrine tecnológica da empresa.
“Ela é 100% autônoma. Caminhões e equipamentos operam sozinhos, até debaixo de neblina. Consome menos combustível, emite menos CO2 e é mais segura”, descreveu.
Pimenta acrescentou que esse modelo deve ser replicado. “A mina autônoma gera outro tipo de trabalho. Agora, as pessoas vão analisar dados e aumentar a eficiência. É a mineração do futuro.”
Preservação ambiental e legado
Ao falar sobre reservas, o CEO reforçou a dimensão da companhia.
“Temos cerca de 12 bilhões de toneladas de reservas no Brasil. Isso garante várias gerações de mineração”, disse.
Ele também destacou o compromisso ambiental. “Cuidamos hoje de mais de 1,1 milhão de hectares. Só na Floresta Nacional de Carajás são 800 mil. É cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Em Minas, a área que preservamos equivale ao dobro de Belo Horizonte”, afirmou ao O Tempo.
Com bilhões em investimentos, expansão internacional e aposta em tecnologias limpas, a Vale projeta um futuro em que pretende equilibrar produção, segurança e preservação.