Usinas de etanol e fornecedores de cana duelam por crédito de carbono já que não há consenso sobre divisão das receitas dos CBios
Usinas de etanol e fornecedores de cana duelam pela divisão das receitas dos créditos de carbono do programa federal RenovaBio, os Créditos de Descarbonização (CBios). Apesar do programa que está em vigor há um ano, obrigar as distribuidoras a comprarem os CBios dos produtores de biocombustíveis, as regras de divisão dessa receita fica a cargo dos agentes privados, que não entram em consenso.
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Os produtores independentes no Centro-Sul, fornecem um terço da cana processada nas indústrias, ou seja, cerca de 200 milhões de toneladas de uma colheita de 600 milhões na última safra (2020/21). No ano passado, as vendas de CBios movimentaram R$ 650 milhões. Cada CBio equivale a 1 tonelada de carbono de emissão evitada com a substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis.
Agricultores ameaçam sair do RenovaBio
Devido o colegiado que arbitra as relações privadas da cadeia, o Consecana, não terem acordo sobre os CBios nas negociações, que começaram em 2019, desde o início do ano as usinas de etanol passaram a propor acordos com os produtores e associações regionais para concluir os pagamentos do ciclo 2020/21, que acabou em 31 de março. Os agricultores não estão satisfeitos e alguns ameaçam sair do RenovaBio.
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Foi proposto pela Unica que a divisão das receitas dos CBios seguisse a mesma proporção de pagamento pela cana, por considerá-los mais um produto vendido pela usina a partir da matéria-prima fornecida, como açúcar e etanol. Por essa lógica, os produtores que tiveram seus dados particulares usados para o cálculo do potencial de emissão de CBios pelas usinas receberiam 60% dos créditos relacionados ao etanol produzido de suas matérias-primas. No caso das usinas de etanol que usaram uma base de dados “padrão” para os produtores para realizar a certificação no RenovaBio, o repasse seria de 50%.
Orplana reivindica que seja pago aos agricultores 100% dos CBios gerados a partir do etanol feito da cana
Porém, a Organização de Associações dos Produtores de Cana do Brasil (Orplana) reivindica que seja pago aos agricultores 100% dos CBios gerados a partir do etanol feito da cana, haja visto que, se as usinas deixarem de processar a cana do fornecedor, a produção de etanol elegível do programa também diminui, o que reduz em igual proporção a capacidade das usinas de emitir CBios.
Pelo RenovaBio, os CBios são emitidos após a comprovação de venda dos lotes de etanol, com base em dois elementos: o volume vendido e a nota de eficiência, que corresponde a quanto o biocombustível evita de emissões ante o fóssil equivalente.
Unica informou ao Valor, em nota, que as negociações agora são individuais, mas defendeu o “trabalho conjunto na busca de consenso”. A entidade, porém, rechaçou a proposta de apropriação integral dos CBios pelos produtores e argumentou que “a redução de emissões promovida pelos biocombustíveis não decorre do cultivo da matéria-prima”, e sim quando esta “é convertida em biocombustível” e substitui o concorrente fóssil.
Raízen do Grupo Shell, quer construir três usinas produtoras de etanol feito com bagaço e palha de cana
Raízen a gigante global produtora de etanol em conjunto com a Shell, pretende construir mais três usinas de etanol celulósico — ou de segunda geração. A boa notícia foi anunciada pelo empresário Rubens Ometto, da Cosan, na última segunda (15/03)
A tecnologia para a produção de etanol celulósico surgiu a partir de uma parceria entre a Shell e a canadense logen, especializada em biotecnologia. Na safra passada (2019/20), a unidade de Piracicaba produziu 226 litros de etanol para cada tonelada de biomassa seca.