CEO reafirma presença no país e aposta em dupla liderança tecnológica enquanto os EUA aplicam 50% de tarifa para produtos brasileiros e selam 15% para a União Europeia; Suíça enfrenta 39%.
A alemã Stihl, um dos maiores nomes globais em ferramentas motorizadas, entrou no segundo semestre sob forte pressão de tarifas e de uma transição tecnológica acelerada rumo às baterias. Mesmo assim, o CEO Michael Traub reforçou que o Brasil seguirá estratégico, apesar do tarifaço de 50% dos EUA sobre importações brasileiras. A fala foi dada em Waiblingen, sede mundial da companhia, às vésperas do centenário da marca em 2026.
Fundada em 1926, a Stihl fatura mais de € 5,3 bilhões e opera em mais de 160 países, com grandes fábricas na Alemanha, Brasil e Estados Unidos. A empresa vem ampliando investimentos em baterias e ajustando sua logística para reduzir o choque de custos provocado por novas barreiras comerciais.
Ao comentar o cenário, Traub foi direto: “Governos mudam a cada quatro anos. Nós estamos aqui há cem”. A frase resume a estratégia de longo prazo que mira continuidade industrial no Brasil e diversificação tecnológica, sem abandonar o motor a combustão onde ele ainda é necessário.
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Tarifaço nos EUA: onde a pressão é mais forte
O pacote de tarifas do governo norte-americano elevou a alíquota para 50% sobre uma ampla cesta de produtos originários do Brasil. O movimento foi formalizado por ordem executiva no fim de julho, após a adoção de uma tarifa recíproca basal e de ajustes por país. Na prática, o choque amplia preços de exportações brasileiras e tende a ser repasado ao consumidor final, como reconhece a própria indústria.
Segundo EXAME, o efeito é “significativo” para a Stihl. A companhia lida com 50% nas remessas feitas do Brasil aos EUA, 39% para produtos fabricados na Suíça e 15% na Europa. Ou seja, o custo relativo do Brasil no acesso ao mercado americano está, hoje, no topo da escala.
Análises independentes apontam que parte das exportações brasileiras foi poupada ou ganhou exceções, mas o impacto agregado continua relevante e exige redesenho de cadeias e de preços. Para o consumidor, tarifas funcionam como um imposto indireto sobre bens importados.
Brasil no centro: São Leopoldo abastece a região e segue prioridade
No Brasil, a Stihl opera há cinco décadas em São Leopoldo (RS). A unidade é vital na produção de cilindros e componentes e, segundo a própria empresa, fornece 90% dos cilindros usados globalmente pelo grupo, abastecendo toda a América Latina. Para Traub, trata-se de um ativo estratégico que não está em revisão. “Tarifas vêm e vão, mas nós ficamos”, disse.
A fábrica gaúcha também funciona como âncora para a distribuição regional. Em um ambiente de tarifas voláteis, manter a capacidade local reduz exposição cambial e fretes, além de preservar prazos de entrega, um diferencial em mercados profissionais como florestal, construção e jardinagem.
No curto prazo, a demanda sente o choque e a companhia admite maior cautela. No médio, a prioridade é preservar emprego qualificado e capacidade industrial no país, mantendo o Brasil como hub de produção e engenharia para a região.
Duas vias tecnológicas: bateria em expansão, combustão onde faz sentido
A Stihl persegue uma “dupla liderança tecnológica”: entregar o melhor motor a gasolina para aplicações pesadas e o melhor sistema a bateria onde a transição for mais rápida. O plano inclui ampliar a produção de ferramentas e packs de bateria no mundo.
Nos EUA, a fábrica de Virginia Beach já fabrica mais de 100 modelos e, segundo Traub, mais de 60% dos componentes vêm de fornecedores locais, o que cria resiliência em meio à guerra de tarifas. Paralelamente, a subsidiária americana investe mais de US$ 60 milhões na expansão de baterias.
Na Europa Oriental, a nova planta de Oradea (Romênia) foi desenhada para baterias e produtos elétricos e tem início operacional previsto para setembro-outubro de 2025, reforçando a capacidade do grupo no segmento que mais cresce.
O mapa das tarifas: 15% para a UE, 39% para a Suíça e 50% para o Brasil
Após negociações com Bruxelas, Washington definiu uma moldura que limita a 15% a tarifa combinada aplicada a bens originários da União Europeia, em substituição a escaladas maiores previstas. Já a Suíça foi enquadrada em 39%, o que levou empresas locais a anunciar repasses e a buscar acordos. O Brasil permanece com 50%, o nível mais alto entre grandes parceiros.
Esse diferencial de alíquotas altera a competitividade relativa entre polos industriais e pode redistribuir encomendas e investimentos. Para mitigar, empresas reavaliam local content, estoques e rotas logísticas, além de pleitear isenções por código tarifário.
E você, o que acha? O Brasil deveria retaliar na mesma intensidade para reequilibrar a balança ou buscar acordos que aliviem o impacto imediato no preço ao consumidor? As tarifas protegem a indústria local ou penalizam quem compra e trabalha com esses equipamentos? Deixe seu comentário.